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ESCOLA SEM PARTIDO | Escola sem partido: um título atraente para um conteúdo de censura

No senso comum quando se ouve "escola sem partido" se pressupõe que partidos estariam infiltrando pessoas nas escolas para a doutrinação partidária de jovens. Soa como um escândalo que isso possa ocorrer. Quase que como uma teoria conspiratória. O aluno está na escola para aprender o conteúdo pronto trazido pelos livros e pelos professores, e não para questionar, duvidar, reinventar e analisar a realidade que o cerca. Certo? Errado. A escola exerce um papel fundamental na superação do senso comum. Essa visão de educação de que o professor transmite o conhecimento construído como verdade absoluta pela ciência, é uma visão retrógrada. O aluno não é uma tabula rasa como pensou John Locke, ninguém é, nem o professor. Aluno e professor trazem suas impressões do mundo, de modo diferente, mas, a aprendizagem não começa do zero.

quarta-feira 31 de agosto de 2016 | Edição do dia

Impressiona que nossos legisladores não consultem sequer algum especialista em educação para compor seus projetos. Impressiona mais ainda que professores licenciados defendam o programa. Pois ser licenciado significa que fizeram as disciplinas da pedagogia ao se formar, estudando como superados os conceitos tanto de inatismo como de empirismo, bem como estudando as teorias do biólogo Jean Piaget que tanto refletiu sobre a autonomia afirmando que a meta número um da educação deveria ser formar pessoas capazes de criar coisas novas, e a meta número dois formar pessoas com capacidade crítica e que não aceite tudo sem questionar.

Em Caxias do Sul, cidade onde professores levaram alunos à delegacia após ocupação por querer fazer reunião para o grêmio estudantil, cidade em que pais ligados à vereadores de direita invadiram escola ocupada, ameaçando com arma de choque acionada em grade, tentando sequestrar alunos e perseguindo-os dentro da escola, cidade em que esses mesmos pais fundaram uma associação auto intitulada "pais do bem", legitimada pela direção da escola, esse debate é muito importante. Mesmo com a derrota dos vereadores de direita, com a mobilização estudantil conseguindo barrar a moção de apoio (leia aqui), esse debate segue importante.

O artigo 206 da Constituição Federal, que deveria garantir a pluralidade e as gestões democráticas nas escolas não é cumprido nem exigido pelos órgãos fiscalizatórios da cidade. Uma direção de escola que traz padres para benzer as turmas desrespeitando a pluralidade religiosa, não surpreendente que queira impor uma ditadura política, pois, sabe que será absolvida pelos seus parceiros de repartição.

Não há a necessidade de outra lei que garanta que o ensino seja plural e livre de doutrinação, justificativa do PL 190/16 de Van Hatem. Aliás, tal projeto que escancara a censura em uma visão reducionista do conhecimento, é retrocesso. Muito já se falou sobre a inconstitucionalidade dos PL’s; as contradições entre os conceitos de neutralidade e pluralidade; a censura imposta pela proibição de abordar questões de gênero bem como propiciar uma aprendizagem que supere o senso comum que vem de casa.

Porém, essa educação para obediência interessa à quem realmente os vereadores, os deputados e os senadores representam: seus financiadores de campanha. Uma elite burguesa que não visa outra coisa senão explorar cada vez mais insanamente as classes mais baixas.

É de fundamental importância barrar esses projetos nas câmaras de todo o país, que, à imagem e semelhança dos anos de chumbo, pretende implementar cartilhas para a aprendizagem da ideologia oficial.




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