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PERSEGUIÇÃO POLÍTICA JBS | "Foi uma demissão ilegal fruto de perseguição politica!", diz trabalhadora da JBS

Entrevistamos a trabalhadora Andréia Pires, demitida ilegalmente da JBS em janeiro de 2015. Ela nos contou como era seu trabalho na fábrica, como eram as condições de trabalho na planta e como foi seu mandato de cipeira, que culminou com sua perseguição política, assédio moral e demissão.

segunda-feira 3 de abril de 2017 | Edição do dia

Os recentes escândalos da Operação Carne Fraca que a imprensa vem noticiando que envolvem a JBS não foram nenhuma surpresa para Andréia. Além de ser uma das maiores multinacionais brasileiras, fruto dos empréstimos do BNDES no governo Lula, a JBS é a primeira da lista em empresas devedoras da Previdência Social, com um debito de 1,8 bilhões de reais. Débito esse que os trabalhadores dessa empresa sentem na pele. Carne podre e falta de pagamento da previdência aos trabalhadores é somente uma parte do currículo dessa multinacional. São milhares as denuncias de demissões ilegais e de acidentes de trabalho contra a JBS no Ministério do Trabalho.

Esquerda Diário: Conte um pouco como era seu trabalho e como eram as condições de trabalho na planta.

Andréia Pires: Comecei a trabalhar em 2012 exercendo a função de ajudante de higienização I pré-operacional, eu lavava as máquinas de carne antes da produção começar pela manhã. Eu trabalhava no período noturno, das 23h às 6h30. As condições de trabalho eram precárias e os equipamentos de segurança infelizmente também. Colocava a vida dos trabalhadores em risco, aumentando as chances de acidentes de trabalho. Nesse período que eu estava lá, um colega meu perdeu três dedos na maquina de frango, outro colega teve o olho machucado quando ácido respingou em seus olhos porque a viseira utilizada não era adequada. Trabalhadores já morreram moídos nas maquinas de carne. É uma tristeza e é revoltante pois isso tudo poderia ser evitado.

ED: Vendo tudo isso você se candidatou a Cipa e foi eleita. Como foi isso?

AP: Sim, isso mesmo. Eu como trabalhadora me preocupava não somente com minha segurança, mas também com a segurança dos meus colegas. Eu fui eleita em setembro de 2013. Como cipeira, eu participava de todas as reuniões e levei sempre os problemas de segurança pra que pudessem ser resolvidos. Deixando sempre claro para a comissão interna de prevenção de acidentes dos riscos que estávamos correndo. Foi aí que a patronal começou a me perseguir...

ED: O que a empresa começou a fazer?

AP: A Cipa é uma comissão importante pro trabalhador e a empresa não respondia ou respondia com muita demora a qualquer reivindicação de segurança que nós trabalhadores fizéssemos. E eu defendia os trablhadores. Então os supervisores começaram a me encurralar o tempo todo querendo me intimidar e me dar advertências injustamente. Me via constantemente assediada moralmente.

ED: E foi organizado um abaixo assinado. Porque? Qual foi a resposta dos trabalhadores?

AP: Fizemos o abaixo-assinado porque a JBS começou a cobrar pelas refeições servidas aos trabalhadores. Um absurdo! Porque a alimentação dentro da fábrica sempre foi um direito garantido. Não era pago o vale refeição pois alegavam que comíamos na planta. E assim era, fazíamos nossa refeição gratuitamente. Quando a empresa passou a cobrar, os trabalhadores ficaram indignados e por isso organizamos um abaixo assinado, legítimo e democrático que teve um amplo apoio dos trabalhadores.

ED: E como a patronal respondeu a isso?

AP: A patronal respondeu com minha demissão. Me demitiram por “justa causa”, que de justa não teve nada. Eu tinha estabilidade por ser da Cipa, não poderia ser demitida. Foi uma demissão ilegal fruto de perseguição politica! Alegaram que eu tinha suspensões e advertências que eu não tinha para assim poderem me demitir. Isso foi em janeiro de 2015.

ED: Como está sendo a campanha pela sua readmissão?

AP: Desde que eu fui demitida, fizemos atos parando a paulista, dei entrevistas para sites, fizemos Twitaços pela minha readmissão, fizemos vários materiais e panfletamos na porta da JBS, buscamos apoios de sindicatos, o Sintusp sempre ajudou muito, tive apoio de trabalhadores da indústria e de estudantes. O apoio que eu tenho recebido é gigantesco.
(Para ver mais sobre a campanha pela readmissão da Andréia entre aqui)

ED: E qual a perspectiva agora?

AP: Bom, dia 05 de abril terei uma nova audiência e espero que justiça seja feita. Mas sei que mesmo que eu consiga ser readmitida, milhões de trabalhadores continuam trabalhando em condições precárias, sem segurança alguma. E para que isso acabe precisamos lutar e nos mobilizar contra os patrões. Hoje isso significa lutarmos contra o governo golpista do Temer, contra as reformas de previdência e também contra a terceirização que acabou de ser aprovada para todas as atividades e que só vai levar a mais insegurança no trabalho e a condições ainda mais precárias para os trabalhadores.

Depoimentos em apoio a Andréia

“Nós da Juventude Faísca nos colocamos ao lado da companheira Andréia, na campanha pela sua readmissão por entendemos como a luta dela é parte da nossa luta também. Andréia foi demitida por defender os direitos dos seus companheiros dentro da fábrica. Foi demitida por que lutava por melhores condições de trabalho. Não só pra ela, mas pra todos. Em um momento que o governo golpista ataca fortemente o direito dos trabalhadores, defender alguém que luta contra a precarização do trabalho se torna ainda mais fundamental. Estamos ao lado de Andréia porque a juventude não quer ter suas vidas tiradas pelas sede de lucro do patrão. Readmissão da Andréia já!”
Odete Cristina, da Juventude Faísca e estudante da USP.

"Venho acompanhando a luta pela readmissão de Andréia, minha companheira de luta no grupo de mulheres Pão e Rosas porque acredito fortemente que o caso de Andréia é uma grande mostra da ditadura patronal nas fábricas que persegue politicamente aqueles que buscam melhores condições de trabalho para o conjunto da classe. A partir do Sintusp estamos apoiando esta luta e exigimos a imediata reintegração de Andreia Pires"
Diana Assunção, do Conselho Diretor de Base do Sintusp e dirigente do MRT.




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