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ECONOMIA INTERNACIONAL | Giro histórico no Banco Central norte-americano

Políticas históricas. Os verdadeiros objetivos do FED, os avisos dos economistas. Mudança de tendência com resultado incerto. Consequências na América Latina e na Argentina

Paula BachBuenos Aires

sexta-feira 18 de dezembro de 2015 | 00:00

Depois de uma “construção digna de uma superprodução”, como disse The Economist, a Reserva Federal norte-americana (FED) finalmente aumentou a taxa de juros, depois de 7 anos mantendo-a em torno do zero. O extenso período durante o qual as taxas de juros de curto prazo do Banco Central norte-americano oscilaram entre 0 e 0,25% carece de precedentes históricos.

Combinado com o encerramento em 2014 da compra de ativos financeiros pelo mecanismo denominado “Quantitative Easing” – que somou 4,5 bilhões de títulos ao balanço do FED comparado com a posse de 1 bilhão em 2007, segundo El País – põe fim a um período de dinheiro extraordinariamente barato. Estas medidas monetárias significaram componentes chave mediante os quais os EUA conseguiram enfrentar a Grande Recessão de 2008-2009. O recente aumento da taxa anunciado pela presidenta do FED, Janet Yellen, que manterá uma oscilação entre 0,25 e 0,5% junto com predição de um aumento gradual no futuro, é algo novo. Segundo o Financial Times, os anúncios sugerem que se trata “do ciclo de incremento de taxas mais superficial nos tempos modernos”. Apesar disso, a medida expressa as contradições do medíocre crescimento norte-americano nos últimos anos e junto com o menor vigor da economia chinesa, inaugura um novo cenário na longa crise aberta com a queda do Lehman Brothers.

Motivos para um aumento

Em teoria, uma subida das taxas de juro tem três efeitos principais. Primeiro diminui o gasto – tanto de despesas de consumo e investimento, uma vez que o crédito se torna mais caro. Em segundo lugar, o dólar fortalece porque opera atraindo capital estrangeiro. Em terceiro lugar, os preços dos ativos, incluindo os de ações (The Economist) são reduzidos. Mas qual é o objetivo do FED? O crescimento da economia dos EUA nos últimos anos é em torno de 2%, bem abaixo da média histórica de 3% (Larry Summers), o desemprego caiu qualitativamente – para além das discussões pertinentes sobre sua medição – e se encontra próximo a 5,5%, a inflação, entretanto, é qualitativamente abaixo da meta do FED de 2%, o preço do petróleo continua numa trajetória descendente incentivando claramente pressões deflacionárias. Todos esses fatores, exceto a redução da taxa de desemprego, desaconselham um aumento nas taxas de juros, especialmente quando a economia global acrescenta sinais de desaceleração. As verdadeiras razões que levam à economia americana para aumentar as taxas estão relacionadas principalmente a dois fatores. A primeira é que as taxas de juro baixas, mesmo que permitiram a recuperação da economia, contribuem mais para uma inflação no mercado de ações de que o crescimento vigoroso da economia real. A segunda é que as taxas de juros em um nível perto de zero, impedem recorrer a esse mecanismo de baixar a taxa de juros em caso de necessidade. Se considera que estes dois fatores são as principais razões que levaram à subida. No entanto, Janet Yellen em sua preocupação política destinada a manejar as expectativas (ver o "videoeconomía" da crise global), se dedicou a esclarecer umas mil vezes que "A política monetária permanece acomodatícia e continuará a acompanhar atentamente o que está acontecendo na economia e as tendências de inflação", juntamente com um aumento nas taxas de juros e, em teoria, daria ao FED mais margem de manobra para mudá-la para baixo, se necessário (El País). Contudo, Larry Summers considerava esta semana no Financial Times que o custo econômico de um aumento das taxas poderia superar os benefícios de estabilidade financeira. Ao mesmo tempo, e também do Financial Times, Martin Wolf observou que o FED pode descobrir que a economia dos EUA é mais fraca do que se acreditava, ainda mais com o previsível fortalecimento do dólar. Nesta situação, Wolf prognosticava que o endurecimento das taxas não só seria pequeno, senão também breve. Summers ainda assinala que são muito altas as probabilidades de que uma recessão nos EUA chegue antes que haja espaço suficiente para abaixar novamente as taxas o suficiente para contê-la.

Efeitos sobre a América Latina e a Argentina

É verdade que dada a fraqueza dos aumentos anunciados e a intenção de realizá-los que está sendo apresentado desde 2013, muito de seus efeitos já aconteceram. Ou seja, a valorização do dólar e as consequências sobre os preços das matérias-primas foram gerados nos anúncios de "intenção" até agora. Esses fatores combinados com o "laning soft" chinês, já deixaram vestígios que são expressos mais ou menos de maneira labiríntica particularmente em países como Brasil, Venezuela e Argentina. No entanto e em uma situação que se torna mais crítica do ponto de vista internacional, não se pode descartar a probabilidade de que mesmo um pequeno aumento nas taxas, possa aguçar mais do que proporcionalmente a reversão dos fluxos de capital em direção ao centro e tende a agravar os preços das matérias-primas. Também e indubitavelmente a situação – embora ironicamente se trata do que o FED quer evitar – aumenta a probabilidade de novas quebras financeiras na medida em que piora a situação de cada país endividado em dólar, cujas dívidas aumentam automaticamente. Para além dos ritmos, a tendência foi instalada. É ainda duvidoso que uma reversão na política de aumentos da taxa de juros do FED – se a situação complicar – possa chegar a tempo. O caso da Argentina, onde o governo de direita de Macri e CEOs acaba de lançar a mais profunda desvalorização da moeda desde 2002, mesmo um pequeno aumento das taxas por parte da FED poderia – ao menos como tendência e a longo prazo – reforçar as pressões de desvalorização e agravar as condições de fluxos de capitais.




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