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Enchentes e deslizamentos em São Paulo | Entrevista com morador de Franco da Rocha sobre as enchentes: “Os governos tratam de forma natural”

A tragédia que se repete ano a ano em Franco da Rocha e região, não é culpa das chuvas, muito menos das pessoas que moram em "áreas de risco", mas dos sucessivos governos que há décadas tratam com total descaso a vida das pessoas, que submetem a população a habitações precárias e em situação de risco, fruto da exploração, do desemprego e da miséria cotidiana. Não pode ser que enchentes anuais, que fazem as pessoas perderem casas, pertences ou suas vidas sejam naturalizadas.

segunda-feira 31 de janeiro de 2022 | Edição do dia

Foto: Divulgação Prefeitura de Franco da Rocha

Entre o último sábado e domingo (30/01) fortes chuvas atingiram grande parte do estado de São Paulo causando enchentes, deslizamentos, famílias desalojadas e ao menos quase vinte mortes. Uma das áreas mais afetadas foi o noroeste da capital, nas cidades de Franco da Rocha e região, onde os dois rios que cortam a cidade transbordaram alagando todo centro e parte baixa da cidade. Moradores ficaram ilhados, trabalhadores não conseguiam voltar para suas casas, famílias inteiras tiveram que ser resgatadas em botes e levadas para abrigos. Mas o pior aconteceu no bairro do Parque Paulista, divisa com a cidade de Francisco Morato que também foi duramente atingida, em que um deslizamento de terra destruiu casas e até agora 5 pessoas morreram e outras tantas seguem desaparecidas.

A tragédia que se repete ano a ano em Franco da Rocha e região, não é culpa das chuvas, muito menos das pessoas moram em áreas de risco, mas dos sucessivos governos que há décadas tratam com total descaso as vidas das pessoas, que submetem a população a habitações precárias e em situação de risco, fruto da exploração, do desemprego e da miséria cotidiana. Não pode ser que enchentes anuais, que fazem as pessoas perderem casas, pertences ou suas vidas sejam naturalizadas. A foto abaixo circula nas redes sociais e mostra dois alagamentos em Franco da Rocha, semelhantes em proporção mas separados por mais de 3 décadas!

O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), esteve na região no domingo e prometeu R$ 15 milhões para ajudar as cidades atingidas em todo o estado. Um valor ínfimo que não chega aos pés do que Dória vem gastando com verbas de publicidade oficial do governo. Mas ele e seu partido, que governam o estado há décadas, são os principais responsáveis por esse quadro que se repete ano após ano. A tragédia desse ano aconteceu quinze dias após o governo anunciar a construção de dois piscinões na cidade. Digamos que estão com algumas décadas de atraso.

Não só o governo é responsável como as prefeituras que com descaso relegam os moradores a viver em áreas de risco e habitações precárias. Na manhã desta segunda-feira, o prefeito de Franco da Rocha, Nivaldo Santos (PTB), em entrevista à Globo afirmou que a região onde houve o deslizamento sequer estava classificada como de alto risco, como que admitindo que não era uma região devidamente monitorada. E isso se agrava pelo fato de que já estava previsto um grande volume de chuvas na região. Segundo moradores da região, as mortes que aconteceram no deslizamento poderiam ter sido evitadas se a prefeitura tivesse de antemão avisado os moradores.

Paulo é um professor que trabalha em Caieiras e mora em Francisco Morato e que durante todo o domingo trabalhou de forma voluntária junto com outros moradores arrecadando mantimentos e montando cestas básicas nos relatou:

Ontem o pessoal que estava montando a cestas aqui disse que tinha um alerta na internet porém como todos estavam trabalhando ninguém imaginava a proporção, ou seja provavelmente se tivessem visitado as localidades isso não teria ocorrido e o centro também teria de precavido de forma melhor”.

E seguiu: “A prefeitura filma nossas casas pra cobrar o IPTU, espero que filmem também as áreas de risco da nossa cidade, mapeando pra que sejam realizadas ações eficazes de prevenção para que nenhum morador passe por essa situação de dor, trágica e lamentável que está sendo esses dias na nossa região.”

Ainda há previsão de mais chuvas e desde ontem a cidade está em alerta para o risco de abertura das comportas da represa Paiva Castro o que levaria a um novo alagamento na cidade.

Paulo expressou para nós também toda a sua indignação com anos e mais anos em que essa história se repete:

Os governos aqui sucateiam tudo, tratam de forma natural, diz que dá dinheiro e investe e faz política. O mesmo problema permanece e então quantas verbas vêm pra cidade todo ano? Sempre a culpa é da barragem? E dos moradores?

Em Franco da Rocha há um grafite feito por artistas da região com poesias escritas por moradores da cidade e uma delas diz:

“Por aqui rio vira calçada, Avenida, às vezes, rio minha cidade é a cara do Brasil” André Arruda.

De fato se trata de um problema que atinge todo o país. No início do ano tivemos os desastres no sul da Bahia e em Minas Gerais, que como em tantas outras cidades também são recorrentes nas épocas de chuva. Todos esses desastres, inundações e desabamentos, são previsíveis. Mas pela falta de investimentos em habitação e infraestrutura adequada, por parte dos governos, para a população mais pobre, todos os anos essa história triste se repete.

Basta de desastres anuais! Uma reforma urbana que desse condições de moradia e reestruturasse as comunidades mais pobres vitimadas pela chuva, enchentes e deslizamentos, era o mínimo esperado por parte desses governos. É urgente um plano de obras públicas, controlado pelos trabalhadores e pela organização dos bairros, que garanta essa reforma gerando emprego e renda para as famílias.




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