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REORGANIZAÇÃO ESCOLAR | Estudantes do Centro Oeste vão até a Diretoria de Ensino cobrar explicações

Supervisores da diretoria de ensino do Centro Oeste receberam cerca de 50 estudantes que exigiam respostas sobre a “desorganização” escolar.

Flávia ToledoSão Paulo

sábado 7 de novembro de 2015 | 00:00

Em ato que saiu do Largo da Batata e foi até a Diretoria de Ensino do Centro Oeste, na Av Heitor Penteado, cerca de 50 estudantes protestaram contra o fechamento das escolas e a reorganização. Ocupando as ruas ao longo da tarde, os estudantes das escolas Fernão Dias, Ana Rosa, Godofredo e Andronico denunciavam à população o real projeto de Alckmin: precarizar cada vez mais a rede estadual de ensino.

Depois de passar em frente a escolas da região, o ato seguiu em direção à Diretoria de Ensino. De acordo com Herman em reunião com os estudantes logo no primeiro grande ato contra a reorganização, são as Diretorias de Ensino e as diretorias escolares as responsáveis por aplicar o projeto na comunidade. Os estudantes, então, foram buscar na Diretoria as respostas às suas principais questões.

ESTUDANTES QUESTIONAM A DIRETORIA DE ENSINO

Recebidos pelo Supervisor de Ensino, Alex, e pela Diretora do Núcleo Pedagógico, Jane Adami da Silva, os estudantes passaram cerca de 1 hora questionando a Diretoria dos motivos para a reorganização.

Aplicando o discurso do governo, ambos reafirmaram a suposta melhoria do ensino público com a “disponibilização” (o novo eufemismo para “fechamento”) de escolas, fechamento de salas e separação de ciclos por escola. Se utilizando de “estudos técnicos” cuja origem desconhecemos, apresentaram aos estudantes argumentos que vão na completa contramão da experiência de todos eles na rede pública.

Segundo os supervisores, não existe superlotação nas salas de aula da rede estadual. Considerando as turmas com 60, 70, às vezes 90 alunos (como colocou uma estudante a respeito da sua própria sala no EJA) como algo “normal”, uma vez que, segundo eles, não são todos alunos frequentes, apresentaram o argumento de que excesso de estudantes por sala de aula não é, necessariamente, prejudicial ao ensino.

Também disseram que 40 estudantes por sala de ensino médio, além de aceitável, é algo previsto por lei e que, portanto, não adiantava reclamar. Também segundo os supervisores, a reorganização permite que a educação não onere o Estado, aglutinando salas e fazendo com que haja cada vez menos aparelhos educacionais se ocupando da mesma quantidade de alunos.

Mas os argumentos apresentados em nada conferiam com a experiência cotidiana dos estudantes. Pra cada discurso pronto, um dado da realidade dos estudantes que estavam ali jogava por terra as desculpas do governo. Se existem estudos que “comprovam” que o número de alunos por sala não interfere, esses estudiosos deveriam ir às escolas onde o professor não consegue ser visto e ouvido por todos, não consegue apoiar os alunos individualmente, onde não há livros didáticos para todos…

Quando questionados a respeito do salário dos professores e a demissão de 20mil da categoria O, os supervisores sugeriram que seria melhor para os alunos que a duzentena (o ano letivo que o professor temporária não pode trabalhar) acontecesse, porque é preciso “substituir” (não efetivar, substituir) todos os temporários por efetivos para garantir melhores profissionais – como se os professores categoria O fossem menos capacitados do que os atuais efetivos.

A qualidade das escolas também foi questionada pelos estudantes, que foram além e questionaram a própria existência do vestibular. Apresentando um programa antiprivatista para a educação, com trabalhadores bem pagos, efetivos, condições de ensino qualificadas, como salas com número adequado de estudantes, menos grades nas escolas, material didático para todos, laboratórios, etc, os estudantes foram ironizados durante boa parte da conversa.

Quando uma estudante colocou que estava adiando o sonho de entrar em uma faculdade de Medicina por pelo menos um ano porque não pôde pagar a taxa de inscrição do vestibular, questionando o motivo de o vestibular existir e a dificuldade que é conseguir furar esse filtro social vindo da rede estadual, obteve a resposta de que “não é difícil entrar em universidades públicas vindo de escolas públicas porque 50% é esforço individual”, reforçando um discurso meritocrático que ignora o descaso com a educação básica por parte do governo.

APESAR DOS DISCURSOS VAZIOS, MUITA SEDE DE LUTA DOS ESTUDANTES

Ao sair da Diretoria de Ensino, a sensação era unânime: o projeto do governo estadual em nada pretende avançar na qualidade da educação pública. Pelo contrário: é mais uma medida para cortar gastos às custas dos trabalhadores e da juventude pobre, assim como faz o governo federal, para que a crise econômica não pese no bolso dos poderosos.

Respostas como essa fortalecem a correta percepção de que não é possível confiar nem nos governos, nem nos burocratas que aplicam os ajustes ou fazem de tudo para não se contrapor a eles. Só com a luta dos estudantes, professores e pais será possível barrar o fechamento de escolas e defender uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.




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