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AMÉRICA CENTRAL | Estamos diante da “primavera” da América Central?

Uma onda de protestos coloca na ordem do dia que a América Central viva sua “primavera”.

Sergio MoissenDirigente do MTS e professor da UNAM

sexta-feira 19 de junho de 2015 | 00:00

Os protestos começaram na Guatemala. Em abril, uma maré de manifestantes denunciaram graves casos de corrupção do governo de Otto Pérez Molina. Desde então, neste país, milhares de pessoas saem todos os sábados para exigir a queda do governo. Os protestos se estenderam a Honduras com as marchas das “tochas”, desde meados de maio. Em junho, milhares de pessoas, em especial jovens, tomaram Tegucigalpa para exigir a renúncia de Juan Orlando Hernandez.

Os protestos se estenderam à Nicarágua. Os motores da mobilização contra o governo de Daniel Ortega são graças ao investimento de capital chinês no canal interoceânico que destruirá a flora e fauna da região. No domingo 14 de junho, marcharam em Juigalpa, na zona central da Nicarágua, contra o projeto interoceânico que a concessionária chinesa HKND Group leva adiante.

Um fenômeno profundo, é possivelmente uma primavera

De forma similar ao Passe livre no Brasil, ao movimento Occupy Wall Street nos Estados Unidos, ao 15M no Estado Espanhol e, em certo sentido, ao YOSOY132 e ao movimento Anti Peña Nieto no México em 2012, os movimentos de Honduras e Guatemala surgiram de forma espontânea, de composição pluriclassista e com forte participação juvenil. Ainda que não haja nenhuma participação independente do proletariado, o processo é profundo.

Os manifestantes chamam-se a si mesmos de “os indignados”. O processo de mobilização social, iniciado em redes sociais, dificilmente é só um movimento “virtual”. É profundo e já colocou os governos de Otto Pérez Molina e de Juan Orlando Hernandez contra a parede.

O movimento de protesto na Guatemala colocou em crise o governo e o obrigou a modificar seu gabinete, chegando a mobilizar cerca de 60 mil pessoas a cada sábado. O regime de Otto Pérez e os partidos do regime pós-ditadura estão discutindo a convocatória de novas eleições em setembro e o imperialismo estadunidense apoia o chamado esperando “descomprimir” o enorme descontentamento social.

Em Honduras, as marchas das “tochas” reuniram dezenas de milhares de pessoas. A convocatória sob o lema #OposiçãoIndignada contra a corrupção e pelo desfalque de 200 milhões de dólares do Instituto Hondurenho de Previdência Social, agruparam milhares pois a fraude foi escondida por todos os partidos tradicionais do país.

Apesar da clara ingerência estadunidense em Honduras, diante do golpe de 2009, as bandeiras queimadas dos Estados Unidos em Tegucigalpa, no marco da marcha das “tochas” foram algumas centenas como noticiou um jornal local: “A queima da bandeira dos Estados Unidos da América, frente a embaixada estadunidense em Tegucigalpa foi de uma minoria e o conjunto do movimento pede a intervenção da ONU na criação de uma comissão contra a impunidade”.
É possível vencer: uma política para triunfar

Os Estados Unidos estão preocupados com os enormes movimentos de protesto. Naturalmente uma queda de Otto Pérez ou de Juan Orlando Hernandez motivaria o questionamento dos laços que subordinam Guatemala e Honduras à política dos imperialistas que convertem a América Central num “quintal traseiro” dos imperialistas.

É por isto que a Organização dos Estados Americanos (OEA), organização integrada pelos governos da América Latina subordinada aos Estados Unidos, considera que a situação na Guatemala e em Honduras é de maior magnitude do que a que vivem Chile, Brasil e México.

Como assinalou Luis Almagro da OEA: “É muito importante que a Guatemala se mantenha no marco constitucional até as eleições de setembro e que nada interrompa a democracia neste país. É uma crise grave, temos visto semanas de protestos”, disse o funcionário estadunidense.

Inclusive Rigoberta Menchi, que ficou tristemente célebre no México por seu chamado a apoiar as últimas eleições intermediárias e que acusou os familiares dos 43(estudantes desaparecidos), por chamarem a repudiar os comícios, considera que a renúncia de Otto Pérez Molina é “inevitável” diante da retirada da imunidade jurídica do, hoje ainda, presidente. Para os EUA, é chave que se realizem as eleições.

No caso da Guatemala é chave para o movimento passar para a ofensiva e convocar uma greve geral, convocando as principais centrais sindicais a derrubar o cambaleante governo de Otto Pérez. É sintomático que a OEA esteja insistindo na convocatória das eleições: é uma demonstração de que este governo corrupto é insustentável.

Para ser possível uma “primavera” que derrube ao regime do Partido Nacional, tudo depende da participação da classe operária. É chave tomar o exemplo dos mineiros de Gafsa na Tunísia, ou os trabalhadores têxteis do Canal de Suez no Egito. Como temos defendido em outros artigos, é fundamental a mobilização independente dos setores populares. Os sindicatos com uma greve geral podem impor uma verdadeira Assembleia Constituinte Livre e Soberana na qual possam ser discutidos os problemas mais urgentes da nação oprimida.

Em Honduras o movimento tem refletido sobre a intervenção da ONU para instalar uma comissão internacional contra a impunidade (CICIH). Este é um grave erro pois a ONU é responsável pelo saque dos povos da América Latina sob o apoio dos imperialistas. É justamente um erro político grave, na medida em que se tem demonstrado que as missões de “Paz” da ONU são as que dirigem redes de tráfico e de prostituição.

No Haiti os “corpos de paz” liderados pela ONU, costumam pagar por sexo com dinheiro, vestidos, joias, telefones móveis e outros artigos. O que o povo de Honduras pode esperar de uma Comissão Contra a Impunidade organizada pelos ladrões imperialistas da ONU?

Em Honduras se coloca na ordem do dia a necessidade de que o movimento retome uma perspectiva anti-imperialista e independente. As manifestações das “tochas” tem um forte potencial sempre quando denunciam o saque imperialista que se desatou com mais força após o golpe militar de 2009 contra Manuel Zelaya.

É chave que os trabalhadores imponham uma saída independente de todos os partidos do regime. Como argumentamos em outros artigos, a perspectiva é formular horizontes superiores à luta contra a corrupção na qual também estejam submetidos os partidos opositores de Juan Orlando.

A queda do regime político corrupto de Juan Orlando pode ser conseguida se os trabalhadores organizados desde as bases, de forma democrática, se coloquem à frente das marchas das “tochas” e imponham com a mobilização e a greve geral uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que discuta livremente as demandas populares e como resolvê-las, rechaçando qualquer condicionamento ou restrição por parte dos representantes da classe dominante.




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