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quinta-feira 14 de julho de 2016 | Edição do dia

Em resposta à homenagem ao misógino Eduardo Bolsonaro (PSC) feita pela direção do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) localizado na Unicamp, professores da faculdade de Ciências Médicas escreveram uma carta aberta questionando tal reverência.

O homenageado é filho de Jair Bolsonaro conhecido amplamente pelos seus posicionamentos completamente reacionários, machistas, racistas e LGBTfóbicos, que na votação do impeachment homenageou o Coronel Ustra, conhecido torturador marcado principalmente pela perversidade com as mulheres. Eduardo segue o caminho do pai, acompanha seus posicionamentos e o reivindica a todo momento, e na votação do impeachment reivindicou os militares de 64 e a polícia brasileira assassina da população negra. Frente a tudo isso, os professores não poderiam deixar passar batida tal homenagem absurda que realizou o CAISM a um inimigo declarado do direito das mulheres.

O reconhecimento do deputado pelo superintendente do hospital, Luís Otávio Sarian, como pode ser observado AQUI é resultado da indicação de uma emenda parlamentar para a compra de alguns equipamentos básicos para o hospital e é parte principalmente de um sistema de troca de favores políticos por parte da direção do hospital. A carta publicada vai ressaltar isso e acrescenta que essas emendas parlamentares são formas insuficientes de financiamento. Como colocam o dinheiro é do povo brasileiro e os hospitais tem responsabilidade sobre eles, por isso a necessidade de investimento, sem necessidade de agradecimento a ninguém.

Além desse primeiro questionamento, relembram a finalidade do hospital, que como um centro de saúde da mulher que reconhece a necessidade da luta delas contra a violência, por igualdades e direitos não poderia ter em seu quadro de homenagem um declarado inimigo das mulheres. Um hospital voltado para pensar a saúde da mulher não poderia homenagear alguém como Eduardo que concorda com seu pai quando ele coloca que não estupraria a deputada Maria do Rosário por ela “não merecer”, fazendo uma clara apologia à violência sexual. Além de muitas outras posturas misóginas que ele já assumiu, por isso como os docentes colocam: “Não é aceitável que um hospital como o Caism se veja lançado na lama da misoginia, homofobia e do fascismo, no qual a família Bolsonaro se nutre e amplifica”.

Vejam abaixo a carta na integra:

CAISM homenageia misógino

O CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da UNICAMP fez uma homenagem em Brasília, ao deputado Eduardo Bolsonaro. Na fotografia (ao lado) o superintendente do CAISM está ao lado do deputado, entregando um documento de agradecimento em nome do hospital por uma emenda parlamentar que alocou recursos para a instituição. As emendas parlamentares são formas bastante limitadas de financiamento do SUS e merecem nossa crítica. Nenhum serviço do SUS deve emprestar sua legitimidade perante a população para obter favores políticos. O dinheiro das emendas não é dos deputados, é do povo brasileiro e os hospitais precisam de investimento porque têm responsabilidade sobre a população adscrita. Apenas por isto, a fotografia e a homenagem já seriam questionáveis. Se as emendas existem, os deputados podem divulgar que a propuseram sozinhos. Nenhum serviço de saúde precisa se curvar a esta política pequena. Porém o fato é mais grave: o CAISM é um hospital que tem história na luta pela defesa das mulheres e seus direitos, até mesmo antes de alguns deles se tornarem leis. O sucesso do seu trabalho como hospital depende também da mudança nos determinantes sociais do processo saúde-doença das mulheres, o que significa dizer, que depende da luta mulheres contra a violência, por igualdade de salários, por carteira assinada e direitos trabalhistas (mesmo para trabalhadora doméstica). Direitos que a família Bolsonaro não defendeu nas oportunidades que teve no Congresso e que não perde oportunidade de atacar nas declarações públicas que faz! E pior: o homenageado deputado (que se aproveita da fama de seu pai para construir sua carreira política) frequentemente trata com desrespeito no Congresso Nacional as mulheres (e homossexuais) com quem tem divergências. O Homenageado deputado apoiou, por exemplo, o ataque de seu pai, Jair Bolsonaro, quando ele disse que não estupraria a deputada Maria do Rosário, apenas por que ela “não merece”, em flagrante apologia à violência. O homenageado deputado esteve, literalmente e ideologicamente, ao lado do pai quando ele homenageou o torturador Brilhante Ustra, durante seu voto na sessão do impeachment (Brilhante Ustra foi um torturador famoso pela crueldade, notadamente contra mulheres -inclusive grávidas- e de crianças). Não é aceitável que um hospital como o CAISM se veja lançado na lama da misoginia, homofobia e do fascismo, no qual a família Bolsonaro se nutre e amplifica. Finalmente, é lamentável e desrespeitoso que este tipo de homenagem ocorra dentro desta universidade pública, uma vez que algumas das vítimas da Ditadura e da tortura, que o deputado e sua família defendem e louvam, fizeram parte dos quadros da UNICAMP.

Prof. Adail de Almeida Rollo (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Antonio de Azevedo Barros Filho (Departamento de Pediatria – FCM/UNICAMP)
Profa. Ana Maria Galdini Raimundo Oda (Departamento de Psiquiatria – FCM/UNICAMP)
Profa. Daniele Sacardo Nigro (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Clarissa de Rosalmeida Dantas (Departamento de Psiquiatria – FCM/UNICAMP)
Prof. Edson Bueno (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Egberto Ribeiro Turato (Departamento de Psiquiatria – FCM/UNICAMP)
Profa. Eliete Maria Silva (Faculdade de Enfermagem – UNICAMP)
Prof. Fábio Luis Alves (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Flávio Sá (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Gastão Wagner de Sousa Campos (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Gustavo Tenório Cunha (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Herling Gregorio Aguilar Alonzo (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Juan Carlos Aneiros Fernandez (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Juliana Luporini Nascimento (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Karina Diniz Oliveira (Departamento de Psiquiatria – FCM/UNICAMP)
Prof. Luis Fernando Tófoli (Departamento de Psiquiatria – FCM/UNICAMP)
Profa. Luzia Margareth Rago (IFCH-UNICAMP)
Profa. Maria da Graça Garcia Andrade (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Maria de Lurdes Zanolli (Departamento de Pediatria – FCM/UNICAMP)
Profa. Marilisa Berti de Azevedo Barros (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Mário Eduardo Costa Pereira (Departamento de Psiquiatria – FCM/UNICAMP)
Profa. Nair Lumi Yoshino (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Nelson Filice de Barros (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Olga Maria Fernandes de Carvalho (Departamento de Clínica Médica – FCM/UNICAMP)
Prof. Paulo Eduardo Madureira (Departamento de Clínica Médica – FCM/UNICAMP)
Profa. Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Rafael Afonso da Silva (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Rosana Onocko Campos (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Prof. Sérgio Resende Carvalho (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)
Profa. Vera Lucia Salerno (Departamento de Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP)

Link: http://us9.campaign-archive2.com/?u=58187887ba2750d75d70e1b40&id=b5d03223bf&e=74773300e8




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