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NICOLÁS DEL CAÑO NO BRASIL | Folha de S. Paulo entrevista Nicolás Del Caño sobre o peso conquistado pela esquerda argentina

O jornal Folha de S. Paulo entrevistou Nicolás Del Caño, ex-candidato a presidente pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores nas eleições argentinas e dirigente do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), organização irmã do MRT. Del Caño se converteu na principal personalidade da esquerda argentina, estando presente em todas as lutas dos trabalhadores, das mulheres e da juventude, recebendo o mesmo salário de uma professora e doando o restante para as lutas em curso. Esta união entre a atividade parlamentar e a luta de classe dos trabalhadores fez com que Del Caño obtivesse a maior votação da esquerda argentina em eleições executivas desde 1983, com 815 mil votos, 3,3% do total, o dobro do que recebeu Luciana Genro do PSOL nas eleições brasileiras em 2014. Com um programa anticapitalista e socialista, Del Caño representa a quarta força política nacional que é parte do salto dos trabalhadores para a militância política com as ideias revolucionárias.

segunda-feira 7 de dezembro de 2015 | 10:23

por Sylvia Colombo

O jovem Nicolás del Caño, 35, candidato da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, obteve 812 mil votos no primeiro turno (cerca de 3% do total) da eleição presidencial argentina.

Apesar dos insistentes pedidos de Daniel Scioli, candidato da presidente Cristina Kirchner, para que o apoiasse no segundo turno, apelando para as afinidades históricas entre a esquerda e o peronismo, Del Caño não cedeu e pediu que seus eleitores votassem em branco.

Não terá sido a única razão da derrota de Scioli, mas certamente a posição de Del Caño teve influência, uma vez que a diferença entre o primeiro colocado, o opositor Mauricio Macri, e o governista foi de apenas 680 mil votos.

Em São Paulo para participar de evento com lideranças de esquerda locais no Sindicato dos Metroviários, Del Caño conversou com a Folha. Leia, abaixo, trechos da entrevista.

Folha - O que ocorreu nessa eleição?

Nicolás del Caño - O kirchnerismo provocou o estancamento da economia. Deveria ter promovido um ajuste para grandes empresários e setores mais poderosos, mas preferiu transferir o ajuste para os trabalhadores.

No ano passado, a desvalorização promovida por Axel Kicillof [ministro da Economia de Cristina] debilitou ainda mais os salários da população mais humilde. Além disso, este governo também manteve o imposto ao salário e não combateu a informalidade, que hoje na Argentina já atinge 35% da economia.

E tudo isso apesar de Cristina manter seu discurso em favor dos setores mais pobres.

A escolha de Scioli por parte de Cristina foi um equívoco?

Era sabido que um ajuste será necessário com o novo cenário econômico internacional. Como a presidente não o fez antes, precisava vender aos mais ricos a ideia de um ajuste com continuidade. Por isso, para ganhar essa eleição, o kirchnerismo apresentou um candidato que se parecia muito com a opção da direita.

Scioli tinha propostas semelhantes às de Macri, além do mesmo discurso de mão firme com relação à segurança e de militarização no combate ao narcotráfico.

Ambos os candidatos eram o ajuste econômico que será aplicado agora por Macri, diminuindo o poder aquisitivo do salário dos trabalhadores.

Em linhas gerais, pode-se dizer que o kirchnerismo tratou de competir com Macri apresentando um candidato muito parecido com ele. Diante disso, as pessoas preferiram votar no original.

Scioli perdeu por 680 mil votos. Você teve cerca de 800 mil no primeiro turno. Apesar dos pedidos do peronista, você preferiu pedir a seus eleitores que votassem em branco. Acha que foi responsável pela derrota de Scioli?

Pedimos o voto em branco porque ambos os candidatos significariam um ajuste que prejudicará os trabalhadores. Para nós, não era possível o voto útil.

Scioli tentou, no final, afastar-se da ideia do ajuste e mostrar-se como "um trabalhador". Deve ter mencionado a palavra "trabalhadores" na última semana de campanha mais vezes que em toda a sua vida.

Não acreditamos nessas propostas, preferimos ficar sem votar em ninguém.

O que veio fazer em São Paulo?

Este é um momento em que a esquerda da região precisa fazer intercâmbio e trocar experiências. O novo momento econômico internacional, de desaceleração, faz com que alguns governantes promovam um ajuste que vai custar caro a trabalhadores.

Por isso, é hora de uma esquerda mais aferrada aos ideais de esquerda surgir e ocupar espaço.

Fala-se num ocaso dos governos ditos "bolivarianos", A alternativa será essa direita que vem retornando ao poder?

Nossa missão é não deixar que fiquemos nesse binarismo entre governos de esquerda pós-neoliberalismo –como o PT, o kirchnerismo ou o chavismo– e a direita.

Há espaço para construção de novas alianças de esquerda, e vim trazer a experiência da Frente de Esquerda, que manteve uma coerência nessa eleição e representa uma renovação na politização dos trabalhadores.

A crise do peronismo, que sempre arrebatou parte da esquerda, também abre uma brecha para vocês?

Sim, mas é preciso acompanhar o que vai ocorrer com o kirchnerismo e se um líder como Sergio Massa poderá reunificar o peronismo, chamando a centro-esquerda para acompanhar o peronismo mais tradicional. Creio que é um cenário em que uma esquerda classista pode ampliar influência.

Também o fato de o governo não ter maioria no Congresso e de termos representantes ali [quatro deputados nacionais] nos dá esperança de mais debate do que ocorreria num Congresso em que o governo fosse mais homogêneo.




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