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Fizeram pra nós um projeto de vida. Nem nascemos e já sabem o que seríamos: mulheres. A partir dessa premissa de ser mulher já está implícito que devemos gostar de homens. Não só devemos gostar de homens, como devemos saber como se comportar, não beijar ou ter relação com muitos pra poder casar. Não só casar, mas casar e ter filhos.

terça-feira 29 de agosto de 2017 | Edição do dia

Pela lógica da sociedade capitalista e patriarcal nós temos um papel pra cumprir: fazer o trabalho doméstico, cuidar dos filhos, trabalhar em postos de trabalho precarizados, ganhar pouco e amar nossos homens. Amar os homens sem sentir prazer, pois como boas mulheres submissas, o nosso prazer sequer é considerado.

Mas existem mulheres que não querem pra si esses projetos de vida, sonham diferente e sonham alto. Ousam lutar por um mundo em que não sejamos mais uma mercadoria pra servir, somos mais que isso. Há mulheres que ousam sentir prazeres da vida, incluindo prazer no sexo e são ditas putas. Pra aquelas que sentem prazer com outras mulheres, nos resta uma palavra: sapatão.

É tão extenso o leque de ofensas e tão cruel as maneiras como sentimos todos os dias a punição por ser lésbicas.

Na juventude, quando as meninas lésbicas se assumem para seus familiares muitas vezes são recebidas de maneira hostil. Olhadas com olhos de nojo e de vergonha, pelas pessoas que foram seu primeiro laço afetivo e muitas vezes negadas e jogadas para fora de casa.

Na escola o cenário se repete e se intensifica: marginalizadas, humilhadas e perseguidas por outros, que também se constroem nessa sociedade que rechaça as mulheres de maneira geral. Pro mundo, as lésbicas negam sua feminilidade por se atraírem e amarem outras mulheres. A juventude é o período de maior descoberta sexual e dos interesses dos adolescentes, e é justamente esta fase onde a escola se omite, onde a família nega e espera pra que esse tormento passa.

Mas não passa. Quando vão para o mercado de trabalho só possuem duas opções: esconder sua orientação sexual ou lutar pra existir naquele espaço. São muitas as vias pelas quais se manifestam a lesbofobia: fetichizam os casais lésbicos como se fossem um objeto de fantasia e prazer sexual dos homens; se enojam e não encostam, tratam com uma diferença marcante e agressiva as mulheres lésbicas. Se recusam a chamar suas companheiras de “namorada”, inventam diversos pronomes de tratamento pra marcar de maneira enfática que “lésbicas não são casais, não é normal.”

Na rua o medo de agressões físicas é constante. Pra além dos comentários baixos é preciso soltar as mãos, não abraçar, não beijar, não fazer demonstração de afeto. Outra constante para as mulheres lésbicas é o estupro corretivo: nos odeiam por sentir prazer, nos odeiam por negar nossa condição de mulher e por isso violentam nossos corpos.

O cotidiano das mulheres lésbicas, assim como das mulheres bissexuais e mulheres trans é preenchido de medo e de ódio: ódio nosso por um mundo opressor e que explora nossas vidas e nosso trabalho, nos enfiam em trabalhos precarizados, nos impedem de amar nossos corpos como são.

Hoje, dia da Visibilidade Lésbica, nos apropriemos dos termos pejorativos, do nosso direito de liberdade e da nossa força de luta por um novo mundo e gritemos: sou sapatão!

Afeto é um ato revolucionário!




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