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FUTEBOL | Há 2 anos do 7 a 1: será Tite o salvador do futebol brasileiro?

No dia 8 de julho de 2014, em pleno Mineirão lotado, a seleção masculina de futebol vivia a pior humilhação da sua história ao ser derrotada pela Alemanha por impressionantes 7 a 1 durante a semi-final da Copa do Mundo. Naquele momento, ficou escancarado aos olhos do mundo todo o fato da nossa seleção já não ser mais nem sombra daqueles times que tantas vezes encantaram o mundo dos apaixonados por futebol. Passados dois anos do triste episódio, enganaram-se feio aqueles que acreditavam que o vexame serviria para dar o tão necessário “chacoalhão” na estrutura do futebol brasileiro. Os mesmos cartolas e empresários corruptos responsáveis por levar nosso futebol à pior crise de sua história continuam ditando os ritmos do jogo. Será que a recente ida do técnico Tite para o comando da seleção pode representar um fio de esperança?

sexta-feira 8 de julho de 2016 | Edição do dia

Tite e Marco Polo Del Nero na CBF

Em todos os esportes, ainda que a estrutura organizativa, financeira e política das confederações, ligas e clubes não determine por completo o desempenho esportivo dos atletas e times, com certeza estabelece as bases sob as quais se desenvolve e exerce uma influência enorme sobre o mesmo. Neste sentido, a explicação para aquela derrota histórica de 2014 começa por aspectos técnicos e táticos de futebol e avança para questões estruturais relacionadas ao funcionamento do mundo do bola em meio ao modelo capitalista de organização da sociedade.

Os 7 a 1 expressaram assim a superioridade de um dos modelos táticos atuais, e muito praticado na Europa, que aposta na compactação, na valorização da posse de bola, nas triangulações, na marcação alta, no posicionamento em linha e na intensidade; contra um ultrapassado modelo “gaúcho” de Felipão, amarrado, com pouca mobilidade, retranqueiro, adepto da ligação direta com o ataque e que valoriza muito mais a motivação exagerada dos jogadores do que a educação e disciplina tática.

Nas últimas duas décadas, o futebol mundial passou por uma espécie de evolução e aprimoramento no que diz respeito a educação tática, modificando significativamente o posicionamento, a função e a movimentação dos jogadores dentro de campo. Hoje em dia, está claro para todos que o grupo de cartolas que desde a década de 1970 dirige a CBF como seu feudo e (des)organiza o futebol brasileiro passou longe de acompanhar essa evolução. Isso não porque sejam pouco profissionais ou por mero descuido, mas pelo simples fato de terem outras prioridades. Para os senhores que controlam o futebol brasileiro a prioridade segue sendo garantir o lucro dos grandes capitalistas que investem pesado no futebol e armar esquemas de corrupção para enriquecimento próprio. Nos últimos anos, o talento individual de gênios como Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho – jogadores daqueles que levam o time nas costas – amenizaram em parte essa crise. Mas agora a diferença se tornou tão grande neste aspecto que não há Neymar que resolva.

Mesmo logo depois da derrota pra Alemanha, quando essa crise tática já era evidente, a CBF insistiu com a volta de Dunga, uma versão piorada de Felipão, para desespero de qualquer pessoa que acompanha minimamente o futebol. O resultado não poderia ser outro, duas eliminações vergonhosas de duas Copa América consecutivas e um amargo sexto lugar nas eliminatórias, classificação que por enquanto tira o Brasil da Copa do Mundo de 2018.

Diante deste cenário de “terra arrasada”, a recente nomeação de Tite para o comando técnico da seleção encheu de esperança muitos torcedores e analistas esportivos. O ex-técnico do Corinthians é justamente um dos principais representantes no país de um modelo tático “moderno”, que se assemelha mais com o que é visto na Europa e que obteve excelentes resultados nos últimos anos, como o título brasileiro de 2015 mesmo com um time desacreditado no início do campeonato.

No entanto, ainda que possamos esperar uma melhora no futebol apresentando pela seleção dentro de campo, e que essa melhora resulte na classificação para a próxima Copa, não nos parece que a ida de Tite para a seleção represente mudanças significativas na podre estrutura do futebol no Brasil. Em primeiro lugar, porque sua escolha é parte de uma manobra da cúpula da CBF, cujo presidente Marco Polo Del Nero não viaja ao exterior com medo de ser preso, para tentar se colar no prestígio de Tite e abafar os inúmeros escândalos de corrupção nos quais estão metidos. Depois, como dissemos no começo do artigo, porque a crise tática que atravessamos é apenas uma das expressões dos enormes problemas em questão.

Além dos conhecidos casos de corrupção, temos a saída precoce de jovens jogadores bons de bola para o exterior; o calendário sobrecarregado; a enorme interferência dos empresários de jogadores; os desmandos das emissoras de televisão e fornecedoras de material esportivo; a concentração de renda nas mãos de poucos clubes; a falta de democracia nestes mesmos clubes (na maioria das vezes controlados por poucas famílias de burgueses); a elitização dos estádios; apenas para citar algumas das expressões da crise maior da qual estamos falando.

O funcionamento do mundo esportivo na economia capitalista acaba concentrando recursos e, portanto, os melhores atletas e profissionais nos países que são grandes potências imperialistas. É por esse caminho que devemos tentar explicar a crise e a perda de hegemonia do futebol brasileiro no cenário mundial. São nos países semi-coloniais ou “periféricos” como o Brasil onde os prejuízos da sede desenfreada por lucro se fazem mais visíveis também no esporte. Vale lembrar, por exemplo, que nossos vizinhos argentinos, com uma das melhores gerações da história e com Messi, um dos melhores jogadores de todos os tempos ao lado de Pelé e Maradona, também passam por uma crise importante no futebol, tendo, neste momento, sua federação de futebol sob intervenção da...FIFA (rs), depois que veio a tona mais um gigantesco escândalo de corrupção.

Talvez por isso que quando comparamos jogos do Campeonato Brasileiro, ou mesmo da tão desejada Copa Libertadores, com os jogos do Barcelona na Liga Espanhola e na Chanpions, ou do Bayer no Alemão, temos a sensação de que estamos vendo jogadores de outro planeta em campo.

O que ainda torna o futebol apaixonante é que mesmo diante de tantas contradições, mesmo diante de tanta previsibilidade gerada pela lógica do “quem paga mais leva”, mesmo assim surgem de tempos em tempos exemplos como o do Leicester na Inglaterra, ou do Audax de Fernando Diniz no Campeonato Paulista, que, misturando espírito coletivo, ousadia, habilidades individuais e inovação tática conseguem derrubar os grandes favoritos.

Mas, para o bem da qualidade e da emoção do futebol, para que possamos assistir grandes jogos nos estádios de nossas cidades e não apenas no canal pago da TV fechada algumas poucas vezes por ano, é urgente que lutemos para livrar também o esporte das amarras e freios que o capitalismo o impõe.




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