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UFABC | Grupo de estudos Marx Voltou da UFABC: A realidade eternamente dinâmica sob as lentes da Dialética

Neste último sábado (27/04) ocorreu o terceiro encontro do grupo de estudos da UFABC, Marx Voltou. Reunindo estudantes de diferentes cursos da UFABC como Engenharia Ambiental, da Informação, Bacharel em Ciências e Humanidades e estudantes da FAPSS São Caetano, Cruzeiro do Sul e Univesp debateu-se o desenvolvimento da filosofia alemã, o pensamento hegeliano e a compreensão materialista histórica sobre a dialética.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

terça-feira 30 de abril de 2019 | Edição do dia

Neste encontro nos centramos em dois textos publicados aqui no próprio Esquerda Diário, um de Juan Del Maso, outro de Leon Trotsky, para nos orientar numa discussão acerca do conceito de dialética. Além da leitura complementar baseada nos debates entre Karl Marx e Proudhon, no livro A miséria da Filosofia.

Partimos do texto de Juan Dal Maso, autor do “Dialética e Marxismo: o jovem Hegel”, que nos introduz a uma contextualização histórica do que foi a filosofia alemã anterior ao pensamento marxista, e suas contribuições para seu desenvolvimento. A genialidade da concepção dialética que insurgia de Hegel foi fruto de sua filosofia buscar aperfeiçoar universalizando o pensamento de Kant, que superava os limites do racionalismo e do empirismo ao mesmo passo que tentava enquadrar o mundo através de suas abstrações metafisicas, criando conceitos que se desconectavam do mundo real. Este movimento se deu combinado a criticar o cristianismo também por entender ser uma religião “positiva” no sentido de algo que é dado ou posto externamente e característica desse homem privado que é um marco do pós-feudalismo, que é justamente essa divisão entre público e privado (cidadão e burguês.)

Em seguida (1797/1800), a concepção dialética em Hegel se encontra com certa “reconciliação” com o cristianismo, já que parte de um princípio, de além de continuar discutindo as contradições da separação do público/privado, começa a reestruturar a noção de positividade, que, já não cabe mais as instituições, visto que elas caducariam por si mesmas se não acompanhassem as mudanças que se estabelecem na realidade.

Juan Del Maso evidencia o processo histórico por trás desta construção do pensamento de Hegel, partindo das reformas de Frederico II da Prussia, que afim de modernizar o Estado evitando o surgimento de um movimento iluminista radializado como o que deu origem a revolução francesa, acaba por consolidar uma sistema educativo e o fomento das ciências e das artes, desenvolvendo amplas camadas da intelectualidade, com tempo livre para pensar, estando entre estes os pensadores Schelling, Hegel e Holderling.

Uma vez recuperado os fundamentos históricos que conduziram a este desenvolvimento do pensamento humano, fizemos a leitura conjunto do texto “ABC da dialética” escrito esse por Leon Trotsky, importante dirigente da Revolução Russa de 1917 e combatente a esquerda da burocratização stalinista no Estado operário russo, a maior obra da classe operária internacional, da qual foi um intransigente defensor sem prestar apoio a burocracia.

A maneira a esclarecer o que seria a dialética, buscando aprofundar seu conceito, por meio de exemplos a escrita do dirigente russo torna a leitura fluída e dinâmica, de fácil compreensão, além disso por ser um texto curto, criou-se uma dinâmica no grupo de irmos aprofundando ponto por ponto de suas colocações.

Centralmente, compreendemos que a dialética trata-se de uma lógica de aperfeiçoamento do pensamento humano na busca de encontrar a verdade na relação entre consciência e natureza. Que sem ignorar o pensamento formal, trata-se de derivá-lo para adaptar nosso pensamento a realidade concreta, isto é, determinada por múltiplas determinações, o que torna cada objeto único, preenchido de uma história anterior a sua aparência. Compreender que todas as coisas se modificam ininterruptamente quanto ao peso, ao tamanho, a cor, etc. Como desenvolve Trotsky, seria como relacionar a dialética à matemática complexa enquanto o pensamento formal está para a matemática elementar.

Rendeu bastantes discussões as considerações de que "as mudanças qualitativas convertem-se em mudanças quantitativas", que foi exemplificada pela água e como através de uma determinada quantidade de calor, ao atingir um ponto crítico, a quantidade de calor se transforma na qualidade da mudança de seu estado físico, que o choque entre o positivo e o negativo, o atrito das moléculas, criam o novo: uma síntese.

Outro debate foi sobre a ideia da "tolerância" que faz que ainda que pesem as diferenças, uma coisa possa ser reconhecida como seu semelhante, mesmo que sob uma analise mais profunda, cada objeto ou corpo seja único, fruto das múltiplas determinações que os criaram. Neste sentido, debatemos a ideia de cidadão e democracia, e de como estes dois conceitos não podem ser "quaisquer cidadão" e "quaisquer democracia", mas justamente são determinadas democracias fruto da relação de força entre as classes e o quanto se permite e quem se permite ser "cidadão" é também um resultado do embate da luta de classes. Portanto, compreender as mudanças profundas realizadas no Brasil pós golpe institucional, se relaciona a encontrar o determinado momento, aonde a quantidade se tornou qualidade, e a democracia se tornou "menos democrática" advindo de uma vitória tática burguesa de buscar avançar sobre os direitos e a vida da classe trabalhadora em defesa de seus lucros exorbitantes. Portanto, como clarifica Trotsky:

O pensamento dialético está para o pensamento vulgar assim como um filme está para uma fotografia imóvel. O filme não rejeita a fotografia imóvel, mas combina uma série de fotografias segundo as leis do movimento. A dialética não exclui o silogismo, mas nos ensina a combiná-lo de modo a aproximá-lo da compreensão de uma realidade eternamente mutável.

Ao fim do grupo de estudos, debatemos os próximos textos e a continuidade de refletir o pensamento filosófico alemão, aprofundando o surgimento do pensamento hegeliano e seus desdobramentos, compreendendo desde as apostas na burguesia revolucionária, até a ruptura decida de Karl Marx, colocando-se como um intelectual da classe operária internacional. Os textos para o próximo grupo de estudo podem ser acessados aqui.

Depois, foi-se debatido a luta dos trabalhadores metroviários de São Paulo contra a privatização e a precarização dos transportes públicos combinado a sua intervenção com coletes vermelhos contra a Reforma da Previdência e de como a direção do Metrô vem buscando reprimir estas iniciativas para evitar aprofundar a crescente simpatia da população com esta luta, e os estudantes presentes tiraram uma foto para demonstrar seu apoio aos trabalhadores, expressando a praxis revolucionária, de utilizar os estudos marxistas para ter uma prática de aliança revolucionária da juventude com a classe trabalhadora.




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