sexta-feira 3 de julho de 2015 | 00:05
O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse nesta quinta-feira que a necessidade de financiamento da Grécia entre 2015 e 2018 chega a 50 bilhões de euros, por isso que com o plano apresentado pelos credores internacionais iam ser necessários mais 36 bilhões de euros por parte dos parceiros europeus.
Em uma análise publicada hoje, o FMI considera a dívida da Grécia "insustentável" e assegura que a situação piorou desde a chegada ao governo de Alexis Tsipras, porque os objetivos fiscais foram diminuídos e a aplicação de reformas estruturais adiada.
"Se o programa (de 2012) tivesse sido implementado como se presumia, não teria sido necessário um maior alívio de dívida", assinalou a instituição financeira internacional.
A análise, além disso, reduz as previsões de crescimento econômico para a Grécia este ano de 2,5% para 0% e piora suas perspectivas sobre a dívida que antes tinha situado em uma tendência de baixa dos atuais 175% do Produto Interno Bruto (PIB) para 128% em 2020, e que agora vê em 150% para essa data.
"Mudanças muito significativas nas políticas e na perspectiva desde o início do ano provocaram uma alta substancial das necessidades de financiamento", acrescentou o documento.
Se continuar com os objetivos do programa, apontou, "seria necessário uma quitação de dívida correspondente a 30% do PIB". O relatório do FMI foi divulgado justamente quando a Grécia se prepara para o referendo do próximo domingo convocado pelo Executivo de Tsipras. O porta-voz do governo grego, Gavriil Sakellaridis, afirmou nesta quinta-feira que o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) dá a razão ao Executivo ao considerar que a dívida da Grécia não é sustentável.
"O relatório de FMI de hoje dá completamente a razão ao governo grego com relação à não sustentabilidade da dívida e a sua insistência de que todo acordo com os credores deve incluir sua reestruturação", comentou Sakellaridis.
Sakellaridis considerou que, apesar da insistência do FMI nas políticas de austeridade, o relatório constitui a "admissão do fracasso" dos programas de resgate por parte de um de seus "promotores".
O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, enviou uma mensagem de calma à população nesta quinta-feira ao assegurar que haverá um acordo com os credores depois do referendo do próximo domingo.
"Não se deve transferir aos cidadãos mais alarmismo. Teremos um acordo 48 horas depois do referendo", garantiu Tsipras em entrevista à emissora grega "Antena".
"Se o resultado for ’sim’ teremos um acordo não sustentável. Respeitarei o resultado seja qual for e iniciarei os procedimentos previstos pela Constituição", disse Tsipras, na qual acrescentou que não põe sua "cadeira" na frente "dos interesses da nação".
Uma dívida asfixiante para salvar os bancos
Antes da crise, a divida já alcançava 100% do PIB, chegando a 174% do PIB em 2014. Que ocorreu neste período para que a dívida grega aumentasse tão drasticamente, em meio a uma política de cortes no gasto público?
O que ocorreu foi uma gigantesca transferência de dívida que estava nas mãos de bancos privados (principalmente franceses e alemães) para as mãos de organismos financeiros internacionais (o FMI, o BCE).
Uma operação feita através do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que hoje tem em seu poder 60% da dívida grega, frente a 10% do FMI e 6% do BCE.
A Troika comprou esta dívida das mãos dos bancos, ajudando a que se “salvassem” e se retirassem desta “praça de risco” financeiro (uma vez que a Grécia já não tem fundos para pagar o reembolso).
O negócio dos bancos privados foi redondo, pois tinham comprado esta dívida pública com dinheiro do BCE, a juros muito baixos, e depois a venderam a custos altos.
Em troca do rebaixamento dos juros e da extensão dos vencimentos da dívida pública, a quantidade total da dívida aumentou de forma sideral. Portanto, a origem fraudulenta desta dívida “grega” (que como admite o insuspeito Martin Wolf, colunista do Financial Times, nunca esteve a serviço de minorar as penúrias da população grega) está nos negócios de um grupo de bancos e capitalistas gregos e europeus, que lucraram durante anos com a proteção do Estado às custas dos trabalhadores da Grécia.