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Gilmar Mendes defende a Lava Jato como caminho para uma "reforma política profunda" no país.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

sexta-feira 30 de setembro de 2016 | Edição do dia

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou na manhã desta sexta-feira, 30, em entrevista à Rádio Estadão, que não é possível manter o atual modelo político vigente no País e que uma reforma é urgente. "Não podemos continuar desse jeito, é preciso uma reforma política mais profunda", disse, argumentando que um dos principais entraves para as mudanças são os próprios congressistas, que chegaram ao parlamento com o atual modelo político.

Não obstante, Mendes afirma que a operação Lava Jato é a ferramenta que pode desencadear as mudanças necessárias neste setor é, isto é, de congressistas. "O grande motivador para mudar (o atual modelo político) é a Lava Jato, tenho expectativa que vamos fazer", afirmou, sem entrar em detalhes em quais seriam essas mudanças. Seriam mudanças à lá Operação Mãos-Limpas, na qual caçam a cabeça de todos para colocar caras novas, um sistema de corrupção de novo tipo? Não parece muito o estilo de Mendes que tem feito de tudo para blindar Aécio e Temer da operação (ao menos por hora).

Na sua avaliação, mais que óbvia, a credibilidade na “política” (a seu modo tucano de entende-la) está em baixa hoje no país, por isso as mudanças são urgentes. Mas é a política dos políticos privilegiados, corruptos e ajustadores, sustentadas por um regime que por muito tempo se baseou na ilusão de que os interesses dos empresários e dos trabalhadores poderiam ser conciliados, é essa política, esse regime que estão com “baixa credibilidade”. Não é uma Lava-Jato até o final que poderá resolver esse impasse.

Difícil – mas não muito – saber até que ponto o ministro do STF está preocupado com a credibilidade da política e com uma reforma política profunda. Quando perguntado sobre as elevadíssimas doações de pessoas físicas às campanhas eleitorais deste ano, Mendes as definiu como algo natural: pessoas ricas que doam elevadas somas. Ele que já havia se oposto ao fim do financiamento empresarial certamente que não veria problemas nos mesmos empresários continuarem usando do seu poder econômico para ter políticos profissionais a serviço dos seus interesses empresariais dominando a política do país.

Resumo da ópera, o ministro mais golpista do STF, Gilmar Mendes, revela mais uma vez que a Lava-Jato pode ser entendida meramente como um mecanismo de combate a corrupção. Mas é também uma ferramenta que os ricos tem se utilizado para limpar a cara desse regime altamente questionado, cuja corrupção é um dos principais pilares que geram descontentamento. Prendem alguns, principalmente os do PT, para trocar um esquema de corrupção por outro. É uma tentativa de preservar o regime político – ao contrário do que Mendes tenta convencer – frente à necessidade que os ricos impõem de mais ataques à classe trabalhadores e à juventude, motivo pelo qual aplicaram um golpe no país.

Se for para discutir a necessidade de uma reforma política profunda, não podemos ter confiança alguma que a Lava-Jato será o seu moto. A única forma que pode colocar os trabalhadores e a juventude como sujeitos dessa mudança, sem confiança nenhuma no judiciário e em nenhum outro setor golpista, é uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana que nos permitirá desvendar a farsa desse sistema político, mas também barrar todos os ataques que esse governo golpista vem impondo, como a Reforma do Ensino Médio, da Previdência e os ataques aos direitos trabalhistas.




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