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Xenofobia | Estado de exceção é declarado com intuito de perseguir imigrantes no Chile

Depois da morte de um caminhoneiro em conflito com imigrantes venezuelanos no Chile, o Governo de Piñera, com conivência de Boric, que em breve tomará posse, declarou Estado de exceção em algumas regiões. O Estado de exceção nada mais é do que uma medida xenofóbica que aumenta a militarização de certos estados com o objetivo de perseguir imigrantes e “reconduzi-los” à fronteira de seus países de origem.

sexta-feira 18 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

A morte de um caminhoneiro em um conflito com imigrantes venezuelanos levou à escalada dos ânimos no Chile. Os caminhoneiros paralisaram vias em meio a discursos xenofóbicos. Um dirigente do sindicato dos caminhoneiros, conhecida figura na política nacional por suas declarações racistas e autoritárias, disse “Será que Maduro abriu as portas das cadeias para exportar os delinquentes venezuelanos?

Em meio a pressão de protestos e barricadas financiadas pelos empresários do transporte, o Governo de Piñera declarou Estado de exceção em certas regiões no norte chileno, com a conivência e o silêncio de Boric, que em breve tomará posse. A morte de um jovem trabalhador que sensibilizou o país se transformou em um acordo repressivo e criminalizador que atende aos interesses da extrema-direita e militariza regiões.

O Estado de exceção é uma medida xenófoba que busca perseguir os imigrantes. O Governo de Piñera vem tentando evitar a palavra expulsão, utilizando o termo recondução. Mas o procedimento nada mais é do que a expulsão brutal de famílias de imigrantes: militares e policiais perseguem e conduzem os imigrantes encontrados, deixando-os à própria sorte na fronteira norte, em pleno deserto. Famílias que, em geral, deixaram seus países pela falta de recursos ou de oportunidades.

Ainda que a constituição chilena define que o Estado tem a obrigação de “promover, respeitar e garantir os direitos que os estrangeiros têm no Chile”, as imagens vêm mostrando a violência da polícia que, literalmente, corre atrás das famílias para expulsá-las.

O silêncio do Partido Comunista

O Partido Comunista do Chile (PCCh), apesar do nome, vem se integrando cada vez mais profundamente ao regime chileno e se alçando como parte dos partidos tradicionais. Ao invés de dar uma luta política contra a repressão e a xenofobia, o PCCh preferiu dar peso à sua atuação na constituinte na última semana. Uma constituinte que, apesar de fruto da rebelião de 2019, representou um desvio das aspirações que vinham das ruas; desvio esse que contou com o apoio do PCCh e a sua política de conciliação de classes.

Nas últimas eleições o Partido Comunista retirou sua candidatura e apoiou Gabriel Boric, continuando a trilhar seu caminho sem independência de classe. Durante a rebelião de 2019, o PCCh que comandava a CUT, a maior central sindical chilena, freou a Greve Geral que aconteceria no dia 12 de novembro e deixaria não só Piñera, como todo o regime chileno profundamente debilitado. Ao invés disso, asfaltou o caminho para o Acordo da Paz com o Governo, que manteve os presos políticos e levou a uma constituinte pactuada com os poderes chilenos que não era livre, nem soberana. A consolidação desse caminho foi o apoio a Boric, que ainda não tomou posse, mas já fala em “moderar as expectativas, com seu gabinete de ministros com atores do velho regime aprovado pela burguesia chilena.

A atuação do PTR

O PTR, partido irmão do MRT no Chile, vem denunciando em seu diário os abusos do Estado de exceção e como essa política abre margem para o aumento da militarização, da repressão e da xenofobia. Natalia Sánchez, vereadora do PTR em Antofagasta (a cidade onde o conflito entre o caminhoneiro e os imigrantes aconteceu) lamentou a morte do trabalhador, mas advertiu que mais repressão e mais criminalização não são a saída. Natália Sánchez é trabalhadora da saúde e durante a pandemia trabalhou na primeira linha com uma série de companheiras imigrantes. A saída - diz ela - deve ser com a unidade das e dos trabalhadores nativos com os estrangeiros para resolver juntos os grandes problemas sociais que se enfrentam estruturalmente.

Em 2019, o PTR foi parte da vanguarda da Rebelião que queria derrubar Piñera e o regime de Pinochet sustentado desde o fim da ditadura. Desde lá, segue sendo parte da batalha de denúncia dos limites da constituinte pactuada, da luta pela libertação dos presos políticos (demanda praticamente abandonada pelo Partido Comunista e pela Frente Ampla de Gabriel Boric) e pela construção de um Partido Revolucionário no Chile, que com independência de classe, auto-organização e hegemonia operária batalhe por um governo de trabalhadores em ruptura com o capitalismo. Um pequeno “laboratório” da batalha pela auto-organização do PTR se deu em Antofagasta durante a Rebelião. O Comitê de Emergência e Resguardo (CER) era um espaço de coordenação de sindicatos, movimentos sociais, professores, estudantes e outros setores, que cumpriu um papel fundamental ao longo dos protestos, chegando a colocar 25.000 pessoas na rua em uma cidade sem grandes dimensões. Através de assembleias, o CER definiu um programa pelo Fora Piñera e que respondesse às demandas das ruas.




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