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ENTREVISTA | Estamos contra o impeachment e as manobras e arbitrariedades judiciais

O Esquerda Diário entrevistrou Diana Assunção, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP), e dirigente do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) sobre a liminar que impediu a posse de Lula como ministro no governo Dilma.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quinta-feira 17 de março de 2016 | 19:05

Esquerda Diário: O juiz que emitiu a liminar que impediu a posse de Lula reconheceu ter participado das manifestações pelo impeachment da Dilma no domingo e na de ontem também. Qual é a posição do MRT sobre a crise em curso?

Diana Assunção: “Nós do MRT defendemos que seja punida e investigada toda corrupção, e não somente dos petistas como quer a Lava Jato, lutamos na primeira fileira contra o brutal ajuste de Dilma e do PT, porém nos opomos a que este governo caia pela decisão de um poder que ninguém elegeu, como é o caso do Poder Judiciário, ou por um parlamento dominado pelos também corruptos do PMDB e do PSDB. O PT, ao assumir para si os métodos desta democracia dos subornos para governar e impedir que os sindicatos lutem contra os ajustes e a impunidade abre o caminho para que a direita lave sua própria cara com seu falso discurso anti-corrupção e se fortaleça para impor ataques ainda mais duros do que aqueles que Dilma já está fazendo. O poder judiciário está atuando para favorecer um setor capitalista contra outros e conseguir maior legitimidade para implementar novos ataques.

Nosso partido, que é uma organização socialista revolucionária, que está contra o sistema capitalista e a inevitável corrupção que este sistema baseado no lucro implica, nos opomos a que o governo Dilma seja derrubado por manobras e arbitrariedades jurídicas que buscam desatar a mobilização de setores de massas da classe média acomodada para tentar encurtar os mandatos que não lhe asseguram “governabilidade” para aplicar sua políticas ajustadora.

Esquerda Diário: E que alternativa vocês propõem?

Diana Assunção:Nós lutamos por uma Assembleia Constituinte que varra este regime político baseado nos ataques contra o povo trabalhador. Lutamos por uma Constituinte Livre e Soberana onde defenderemos que sejam adotadas medidas para que a crise seja paga pelos capitalistas, e onde também lutaremos por medidas democrático-radicais elementares como a revogabilidade dos mandatos pelos eleitores a cada momento que um governo entre em crise e por perder apoio dos que o votaram. Nos opomos à derrubada deste governo por camarilhas corruptas de parlamentares e da justiça como é o caso agora. Lutaremos pela eleição direta, por voto popular de juízes e promotores e não, como é hoje, que sejam definidos pelos próprios donos do poder. O júri popular, uma instituição que existe em nosso país para crimes dolosos contra a vida deveria ser estendido também para os crimes de corrupção. E lutaremos também para que os salários dos políticos e todos altos funcionários públicos sejam iguais a de um operário qualificado ou de uma professora e pelo controle operário dos serviços públicos, para acabar os privilégios que existem hoje. Para nós, somente assim será possível atacar o problema da corrupção pela raiz.

O governo de Lula e da Dilma está longe de defender os interesses populares. Pelo contrario, está atacando os trabalhadores. Mas isto não é suficiente para patronais escravocratas como a FIESP e os bancos que pedem a renuncia de Dilma. Buscam se apoiar na vitória do candidato de direita Mauricio Macri na Argentina e da oposição de direita nas eleições parlamentares da Venezuela para forçar uma situação mais a direita também em nosso país. Nós sabemos que o que fazem não é poque se tornaram mais “democráticos” mas porque querem um governo com mais força para atacar nossos empregos, salários e organizações.

Com esta perspectiva de conjunto, rechaçamos os métodos “bonapartistas” da direita, ou seja baseados em instituições como o judiciário que ninguém elegeu, nos negamos a que a direita siga conseguindo impor sua agenda. Porque, mesmo com o rechaço que Aécio e Alckmin foram recebidos, como corruptos, no último domingo a operação Lava Jato não colocou escutas neles e não fez espetáculos para levar FHC preso? Até agora a Lava Jato está dirigida apenas contra o PT e seus “empresários amigos”, mas há muitos indícios de que a corrupção também envolve os políticos da oposição. Isto é mais uma prova de que o juiz Sérgio Moro, que para muitos setores da classe média é um herói, ataca somente um setor dos que aparecem nas delações premiadas.

Esquerda Diário: E por que, como socialistas revolucionários vocês se opõem a este acerto de contas entre os capitalistas e seus políticos?

Diana Assunção: Muito simples, porque se um ex-presidente com apoio popular como o que tem Lula pode ter sua casa invadida e levado obrigatoriamente sem sequer ter se negado a comparecer imaginemos o que sobrará aos trabalhadores comuns se este método que atenta contra as liberdades democráticas mais elementares se generaliza. Isto pode fazer com que as violações permanentes aos direitos civis que já ocorrem nas favelas, inclusive nas militarizadas com as UPPs apoiadas pelo PT e por Dilma, se agravem ainda mais. Nós, que nos opomos a esta Constituição na medida em que ela defende a propriedade privada dos grandes meios de produção, defendemos as liberdades democráticas, que as classes dominantes pisoteiam dia-a-dia, estejam elas consagradas na Constituição ou não. Lutamos para ampliar estas liberdades porque elas abrem caminho para a organização dos trabalhadores e a luta contra todo o regime social e político de exploração e opressão.

Estas infames manobras e rasteiras devem ser rechaçadas. Por isto lutamos para que a esquerda se unifique e exija dos sindicatos que rompam com o governo e lutem contra os planos de ajuste da Dilma e do PT e lutem por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana para encarar as medidas democráticas que acabei de dizer. Além disto nós e toda esquerda nesta constituinte lutaríamos, como viemos fazendo, para que a crise seja paga pelos bancos, pela FIESP e os governos que a produziram e não nós os trabalhadores.”




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