sábado 23 de maio de 2015 | 04:53
Na manhã desta sexta-feira, 22/05, Lourival Aguiar e Débora Antunes, mestrandos do curso de Estudos Culturais da EACH - USP Leste e correspondentes do Esquerda Diário estiveram na igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério, que hoje recebe os imigrantes haitianos e entrevistaram alguns dos migrantes e o Padre Antenor, responsável pela recepção dos imigrantes da pastoral.
L. 30 anos, solteiro, um dos 100 haitianos que chegaram esta madrugada em São Paulo, é mais um dos quase 1000 haitianos que chegaram esta semana na cidade. Após passar por Panamá, Equador e Peru, chegou ao Brasil pela porta de entrada existente hoje no Acre. Lá, recebeu seu primeiro documento com o selo brasileiro: uma carteira de trabalho. Com o sonho de começar uma nova vida em um país estrangeiro, país esse que se coloca como receptivo e aberto a presença de migrantes haitianos, deixou para trás sua família, amigos e sua pátria, para fugir da miséria que assolava sua vida.
K. 34 anos, haitiana está há 5 meses procurando emprego no Brasil. Se diz cansada de pegar ônibus e metrô todos os dias, e não obter respostas positivas. Não tem como voltar ao Haiti. os haitianos são entendidos como mão de obra barata, que podem ser substituídas a qualquer momento e que podem (e serão) submetidos às condições mais humilhantes de trabalho.
Vendendo o "Sonho Brasileiro", de um Brasil pleno de empregos, um lugar de oportunidades, milhares de haitianos são induzidos por seus veículos de mídia e em declarações do próprio Presidente, Michel Martelly, a virem ao país em busca do emprego que lhes falta em sua terra natal. O Brasil, em consonância com essa política, abre suas fronteiras para os migrantes, porém não disponibiliza a mínima infraestrutura para receber estes haitianos com o minimo de dignidade. Ao chegarem aqui descobrem que essas oportunidades não existem, e que este mundo ideal é uma farsa. Sem alternativa, se vem obrigados a aceitar qualquer tipo de serviço, principalmente nas cidades da região Sul do país, para não continuar dormindo no chão, tendo apenas uma refeição diária, sem direito a banho e a lavar suas roupas.
Apesar de ser tema de algumas reportagens esta semana, a mídia brasileira apenas se aproveita da situação dos nossos irmãos haitianos para vender noticias de maneira inescrupulosa. Esta semana foi publicada uma foto de um haitiano se banhando no refúgio da igreja (foto esta tirada de maneira oportunista e insensível), que expôs o migrante ao constrangimento. Presenciamos um protesto dos haitianos que estavam no refúgio hoje pela manhã contra a mídia, que vinham se aproveitar de sua situação sem trazer uma real solidariedade "a mídia deveria provocar atitudes, ações, para que as pessoas tomem posições sobre isso, e não expor a dignidade dos migrantes, declarou o Padre Antenor, responsável pela Casa do Migrante, que recebe não apenas os migrantes haitianos mas de várias outras nacionalidades.
Segundo o Padre Antenor, os governos devem dar condições para os haitianos se estabelecerem no país:
"para dar dignidade aos haitianos, os governos estadual e federal devem assumir a responsabilidade sobre eles, oferecendo condições mínimas para a permanência e sobrevivência deles aqui".
Na verdade o governo brasileiro é aquele que lidera a operacão e mantêm as tropas da ONU em território haitiano, deixando de investigar os diversos casos de estupros, assassinatos, e desaparecimentos. O Governo brasileiro já mostrou de que lado está, e não é ao lado do povo haitiano.
Os haitianos precisam de mais do que moções de solidariedade, precisam de ações concretas que possibilitem, além medidas que deem um pouco mais de dignidade a sua permanência no Brasil, a retirada imediata das tropas brasileiras, que já ocupam seu território há quase 11 anos, além disso, precisam ter acesso a postos de trabalho dignos e autonomia sobre suas vidas, seja aqui no Brasil, ou lá no Haiti.
#Haitiéaqui
#todopoderaoshaitianosrevolucionarios
Foto: ACNUR/ONU
