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MORREU FIDEL CASTRO | Fidel Castro e a Revolução Cubana

sábado 26 de novembro de 2016 | Edição do dia

A figura de Fidel Castro atravessa o século XX e XXI e está intimamente ligada à revolução de 1959; à sua sociedade política com Ernesto Che Guevara e à resistência frente ao bloqueio criminoso de mais de 50 anos por parte do imperialismo.

Reproduzimos abaixo uma coluna publicada em 14 de agosto motivada pelo aniversário de 90 anos de nascimento de Fidel Castro.
Os 90 anos de Fidel

Fidel Castro e a Revolução Cubana foram teatro de operações contrarrevolucionárias do imperialismo desde princípios dos 60. O líder cubano sobreviveu a mais de 600 atentados organizados pela CIA. Se bem que faz quase uma década que se retirou do mando do Estado cubano, cedendo sua posição a seu irmão Raúl Castro, Fidel segue sendo reivindicado como um ícone por grande parte da esquerda continental e mundial e atacado como um ditador por seus detratores e inimigos. Há um tempo se especulava sobre seu estado de saúde, contudo em seus 90 anos se encontra lúcido como deixa ver sua carta “O aniversário”, criticando Obama e os crimes impunes do imperialismo: “Considero que lhe faltou estatura ao discurso do Presidente dos Estados Unidos quando visitou o Japão, e lhe faltaram palavras para desculpar-se pela matança de centenas de milhares de pessoas em Hiroshima, apesar de que conhecia os efeitos da bomba. Foi igualmente criminoso o ataque a Nagasaki, cidade que os donos da vida escolheram na sorte. É por isso que temos que martelar sobre a necessidade de preservar a paz, e que nenhuma potência se tome o direito de matar milhões de seres humanos.

A figura de Fidel Castro está intimamente associada à Revolução Cubana de 1959. As primeiras armas de Castro na política foram como dirigente estudantil e militante do Partido Ortodoxo fundado por Eduardo Chibas, cujo lema central contra o sistema político cubano era “vergonha contra dinheiro”. Em 26 de julho de 1953, Fidel encabeça o fracassado ataque ao quartel Moncada com o objetivo de provocar uma insurreição popular contra Fulgencio Batista para reinstaurar a Constituição de 1940. Neste sentido se inscreve na tradição de José Martí e Antonio Guiteras de recorrer à luta armada e os chamados à insurreição popular como forma de ação política.
Em sua defesa pelo assalto ao Moncada, um jovem Castro desafiará seus juízes e proclamará “a história me absolverá”.

Depois de seu exílio no México, em 2 de dezembro de 1956, desembarcará em território cubano a bordo do Granma, recebido pelos bombardeios do Exército de Batista. Junto a Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos iniciará a saga de Sierra Maestra, que a esquerda guerrilheira na América Latina tomou idilicamente como modelo, onde o Exército Rebelde construirá suas bases na luta. A partir dali Fidel exercerá a liderança do Movimento 26 de Julho, que desde a Sierra e as cidades, gestava um movimento de massas de oposição à ditadura.

Em 1 de janeiro de 1959 as forças do Exército Rebelde encabeçadas por Fidel Castro ingressam vitoriosas em Santiago de Cuba e o ditador Fulgencio Batista foge para os EUA dando início à única revolução triunfante na América Latina, que terminou com a expropriação da burguesia e os proprietários de terras. Uma semana depois, em 8 de janeiro, uma greve geral derrotou as manobras da ditadura que buscava tirar a vitória do M26 mediante a criação de uma junta militar. O Exército Rebelde é recebido por grandes multidões em Havana.

Fidel foi um democrata burguês que se viu obrigado a levar adiante um programa socialista. Nos primeiros dias da revolução, Fidel Castro se esforçava para conter a burguesia dentro do governo afirmando que “esta revolução é tão verde como os coqueiros”, negando qualquer intenção socialista. Porém, a revolução havia liquidado o Exército burguês deixando seu lugar para as milícias do Exército Rebelde integradas por peões rurais, operários e camponeses que acompanharão o novo poder. Frente a esta situação a burguesia se assusta e o imperialismo, que em princípio via com bons olhos o movimento dos “barbudos” da Sierra, começa a boicotar o governo revolucionário. Em julho de 1959 Manuel Urrutia, que havia sido designado presidente de Cuba como parte da aliança estabelecida com os partidos burgueses democráticos e o M26 no Pacto de Caracas, expulsa Fidel da chefia do exército. A mobilização operária e camponesa o restituiu em seu cargo, o que obrigou a renúncia de Urrutia. A revolução expulsa a burguesia do poder, que cai nas mãos exclusivas do Exército Rebelde e avança a contragolpe, como definiu Che Guevara, até a expropriação da burguesia e os proprietários de terra. Em janeiro de 1961 os norte-americanos rompem relações oficiais e em abril organizam a invasão dos exilados cubanos (a partir de então gusanos), armados pela CIA, a Baía dos Porcos. As milícias populares derrotam a incursão em poucos dias e se proclama o caráter socialista da revolução.

Frente a estes acontecimentos, Fidel foi um ator excepcional que se adaptou ao processo social para não perder o controle dos acontecimentos. Castro se alçou sobre a onda revolucionária popular encarnando um novo tipo de bonapartismo sui generis, que transforma seu conteúdo social pequeno burguês ao ritmo da quedo do velho Estado burguês semicolonial e da mobilização revolucionária das massas. A Revolução Cubana, sob a liderança de Fidel, dará nascimento à um Estado operário deformado, a mando de uma burocracia. A função política do bonapartismo castrista vai ser dupla. Por um lado sustentar-se no apoio popular frente às ameaças imperialistas e da burguesia contrarrevolucionária no exílio. Por outro, bloquear e impedir o surgimento de instituições de democracia direta (como os sovietes ou conselhos das revoluções Russa e Europeia nos anos 20) que expressem a autodeterminação e o governo direto das massas operárias e camponesas, assim como substituir o livre debate e a liberdade dos partidos e correntes que apoiavam a revolução, pelo regime do partido único. Quando o castrismo aderiu ao socialismo estreitou sua aliança com o estalinismo cubano e o Kremlin, o que implicou em, logo após o refluxo da maré revolucionária, avançar à burocratização asfixiante do regime político. A aliança com Moscou vai condicionar o alcance internacional da Revolução Cubana. Fidel usou sua autoridade para apoiar os tanques soviéticos que esmagaram a Primavera de Praga (1968) ou o golpe de Jaruzelski na Polônia (1981).

A política da burocracia, junto ao criminoso bloqueio norte-americano, manteve Cuba no atraso econômico da monocultura de açúcar.

A revolução de 1959 ensinou que para alcançar a libertação nacional, o fim do latifúndio e a resolução do problema da moradia mediante a reforma urbana é preciso combater as burguesias crioulas, destruir seu aparato repressivo, expulsando-as do poder político e expropriando suas propriedades. Em seu momento esta realidade significou um golpe ideológico tremendo no estalinismo dos PCs latino-americanos que pregavam a revolução por etapas e a via institucional dentro do regime burguês. Portanto, todo o esforço político de Fidel à frente do Estado cubano foi no sentido de negar estas lições chamando a não repetir a experiência cubana, apoiando a conciliação de classes na revolução chilena ou as negociações com o imperialismo e as forças contrarrevolucionárias que terminaram por derrotar a revolução nicaraguense. Nos últimos anos o castrismo confundiu as bandeiras da Revolução Cubana com o nacionalismo burguês encarnado pelo chavismo ou apoiando os governos progressistas da última década na América Latina.

Fidel Castro fez 90 anos apoiando a política restauracionista do capitalismo, impulsionada pela burocracia encabeçada por seu irmão Raúl Castro. Está por se ver ainda se as massas operárias e camponesas defenderão as conquistas de sua revolução ou se o castrismo encerrará seu percurso histórico destruindo o que durante décadas foi uma fonte de inspiração para os lutadores operários e populares da América Latina.




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