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INTERNACIONAL | França e Brasil: Dois cenários políticos centrais

A semana que se passou viu a crise política voltar a ser destaque na América Latina. Outro feito chave da semana foi a enorme greve geral de 31 de março na França.

A luta contra a reforma trabalhista e a repressão no país franco, e contra o golpe institucional e os ajustes do PT no Brasil são dois combates de uma mesma luta que tem um caráter internacional.

terça-feira 5 de abril de 2016 | Edição do dia

É a partir dessa perspectiva as intervenções que fazemos com as organizações da rede internacional do La Izquierda Diario, com suas edições em espanhol, português, francês inglês e alemão e que formam a Fração Trotskista (Quarta Internacional). Entre elas, o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores no Brasil e os companheiros da Courant Communiste Revolutionnaire na França, que fazem parte do NPA (Noveuau Parti Anticapitaliste)

Brasil, contra o golpe institucional e os ajustes do PT.

O gigante sul-americano vive momentos históricos, atravessando pela crise econômica e por uma grande crise política que golpeia não apenas o governo como também o regime, e que continua rendendo novos capítulos a cada dia.

A semana que se passou não foi exceção. Começou com o anunciado rompimento do PMDB com o governo. Desta forma, o PT perdeu seu principal aliado. A direita debate entre si diferentes estratégias de golpe institucional para redobrar o ajuste contra o povo trabalhador: A destituição de Dilma e um governo encabeçado pelo Vice-presidente Temer (PMDB), a impugnação judicial da chapa completa (presidente e vice) ou o chamado a novas eleições antecipadas.

Por sua vez, o juiz Moro está tentando implementar uma espécie de "Mani Pulite" (Mãos Limpas) à brasileira para reconfigurar o regime, fortalecendo o poder judiciário e a polícia federal, estratégia que sofreu um revés na quinta passada com o fato de que o STF retirou as investigações contra Lula das mãos de Moro, buscando ele mesmo cumprir o papel de arbitro.

Por outro Lado, o executivo busca avançar com um governo que incorporou Lula, que confere alguma força para estabiliza-lo, comprar novos aliados a partir da divisão de cargos do aparato estatal para evitar o impeachment e continuar com os ajustes.

Centenas de milhares mobilizaram-se no último 31 de março contra o "golpismo institucional", quando completavam 52 anos do golpe militar de 1964. O governo do PT tenta apresentar essas mobilizações como um apoio a sua política.

Porém são cada vez mais numerosos, especialmente entre a juventude, aqueles que se mobillizam contra o golpismo mas criticam também o governo de Dilma e Lula e sua tentativa de descarregar a crise sobre os trabalhadores e o povo. Diante desse cenário, o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) vem lutando contra o impeachment e o ajuste do governo do PT, levando esse chamado as organizações estudantis, primeiramente naquelas onde o MRT tem peso dirigente como o Centro Acadêmico da Letras da USP, o CACH da Unicamp, na UERJ, entre outros, onde assembleias votaram o chamado a luta contra o impeachment e contra os ajustes do governo.

Também foi assim nas assembleias e base de organizações operárias, como no caso do SINTUSP, um dos principais sindicatos combativos do Brasil, onde o MRT faz parte da direção e que votou, na ultima quinta, o chamado a um plano de lutas contra o impeachment e os ajustes e também levar essa posição a CSP-Conlutas, ao mesmo tempo que marchou com essa consigna na mobilização convocada pela central que ocorreu em 1° de abril.

O Esquerda Diário, com uma ano de seu lançamento, conta com quase 2 milhões de acessos (200 mil só no mês de março) e segue consolidando-se como o principal site da esquerda brasileira, desenvolvendo diariamente uma batalha contra a desinformação dos grandes meios de comunicação como O Globo, que estão lado a lado com os golpistas, e também contra a mídia governamental, refletindo as lutas, mobilizações e os principais debates sobre a situação política entre os trabalhadores e a esquerda.

No debate com a esquerda, o MRT vem defendendo a necessidade de uma política independente diante de partidos da esquerda como o PSTU e o PSOL - com suas divisões internas - que sob o chamado de "fora todos" e "eleições gerais", terminam sendo funcionais a política de impeachment e de golpe institucional da direita, abandonando uma política independente de classe em apoio a uma suposta "revolução democrática". Diante desses chamados, o MRT, ao mesmo tempo que luta contra o impeachment e os ajustes, vem sustentando a necessidade de uma assembleia constituinte livre e soberana imposta pela mobilização independente, para atacar a impunidade do sistema político da Lava-Jato na raiz, fazer com que os capitalistas paguem pela crise e enfrentar os problemas estruturais do país.

Em meio a esses combates, essa perspectiva foi discutida no fim de semana de 26/27 de março na Conferência Nacional do MRT, com 62 delegados e mais de 200 companheiros representando a militância de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e do Distrito Federal. As formas para confluir com os setores da juventude que começam a questionar esse sistema no marco da crise foi um dos pontos centrais no debate.

Esse objetivo teve um sucesso importante uma semana depois. Neste sábado, 2 de abril, mais de 400 jovens, do MRT e independentes, universitários, secundaristas, e jovens trabalhadores provenientes de vários estados do país, colocaram de pé a Faísca - Juventude Revolucionária e Anticapitalista, e votaram lutar contra o impeachment e contra os ataques do governo do PT, especialmente na educação, assim como contra as demissões nas fabricas e pelo direito dos negros, das mulheres e LGBTs. Mostrando as possibilidades para que o calor crise política forje uma grande juventude estudantil e trabalhadora em uma perspectiva anticapitalista e revolucionária que desenvolva no calor desses combates.

França, "Tous ensembles" para derrotar a reforma laboral

O governo do Partido Socialista de François Hollande vem descarregando a crise sobre os trabalhadores e a juventude. Utilizando a genuína hostilidade da população diante dos absurdos atentados do Estado Islâmico, redobrou a intervenção imperialista no Oriente Médio e impôs o Estado de Exceção. Atualmente impulsiona um projeto de reforma trabalhista que ataca duramente as condições de trabalho e a organização sindical como nenhum governo direitista se atreveu a fazer.

A intervenção da juventude e dos trabalhadores enfrentando-se com a chamada "Lei Khomri" (reforma trabalhista) abriu uma nova situação. A Corrente Comunista Revolucionária (CCR) da França, parte integrante do Novo Partido Anticapitalista (NPA), vem lutando pela extensão, coordenação e pela continuidade da greve geral até a retirada da lei. A greve geral de 31/03, com mais de um milhão de trabalhadores e jovens nas ruas é a sólida base para esta perspectiva.

Trata-se de uma luta contra o governo que busca dividir, cooptar e reprimir, porém também contra aqueles que afirmam que a luta é para "mudar e melhorar" aspectos da lei, como a burocracia sindical da CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), que tenta dessa forma desviar a mobilização para os plenários parlamentares.

Nas universidades, escolas e empresas em que a CCR intervém, vem impulsionando a coordenação estudantil e operária. Um pequeno exemplo disso foi a reunião de convergência das lutas "Tous ensemble" (todos juntos), com 900 jovens e trabalhadores que se desenrolou em 30/03, o dia antes da greve geral. No centro de Tolbiac da Univesidade de Paris 1, trabalhadores da Goodyear, dos trens, estudantes secundaristas, universitários e intelectuais denunciarão a contra reforma de Hollande, debateram e coordenaram, buscando massificar a luta e como unir o movimento operário e estudantil e dar continuidade ao processo de mobilização e a greve. Foi assim também nas massivas assembleias de Paris VIII, Ciensces Po, Montpellier e numerosas escolas em outras localidades.

Esses combates são fundamentais na perspectiva de desenvolver as Assembleias Gerais de Coordenação e as Inter-profissionais (que relacionam diversos setores do movimento sindical) como "um elemento decisivo para a continuidade da luta", buscando superar a divisão e o controle da burocracia sindical.

Por sua vez, a partir do diário Revolution Permanent, um dos principais sites de referência da esquerda na França, a CCR reflete esses processos e desenvolve uma constante agitação e propaganda diárias para combater a imprensa direitista, ao governo e para fortalecer e massificar a mobilização independente dos jovens e dos trabalhadores.

Isso é inseparável da batalha mais geral para que surja uma alternativa política e com independência de classe. Um passo concreto nessa batalha ocorreu na última quarta, com a apresentação pública de Phillipe Poitou, trabalhador da Ford, como candidato à presidência pelo NPA. A postulação de um candidato próprio pelo NPA foi resultado de uma intensa luta política no interior do partido, onde a "Plataforma A", da qual faz parte a CCR e que reuniu as diferentes sensibilidades e tendências da esquerda no partido, foi a mais votada, sustentando que era "indispensável avançar em uma política plenamente independente das instituições ao redor de um programa anticapitalista, internacionalista e revolucionário". Uma batalha que propõe enfrentar a perspectiva de acordos com a esquerda reformista (Partido Comunista e Frente de Esquerda de Jean-lUC Mélenchon), que vem apoiando a política do governo, e contra as variantes neo-reformistas sob a formula de "governos anti-austeridade" ou "governos de esquerda", que na Grécia terminou com a bancarrota do governo ajustador do Syriza e na Espanha leva a uma nova frustração com a busca de um acordo entre Podemos e PSOE.

A batalha por uma alternativa classista e independente e por um partido revolucionário de combate, forjado no calor das lutas políticas e de classe, demonstra um novo vigor no marco de maiores convulsões sociais e políticas, nesse caso na França e no Brasil. É parte de uma estratégia mais geral da luta pela construção de um partido mundial da revolução socialista, que estamos forjando a partir das organizações com as quais conformamos a Fração Trotskista na América Latina e na Europa.

Tradução: Pedro Rebucci de Melo




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