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OPINIÃO | Greve geral histórica, mas e agora, o que fazer? O que dizem as centrais sindicais?

Dia 28 foi um dia histórico e carregado de futuro. Poderemos derrotar um futuro sombrio sem direitos, sem aposentadoria? Ou a partir do 28 se abrirá um futuro que derrotemos os ataques, Temer e os empresários e daí teremos uma situação mais favorável aos trabalhadores e para uma resposta anticapitalista? Cada grevista olha para a jornada histórica de anteontem e se pergunta, o que resultou, como seguir? Como vencer?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 30 de abril de 2017 | Edição do dia

Para contribuir nessa reflexão apresentamos as ideias em 3 artigos conectados: um versando sobre o que analisam os principais analistas da grande mídia, outro sobre o que opinam as centrais sindicais sobre a greve geral e o que fazer, um terceiro sobre a greve geral e a austeridade olhando o Brasil desde um “espelho grego", país que passou por 33 greves gerais em poucos anos, ergueu ao poder uma esquerda que se dizia radical, o Syriza e continuam todas as medidas de austeridade.

A ação de anteontem foi histórica. Se formos pelos números das centrais houve mais de 35 milhões (CUT) ou 40 milhões (Força) de trabalhadores envolvidos. Uma das maiores greves gerais da história do país em termos de adesão. Porém, todos jornalistas com algum trânsito no Congresso e no Planalto afirmam que ela não foi suficiente para derrotar os ataques e Temer. Os trabalhadores sabem disso, daí que toda a reflexão de hoje, depois de uma dose de bala gás lacrimogênio ou de bombardeio midiático contrário, é “que fazer”.

A adesão da greve geral de ontem foi imensa e só não foi mais ativa pois os sindicatos e centrais chamaram os trabalhadores a ficarem em casa e se tanto irem às manifestações de fim de tarde. Mas houve grande adesão. Adesão de furar a pressão patronal e da mídia. Ficar em casa com o patrão cobrando não é feriado, é uma pequena rebelião. Se a burguesia e seus analistas não vem isso, melhor para nós, podemos os surpreender e assustar verdadeiramente.

Mas a greve de ontem e as milhões de “pequenas rebeliões” não somam uma força sozinhas para derrotar nossos inimigos. É preciso de um plano. Qual plano as centrais sindicais já tem traçado?

A Força Sindical nascida da costela da FIESP emitiu comunicado onde chamam Temer a negociar os ataques, nomeadamente, retirar o fim do imposto sindical, e fazer alguma concessão módica na reforma trabalhista e da previdência mas manter sua essência. A nota da Força diz esperar que Temer “ouça as vozes das ruas, afaste sua intransigência e abra negociação sobre os temas em questão.”

Na boca de Paulinho, deputado federal pelo Solidariedade a Central afirma “queremos a abertura de uma negociação coesa e transparente para que possamos avançar de forma democrática, sem decisões unilaterais e qualquer forma de injustiça”.

Estão dispostos a rifar a luta pela derrubada de todas reformas por algum cafezinho e tapinha nas costas com Temer, e claro uma bela bufunfa do imposto sindical a lhe dar calma em uma vida de nunca bater cartão. Para Paulinho a ação histórica de ontem limita-se a um instrumento de pressão para seus interesses parasitários.

A CUT, maior central do país, afirma a necessidade de continuidade da luta. Através de colunistas de fofoca da Folha, como Mônica Bergamo, vazam seus planos de dar continuidade à greve com atos simbólicos e de pressão em Brasília e que os atos de primeiro de maio teriam esse objetivo, organizar caravanas ao Planalto Central.

Sim, depois de parar o país, agora caberia aos trabalhadores virarem lobistas para convencer deputados vendáveis a qualquer golpe institucional ou qualquer carguinho de votar contra Temer. A greve geral é um instrumento a mais em uma lógica onde tudo é centralizado pelo Lula 2018 e aumento da influência da bancada do PT no Congresso. A nota oficial da CUT coloca na boca de seu presidente nacional, Vagner Freitas essa confissão: ““A população apoiou a greve, a população fez greve! Nós ganhamos a opinião na disputa política. Agora tem que ganhar o que? Os votos dos caras congressistas. Quer se reeleger em 2018? Não vote com as reformas de Temer!”, disse Freitas. “Agora o Senado vai ter oportunidade de legislar com a opinião pública””

Como no golpe institucional, agora caberia aos trabalhadores esperarem que o Senado venha em nossa rendição. Se esqueceram do desfecho daquela linha? Aos quatro ventos os sindicalistas da CUT chamavam a ser espertos e seguir a orientação de Lula, de não incendiar o país, e aguardar que no Senado o golpe naufragaria, pois ali “o debate seria mais qualificado”. Sim ali, o PT tem aliados da estirpe de Renan e Collor para barramos os ataques.

A depender da Força e da CUT a ação histórica de ontem encontrará nenhuma continuidade. Teremos, se tanto, algum ato simbólico em Brasília, se a perspectiva for um ato na capital do país deveria ser parte de um plano efetivo para derrubar Temer e todas reformas e "tomar de assalto" o Planalto Central. Não à toa os analistas da burguesia ainda não se desesperaram,, mesmo com a greve geral histórica. Sem superar esse entrave as ações da classe trabalhadora servirão para os privilégios da burocracia sindical ou para organizar a luta em torno do Senado e perder a votação e aí concluir que tudo que podia ser feito, foi feito, agora restaria votar Lula em 2018.

Mas seria esse “nosso teto”? Se ontem a greve envolveu 35 ou 40 milhões de trabalhadores como afirmam as centrais, nosso limite seria o que Temer e Paulinho vierem a negociar, ou como ganhamos mais 4, 10 senadores a votarem contra?

Muito mais é possível. Milhões cruzaram os braços. Em alto mar na Bacia de Campos, nas fábricas, nos metrôs, nos ônibus, e anonimamente alegando de algum jeito a seu chefe que era “impossível ir trabalhar”.

É possível derrubar todos ataques e derrubar Temer, um governo delatado, com 4% de aprovação que se enfrente com a volta da luta operária não parece um inimigo imbatível. Trabalhar pelo Lula 2018 e esfriar a perspectiva de luta mostrada ontem é trabalhar para repetir como farsa a tragédia da Grécia, com seus planos de austeridade ainda vigor mesmo com 33 greve gerais e uma alternativa de esquerda no poder que superou a velha social-democracia mas nunca deu um passo anticapitalista.

Por isso uma primeira lição da greve geral histórica de ontem é que é possível derrotar os inimigos, mas para isso é preciso superar os limites colocados pelos falsos amigos. É preciso triplicar a organização na base, impor aos Paulinhos, Vagner Freitas, a preparação de uma greve geral até a derrubada de Temer e de todas reformas. Para isso é preciso organizar um encontro de delegados de cada local de trabalho para organizar a luta operária. Nas mãos dos Paulinhos e Vagner Freitas morreremos na Praia, faremos como o soldado anônimo de Maratona, guerreiro, combativo e que correu daquela cidade até Atenas para anunciar os feitos heroicos mas para morrer após pronunciar a palavra “vencemos”.




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