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DISCUSSÃO DE GÊNERO E SEXUALIDADE NAS ESCOLAS | Escola Municipal do Butantã recebe notificação de vereador contra debate sobre gênero

Nessa semana a escola municipal Amorim Lima organizou com professores, alunos e pais uma Semana de Debate sobre Gênero e Educação. A programação dessa atividade foi amplamente debatida nos fóruns e espaços da escola.

sexta-feira 28 de outubro de 2016 | Edição do dia

No dia 25/10 a comunidade escolar foi surpreendida com uma notificação assinada pelo vereador Ricardo Nunes do PMDB, alegando que as atividades promovidas são ilegais, questionando ainda, a forma de organização e participação da comunidade escolar na Semana de Gênero.

A Secretaria Municipal de Educação respondeu à notificação respaldando a atividade que foi desenvolvida, que respeitou os princípios legais do Plano Municipal de Educação, com a meta de superar desigualdades educacionais e promover a cidadania e a erradicação de todas as formas de discriminação e preconceito. Apelou ainda, para que o vereador respeite a autonomia e o Projeto Pedagógico da Escola.

Resposta da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo

Um dos alunos do oitavo ano, Caio Ribeiro, de 13 anos, fez uma entrevista com uma de suas colegas de sala de aula, Luiza, de 13 anos também, que contou sua opinião sobre o que aconteceu. Confira:

Caio: O que você achou da semana do gênero?

Luiza: Eu achei muito importante para informar os alunos que não entendem bem sobre o assunto, e para dar espaço aos alunos que podem ser discriminados pelo seu gênero ou sexualidade.

Caio: O que você achou sobre a denúncia que a escola recebeu?

Luiza: Eu acho um absurdo a denúncia, por que não faz sentido, tem gente que acha que se a escola discutir sobre gênero, todo mundo que ouvir vai virar trans, eu ouvi sobre a violência contra a mulher ai eu virei uma pessoa que quer a morte dos homens, as pessoas acham que é isso, provavelmente foi alguém que acha que se criança souber o que é um transexual ela vai virar um transexual, a pessoa deve achar isso, por isso ela fez a denúncia, achei um absurdo, um ato totalmente nada a ver.

Caio: Você pode contar um pouco sobre situações na escola em que essa discussão sobre gênero é importante?

Luiza: Na escola, tem várias pessoas LGBT, tem pessoas trans, e é muito importante em todos os momentos, né? Tem uma pessoa trans na minha sala, e é um homem trans, só que muitos professores ficam chamando ele pelo nome de menina pelo nome feminino, o nome de nascença dele, mesmo sabendo que não é esse nome, é outro nome. E ninguém respeita, poucos professores respeitam, poucos alunos também respeitam, né? E tem muita gente na escola que é machista e fica querendo botar regra nas meninas, querendo falar o que a gente pode e não pode fazer. Aluno mesmo faz isso, nunca vi professor fazendo isso. Aluno fica falando pra gente calar a boca, essas coisas assim bem bestas. Tudo isso é muito importante ser discutido, e acabar com isso é muito importante. Por isso foi a semana de gênero, só que reclamaram dela.

Caio: Como os alunos podem se organizar para que esse tipo de debate continue acontecendo?

Luiza: Na minha escola, sempre tem alguma roda de conversa, nas tutorias também. Sempre tem, você nunca vai chegar pra falar com um professor ou alguém e a pessoa vai cortar o assunto, ou não vai querer falar sobre isso. Então, nas nossas tutorias sempre tem uma roda de conversa que a gente pode falar o que a gente quer. No meu ano sempre tem uma roda de conversa, nos dias de tutoria também, que geralmente tem algum assunto especial, mas se você propor o tema eles vão deixar você falar. E também tem grupos de responsabilidade na escola, que é um grupo que os alunos se organizam, tipo, para limpar alguma coisa, ou para decidir alguma coisa. Um dos grupos é assembleia, que é o meu grupo, que a gente fala assuntos importantes para se discutir com a escola inteira. A gente ia fazer, na verdade, uma assembleia sobre isso, e eu achei que nessa semana, semana do gênero, a gente ia fazer uma assembleia sobre isso. Só que não ficou para essa semana a assembleia que a gente vai fazer, mas a gente vai fazer uma assembleia sobre violência contra a mulher, sobre essas coisas, e vamos discutir com a escola inteira isso e sobre a denúncia.

Vanessa Rodrigues, mãe de uma das alunas também falou sobre a denúncia:

O que eu achei sobre a denúncia, primeiro que a gente acha que realmente partiu de alguém de dentro da escola, eu acho um absurdo, porque só pode ter partido de alguém de dentro da escola para saber os detalhes de como foi a proposta da semana de gênero, a denúncia foi uma coisa assim absurda, o que esse vereador escreveu é um absurdo, inclusive ele usou uma lei ilegalmente por que nem foi aprovada ainda, para poder colocar pressão sobre uma escola que luta para que as coisas aconteçam da melhor forma possível, para criar cidadãos e é o que a escola faz, o Amorim faz isso, tenta fazer da melhor forma possível e criou uma semana maravilhosa sobre isso uma discussão inclusive motivada por questões que aconteceram dentro da escola com meninas que quiseram discutir isso, então tá, vamos discutir todo mundo junto, essa é a ideia da semana de gênero. E a denúncia mostra realmente o estado que estamos nesse país, de retrocesso total e a gente não pode deixar isso acontecer, a gente tem que lutar e lutar muito para que as escolas tenham direito de formar cidadãos, não é questão de partido ou gênero ou nada, é de formar um cidadão, uma pessoa que respeita, uma pessoa que age na nossa sociedade, no seu ambiente, na sua comunidade. É um absurdo essa denúncia, mas foi boa porque assim a gente tem como fazer a semana de gênero sair dos muros da escola e ser assunto por aí.




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