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UNESP | Estudantes da UNESP Araraquara chamam debate sobre a crise na educação e o papel das entidades estudantis

Diversos coletivos chamam debate sobre crise no país, em particular na educação, e o papel que a atual gestão do CAFF (Centro Acadêmico de Ciências Sociais), a chapa Dialética, vem cumprindo na desorganização dos estudantes, não fomentando espaços de debate e articulação.

quarta-feira 4 de novembro de 2015 | 13:17

O petismo, que nos últimos dez anos garantiu sua estabilidade na juventude através da expansão precária do ensino superior, com programas como o FIES, PROUNI e REUNI, está questionado em seus pilares: frente a crise no FIES, os cortes de 13 bilhões na educação, e sua expressão em algum nível de greve nas 48 das 63 Universidade Federais ocorridas nesse ano. A soma de crise política nacional, “ajustes” do governo Dilma e governos estaduais e demissões nas indústrias, com crise nas Universidades, faz das lutas dos estudantes, desde os problemas de moradia, currículos, a estrutura física dos prédios, um questionamento a todo o regime do PT. As greves no Rio de Janeiro e os atos espontâneos nas Universidades privadas são anúncios de uma juventude que reconhece o "fim de ciclo petista" nas universidades de todo o país, mas também uma juventude que quer tratar dos grandes temas nacionais, como a luta contra a PL 4330, a terceirização, redução da maioridade penal, encarceramento da juventude e diversos retrocessos aos direitos das mulheres e dos LGBTTs.

Uma crise de tamanha proporção só vai conseguir ser respondida se as entidades estudantis se colocarem a altura de disputar a política da sociedade desde as Universidades, inclusive se ligando às lutas em curso que os trabalhadores vem travando, com particular importância na luta dos professores da rede e estudantes secundaristas contra a reorganização do ensino, que propõe o fechamento de mais de 500 escolas no Estado.

Calar-se sobre a situação de milhares de estudantes que sofrem os cortes, calar-se em denunciar os governos Lula e Dilma que mais aumentaram o trabalho terceirizado (de 4 milhões para 12,7 milhões), que é a cara mais cruel da precarização dentro das universidades, calar-se frente ao PT que apoiou o aumento das penas para os jovens de 16 a 18 anos, calar-se frente a luta em curso dos trabalhadores só tem um sentido: a blindagem do governo.

A gestão atual do CAFF se esquivou desse importante debate nacional sobre educação dizendo que não é da “esfera” de atuação de um C.A. as questões estaduais e nacionais (!), como se a crise na educação não fosse parte de um conjunto de medidas pra despejar a crise sobre os estudantes e trabalhadores. Como se a crise não tivesse implicação direta nas nossas vidas, inclusive na universidade, com problemas que vão desde o desemprego, passam pelos cortes na educação e vão até a política de creches, por exemplo, insuficiente no Governo Dilma, especialmente num contexto de crise, o que implica “bastante coisa” para uma mãe estudante.

A importância das Assembleias e Espaços Estudantis

Os estudantes e principalmente os Centros Acadêmicos tem o papel necessário de combater esse conjunto de medidas que visam precarizar o ensino e transformar a universidade num espaço de produção de conhecimento para as empresas, como escancara o Plano de Desenvolvimento Institucional da UNESP, a exemplo no trecho: “O mercado cria necessidades próprias que não coincidem exatamente com a autonomia desejada nos processos de pesquisa. Como conciliar a autonomia universitária de poder decidir o que e como pesquisar com as pressões utilitaristas do mercado ou da sociedade que, em suma, é quem financia uma universidade pública? Deve a universidade apoiar as empresas para torná-las mais competitivas, contribuindo, assim, com o crescimento do país?”.

Lutemos contra os ataques à educação, fornecendo argumentos a que os estudantes confiem em suas próprias forças, sem ilusão de que a universidade em crise e com uma estrutura de poder com apenas 15% de voz para os estudantes pode responder as nossas demandas. E, sim, a organização independente dos estudantes com espaços para discutir e deliberar (assembleias, rodas de conversa e mesas e debates construídos democraticamente com os estudantes). Dessa forma, o movimento estudantil pode gerar um acumulo próprio de conhecimentos, debates e experiências e disputar, de fato, a serviço de quem vai ser produzido o conhecimento da universidade. A serviço das mulheres, dos negros, dos trabalhadores, dos pobres e da juventude ou a serviço do lucro e das empresas?

A Chapa Dialética se eximiu de construir os espaços do movimento, não construindo durante o ano todo nenhuma assembleia de curso dos estudantes de Ciências Sociais (!) e construindo uma Semana de Sociais, distante da participação dos estudantes e com um conteúdo ligado a defesa do Governo Federal, funcionando como uma verdadeira barreira na organização dos estudantes.

As organizações políticas do campus e os estudantes independentes, inclusive, precisam avançar e discutir as distintas formas de se organizar as entidades estudantis para torná-las cada vez mais democráticas e combativas, verdadeiros instrumentos dos estudantes na luta por educação.

Contra o trote, festas opressoras e os ataques aos direitos das mulheres, negros e LGBTTs

A política da atual gestão do CAFF de não construir espaços dos estudantes evita que os estudantes se organizem para combater as expressões “mais imediatas” das opressões (denunciando agressões, dando apoio para as vitimas e expondo agressores).

Devemos combater a lógica do trote e as festas opressoras como a “Miss-Bicho”, “Gay-Sapatão” e o InterUnesp, que naturaliza relações de submissão e opressão, abrindo caminho para assédios, agressão e estupros recorrentes na Unesp, em particular no campus de Araraquara. A Universidade trata esses casos de forma isolada, eximindo-se da responsabilidade na constituição de espaços de debate e combate as opressões, ao mesmo que apoia as festas e os trotes e mantém, por exemplo, trabalho terceirizados na universidade, que tem rosto de mulher negra e que retira direitos e precariza suas condições de trabalho.

Ao mesmo tempo, essa política do CAFF também está a serviço de impedir que os estudantes façam um questionamento mais profundo sobre o papel dos governos, inclusive o do PT, aos direitos dos LGBTTs e das mulheres, como podemos ver, por exemplo, na recente aprovação da PL 5069 que é um grande ataque ao direito das mulheres e que levou milhares as ruas nas últimas semanas nas grandes capitais do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, à luta pelo direito ao aborto.

Eduardo Cunha é um feroz inimigo das mulheres. Mas não podemos poupar o governo do PT em relação a esta situação, como vem fazendo a maioria das organizações, inclusive da esquerda. Dilma, Lula e o governo do PT estão há 12 anos no poder e mantiveram o aborto ilegal, permitindo a morte de milhares de mulheres. Esta denúncia deve estar em todos os lugares. O PL é de Eduardo Cunha, mas também do PT e de vários partidos burgueses que apoiam projetos de lei machistas, homofóbicos, transfóbicos. Estão todos eles contra os direitos das mulheres. Precisamos de uma mobilização independente nos locais de trabalho e estudo pra lutar contra o PL e arrancar nossos direitos.

Por isso, nos da Juventude às Ruas, chamamos todos os estudantes da UNESP Araraquara, em particular os de Ciências Sociais, a comparecerem no debate “Centro Acadêmico pra quê ?” organizado por nós, pela UJC, pelo Coletivo Canudos, RUA e Domínio Público, para somarmos ideias e debatermos nossas perspectivas da importância e de como construir o Centro Acadêmico que queremos. O debate será dia 5 de novembro Às 16h no Vão dos CAs da Unesp Araraquara.




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