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POLÍTICA NACIONAL | Frente às fissuras no governo e acenos do PT ao regime, precisamos de uma saída independente

Atualmente o governo Bolsonaro vive uma crise interna, da qual faz parte a recente reforma ministerial que vimos nessa segunda (29), uma dança das cadeiras entre militares e centrão. Esta reforma levou a mudanças em 6 ministérios do governo, incluindo a queda de Ernesto Araújo e de Azevedo, que foi substituído por Braga Netto, e a substituição do General Ramos, que ocupava o cargo de secretário do governo e passou a ocupar o cargo de ministro da Casa Civil, por Flávia Arruda, deputada do PL e figura importante do centrão, que passa a ter um papel ainda maior enquanto base de apoio do governo. Além dessas mudanças, os comandantes das 3 forças entregaram seus cargos.

quinta-feira 1º de abril de 2021 | Edição do dia

Foto: Marcos Corrêa/PR

Atualmente o governo Bolsonaro vive uma crise interna, da qual faz parte a recente reforma ministerial que vimos nessa segunda (29), uma dança das cadeiras entre militares e centrão. Esta reforma levou a mudanças em 6 ministérios do governo, incluindo a queda de Ernesto Araújo e de Azevedo, que foi substituído por Braga Netto, e a substituição do General Ramos, que ocupava o cargo de secretário do governo e passou a ocupar o cargo de ministro da Casa Civil, por Flávia Arruda, deputada do PL e figura importante do centrão, que passa a ter um papel ainda maior enquanto base de apoio do governo. Além dessas mudanças, os comandantes das 3 forças entregaram seus cargos.

Neste cenário de maiores conflitos internos no regime, os atores disputam entre si um espaço cada vez maior. O centrão se fortaleceu com a reforma ministerial, pois conseguiu alguém para ocupar um ministério chave no governo. Já a alta cúpula dos militares, que há um tempo vêm se preocupando com a imagem do exército, que se esgarçaria junto a imagem de Bolsonaro, uma vez que seu governo é recordista em quantidade de militares em cargos chave, vêm já há um tempo fazendo tentativas de descolamento com bolsonarismo, e em meio ao aumento da rejeição de Bolsonaro com o aumento de mortes, essa tentativa de descolamento aumentou ainda mais. A tendência dos militares agora é de irem cedendo cada vez mais espaço às pressões do centrão.

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Por mais que haja pela primeira vez desde o começo deste governo, uma maior ruptura entre a alta cúpula dos militares, com saída de Azevedo e com um setor bem minoritário de generais procurando uma “3ª via” ao invés de Bolsonaro ou Lula, não é possível afirmar que os militares romperam e se afastaram de Bolsonaro, afinal ainda ocupam posições centrais dentro do governo, estão de acordo com ele no que diz respeito à condução da pandemia, a na defesa do golpe de 64 e legado da ditadura e nas questões econômicas, além de serem parte fundamental do regime do golpe.

Os militares, desde a transição pactuda da ditadura de 64-85, sempre tiveram espaço na vida política nacional, tendo este espaço aumentado ainda mais nos governos do PT, tendo havido várias concessões a eles, como a operação militar no Haiti em 2004 e o aumento de investimento em projetos militares, que fortaleceram este setor. Mesmo com esse fortalecimento, nada impediu que os militares se voltassem contra o PT nos momentos que julgassem corretos, como o apoio ao golpe institucional em 2016 ou a ameaça golpista na véspera da votação pelo habeas corpus de Lula em 2018, que como confirmou o general Villas-boas em livro de entrevistas recente, não foi algo pensado e realizado somente por ele, mas também orquestrado por toda alta cúpula.

Tudo isso foi feito em nome da aplicação de ajustes num ritmo maior do que vinha fazendo o PT. Mesmo com o abandono dos militares em relação ao PT, hoje em dia frente a fissuras e disputas internas no regime, este partido aposta em uma reconciliação com os militares, havendo diversos acenos por parte de Lula em seu discurso pós decisão de Fachin, de que está disposto a conversar com os militares e perdoá-los.

O perdão de Lula inclusive, não é somente direcionado aos militares, mas também a Lava-jato e todo regime golpista, que há menos de 5 anos atrás decidiu dar um golpe depondo Dilma Rousseff, em nome de aumentar o nível de ataques à classe trabalhadora. Bolsonaro é filho ilegítimo desse regime, que teve que acolhê-lo em 2018 frente a possibilidade da reeleição do PT. A obra econômica desse regime, reforma trabalhista, terceirização irrestrita, reforma da previdência, entre outras, continuam intactas, com os trabalhadores sentindo na pele o aumento do desemprego, a piora das condições de vida, a maior precarização do trabalho e o aumento dos preços no mercado.

A aposta que o PT faz é por um lado esperar 2022, acreditando que conseguirão eleger Lula, apostando em uma frente ampla com todos os setores não bolsonaristas, e por outro agitar a política do Impeachment, que não questiona o conjunto da obra econômica do golpe, e colocaria na cadeira presidencial um general tão asqueroso quanto Bolsonaro, que em diversos momentos fez declarações racistas e defende com unhas e dentes o legado da ditadura. Para além de que também é impossível esperar 2022 frente às quase 4 mil mortes diárias, é necessário um plano emergencial para hoje.

Não é possível que nos adaptemos à política do PT e caiamos na armadilha de formar uma frente amplíssima, como diversos setores do PSOL vêm fazendo. É preciso questionar todo o legado do golpe e questionarmos também todo esse regime de conjunto.

Contra o negacionismo de Bolsonaro e a demagogia de governadores como Doria, precisamos de medidas emergenciais de combate a pandemia, como testes massivos, para mapear com precisão os piores locais de pandemia, reconversão industrial para que as fábricas estivessem à serviço de produzir insumos e leitos de UTI, assim também como o confisco de hotéis, com leitos que pudessem garantir o isolamento e recuperação dos contaminados. Além de vacinação em massa e quebra das patentes.

Esses pontos programáticos se ligam a defesa de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que questione não apenas os jogadores, mas também as regras do jogo. Uma ACLS imposta pela luta, batalharia pela anulação de todas as reformas e varreria de vez toda herança nefasta da ditadura, como a atual LSN, cada vez mais usada.

É nas fissuras entre “os de cima” que os trabalhadores podem encontrar seu caminho para emergirem de fato como uma “via”, uma alternativa política própria, organizada, contra todas as alas do regime do golpe institucional: Bolsonaro, militares, STF, governadores e parlamentares. O PT busca seu lugar no interior desse regime, e Lula orienta alianças com a direita (em especial com PSDB) através dos seus governadores, como disse Gleisi Hoffmann. Através das centrais sindicais como a CUT e CTB, que não organiza mobilizações desde a base, fazendo apenas atos meramente simbólicos, como o “lockdown dos trabalhadores” do último 24 de março, que não organizou nenhum tipo de discussão entre os trabalhadores.




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