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ELEIÇÕES ALEMANHA | Ganha a extrema direita e perdem os partidos do governo na Alemanha

O "superdomingo" de eleições regionais alemãs tem sido um terremoto político. A extrema direita estoura no Leste e no Oeste. Os partidos da grande coalizão são os mais prejudicados.

quarta-feira 16 de março de 2016 | 00:00

Foto: EFE/EPA/WOLFGANG KUMM

Os resultados oficiais dos comícios regionais em Sajonia-Anhalt, Renania - Palatinado e Baden-Wurtemberg - com um eleitorado total de 16 milhões de pessoas - demonstram que a instabilidade política que marcou os últimos meses não só se mantém, ainda que se intensifica ainda mais.

As eleições que foram lidas como uma sorte de "referendo" sobre a política migratória do governo golpearam duramente tanto aos democristianos (CDU) como a socialdemocracia (SPD), ambos partidos que integram a "grande coalizão" do governo da Alemanha.

O partido da chancilier Ângela Merkel, a CDU, nem sequer alcança o 30% em seu feudo tradicional Baden-Wurtemberg e perde 12 pontos. O SPD perde 10 pontos e resulta na terceira força com uns 12%. Em Sanjonia-Anhalt, os governantes da CDU se mantiveram primeira força com 30%, porém seu aliado SPD perde 10 pontos e vai para quarta força.

Em dois das três regiões, os dois partidos tradicionais não alcançam o 50%, feito inédito na história da Alemanha pós-guerra. Na Renania-Palatinado embora o SPD a mantenha como primeira força como 36% graças as perdas do CDU que chega a 32% não poderá seguir com sua coalizão de governo com os verdes que perdem 10 pontos chegando a apenas 5%.

O grande ganhador das eleições é o partido xenófobo Alternativa por Alemanha (AFD) que aproveitou o clima racista para se estabelecer como terceira força em toda Alemanha e na Sajonia-Anhalt com o 24% como segunda força. Em Renania-Palatinado alcançou o 12% e em Baden-Wurtemberg o 15%. Longe de ser só um fenômeno eleitoral, o êxito se baseia em uma radicalização social em chave revolucionária. O mesmo sábado, o Alternativa por Alemanha organizou uma marcha em Berlim frente ao lema "Fora Merkel" que reuniu 3.000 pessoas contra os refugiados mostrando mais uma vez seus vínculos com a extrema direita militante.

Este avanço da extrema direita xenófoba sacode o tabuleiro político e dificulta a governabilidade, já que nenhum governo regional poderá seguir da forma como tem sido até agora e tudo dependerá de novas alianças. Enquanto na Renania-Palatinado tudo indica que se concretizará uma "grande coalizão", em Sanjonia-Anhalt, a CDU só poderá seguir governando se forma um governo com a socialdemocracia e os verdes. Em Baden-Wustemberg é possível uma coalizão dos verdes, da socialdemocracia e os liberais da FDP ou uma coalizão entre verdes e a CDI. Tampouco, descarta-se uma "coalizão alemã" (por suas cores preto, vermelho e amarelo) de CDU, SPD e FDP. Se aproximam tempos de uma maior estabilidade política.

Um golpe para Merkel em sua própria casa

Os resultados são um duro golpe para o partido de Merkel, desgastado pelas lutas de fações e críticas ao chefe da chancelier. Uma de suas principais opositoras internas é Júlia Klöckner de Renania-Palatinado que se pronunciou a favor de "cotas diárias" para restringir a entrada de refugiados e um maior fechamento das fronteiras. Sem embargo, não ganhou como era esperado, enquanto que Guido Wolf de Baden-Wutemberg, seguidor de Klöckner, caiu de 39 até 27%. Ao mesmo tempo, o presidente regional Verde Winfried Kretschmann, forte sutento do governo Merkel votando todas as leis antiimigrantes junto com eles no senado, ele conseguiu que seu partido seja a primeira força pela primeira vez nas eleições regionais.

O partido de esquerda reformista Die Linke perdeu através de uma campanha eleitoral focada em se mostrar como alternativa "fiel" e "séria", com referências ao exchancelier neoliberal Helmut Kohl ou o Papa Francisco, com referências que disseram que "não podemos acolher todos", referindo-se aos refugiados encarcerados no acampamento de refugiados em Idomeni na fronteira entre Grécia e Macedônia. Deste modo, não foi nenhuma alternativa ao curso reacionário do governo e do avanço da direita. Por isso, não entrou nos parlamentos na Renania-Palatinado e Baden-Wustemberg. Seu curso socialdemocrata na Sajonia-Anhalt onde aspirava dirigir o novo governo em coalizão com a socialdemocracia e os verdes como já estão fazendo na Thuringia foi sancionado com uma perda de 7 pontos chegando aos 16%. Sua proximidade aos partidos tradicionais os levou ao desastre eleitoral. E o discurso direitista de suas cúpulas favoreceu ao clima reacionário. A AFD aproveitou a maior polarização política que levou a uma maior participação eleitoral e levou a mobilizar os setores descontentes com a política do governo.

A estratégia do reformismo e parte da esquerda radical que fez campanha "para votar conta a direita" fracassou brutalmente. Em Sajonia-Anhalt a participação eleitoral subiu 10 pontos para chegar aos 61% - e AFD ganhou. Estas tendências de extrema direita só se podem enfrentar com uma forte mobilização anti-racista e antiimperialista nos colégios, nas universidades e nas fábricas. A greve estudantil do dia 27 de abril contra o racismo, a guerra, as deportações e a precarização será o primeiro ensaio.




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