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ARTE NA RUA | Entrevista com grupo teatral O Buraco d’Oráculo

Com participação de diversos coletivos , as ruas e praças de São Miguel viram espaço de troca entre os artistas e o público. O Esquerda Diário conversou com Edson Paulo Souza, ator, produtor , professor de artes e integrante Buraco d’Oráculo desde sua fundação em 1998.

sexta-feira 23 de novembro de 2018 | Edição do dia

ED - Edson, conta pra gente um pouco sobre o histórico do Grupo, das principais peças de vocês.

Edson - O Buraco d’Oráculo nasceu em 1998, com o intuito de fazer um teatro que discutisse o homem urbano contemporâneo e seus problemas. Desta forma, e desde o início, optamos pelo teatro de rua, pois esta foi a maneira mais efetiva que encontramos de compartilharmos momentos de reflexão e afetividade por meio de nossa arte.

O trabalho do grupo é calcado em quatro pontos fundamentais: a rua, como local fundamental para promover o encontro direto com o público; a cultura popular, como fonte inspiradora de criação e o cômico, destacando-se a farsa e as relações com o denominado “realismo grotesco”. E a cenopoesia, como elemento transformador das relações.

Encontramos nas manifestações populares os elementos de expressão de nossa arte. A descoberta do popular deu-se a partir do encontro com Ednaldo Freire, que orientou o grupo durante dois anos (1999 e 2000) dentro do Projeto Ademar Guerra da Secretaria de Estado da Cultura.

O grupo optou por usar o popular, o cômico e a rua como determinação e alvo de crítica. Sendo assim, o nosso trabalho, pelas características e adesões apresentadas, levou-nos ao encontro de um público diferente daquele que frequenta as salas de espetáculos. Assim, começamos a desenvolver nossos trabalhos de forma descentralizada, buscando democratizar o acesso ao fazer teatral. Desde 2002, atuamos pela região de São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste de São Paulo.

Nossos espetáculos são protagonizados por tipos populares, pessoas comuns, afà al são a eles que se destinam nossos trabalhos. Desde a formação até o presente momento, o grupo produziu oito espetáculos nos quais buscam manter essas propostas.

São eles: A Guerra Santa – 1998; Amor de Donzela, Olho Nela! – 1999; Quem Pensa Que Muito Engana, Acaba Sendo Enganado – 2000; A Bela Adormecida – 2001; O Cuscuz Fedegoso* – 2002/2013; A Farsa do Bom Enganador – 2006; Comi Cidade – 2008; Ser TÃO Ser – Narrativas da outra margem – 2009; Ópera do Trabalho – 2013, O Encantamento da Rabeca – 2016 e Pelas Ordens do Rei Que Pede Socorro - 2018.

ED - Como surgiu a Mostra e como tem sido durante esses anos realizar uma mostra de teatro de rua em São Miguel?

Edson - A Mostra teve sua primeira edição em 2002, como forma de aproximar-se da cena teatral local. Naquele ano o Buraco d`Oráculo passava a atuar na região e tinha a Praça do Forró , localizada no centro do bairro, como sua sede publica. A Mostra tornou-se nossa ação mais efetiva na região, que mesmo com lacunas na sua realização já é parte do calendário de atividades do bairro e do grupo.

ED - Essa já é a XI edição da Mostra e recebe diversos coletivos de várias localidades. Como é esse diálogo com linguagens, estéticas diversas e quanto isso reverbera também nos processos do Buraco d’Oráculo?

Edson - Sempre buscamos a diversidade ao convidar coletivos teatrais a participarem da Mostra. Conhecemos diversos grupos de teatro de rua espalhados por todas as regiões do país. Isto se deve a Rede Brasileira de Teatro de Rua que atua por todos os estados e faz com que o teatro de rua esteja conectado, o que nos permite fazer um painel da cena teatral, ou ao menos, diversificar o fazer. Quando temos a programação formada por coletivos de diferentes abordagens, permitimos um olhar ampliado sobre o fazer artístico. Neste caso, o teatro de rua.

Contudo, o que nos faz comungar do mesmo fazer, é que todos utilizam a rua para se manifestar/expressar, usando o teatro épico, popular e de grupo.

Passar momentos junto a esses grupos é promover a troca de experiência pelo fazer teatral e as diversas maneiras de organização dos coletivos. Suas escolhas estéticas são sempre significativas para ver e rever os nossos processos, pois para a continuidade de um trabalho que já dura 20 anos é sempre necessário enxergar no outro aquilo que pode te alimentar e o que podemos compartilhar. É um processo de aprendizado por meio da troca mútua.

ED - No atual cenário, com Bolsonaro eleito, como você vê a atuação dos grupos de teatro? Qual é a importância de colocar de pé uma mostra de teatro de rua, por exemplo, nesse contexto?

Edson - O cenário atual vinha se desenhando já há muito tempo, temos de resistir. Mas para isso, temos de existir e ter a oportunidade de fazer esta Mostra é poder existir com resistência. Já há perseguições, violações de direito de uso do espaço público, proibições e outras tantas barbáries com aqueles que escolheram a rua como forma de se expressar, ou dela tirar sua sobrevivência.

Essa edição só acontece pois faz parte de um projeto que conta com apoio do Programa de fomento ao Teatro, foi contemplado na última edição válida. E corre o sério risco de acabar. Pois o fomento, programa garantido por lei, foi suspenso por conta de um secretário que não compreende o cerne da lei nem o que é o trabalho de grupo.

As ruas já não são as mesmas de 20 anos. Sentimos as pessoas com medo de ouvir, de parar o seu cotidiano por alguns instantes. A rua, que sempre foi um lugar de disputa, hoje parece um campo de luta. Temos que cada vez mais defender nossas posições, não ter medo de colocar em nossos trabalhos o nosso pensamento, pois somente assim conseguiremos (r)esistir.

Confira a programação, que é totalmente gratuita e para mais detalhes acesse O Buraco o ’Oráculo https://www.facebook.com/oburacodoraculo/

Mostra de Teatro de Rua de São Miguel Paulista

Local: Praça do Morumbizinho (Fortunato da Silveira)
Dias 23, 24 e 25 de Novembro
(em frente a Universidade Cruzeiro do Sul - Vila Jacuí)

23 de novembro | Sexta-feira
16h: Teatro de Rocokóz (São Paulo/SP)
Lóvistore ás Avessas (50 min)
17h30: Arte Negus (São Paulo/SP)
Ambulante (55 min)
19h: Cia. 1 Pé de 2 (Campinas/SP)
Ao Divagar se Vai longe e de Bicicleta
Mais Ainda! (40 min)

24 de novembro | Sábado
16h: Cia Pauliceia e Cia. Do Miolo (São Paulo/SP)
Relampião (60 min)
17h30: Nativos Terra Rasgada (Sorocaba/SP)
O Grande Pequeno Circo do Berinjela (40 min)
19h: Cia. Arte & Riso (Umarizal/RN)
Meu Nome é Zé (70 min)

25 de novembro | Domingo
15h: Cia Novos Atores (Pimdamonhangaba/SP)
Lisístra-S (60 min)
17h: Grupo Teatro Caretas (Fortaleza/CE)
Final da Tarde (50 min)
18h: Núcleo Teatral Opereta (Poá/SP)
Almas Peregrinas (70 min)

Local: Praça Guanambi

Dias 01 e 02 de Dezembro
(Parque Cruzeiro do Sul - Altura do nº7500. da Av. São Miguel )

1 de dezembro | Sábado
15h - Circo Teatro Capixaba (Divino de São Lorenço/ES)
Palhaços: Patifes ou Heróis? (50 min)
17h - Exercito Contra Nada (São Paulo/SP)
El General (50 min)
18h - Contadores de Mentira (Suzano/SP)
Rito Anti-Carnificina (40 min)

02 de dezemdro | Domingo
15h
- Grupo Ritornelo (Passo Fundo / RS)
Faixa de Graça (50 min)
16h30 - Brava Cia. (São Paulo/SP)
Show do Pimpão (50 min)
18h - Grupo de Teatro de Rua Loucos e Oprimidos da Maciel (Recife /PE)
Polo Marginal - Opereta de Rua (50 min)

Intervenções
Nos intervalos das apresentações teremos intervenções poéticas realizadas pelos poetas Andrio Cândido e Rafael Carnevalli e a mediação do mestre de cerimônia J.E Tico e Seus Fantoches.

Este projeto foi contemplado da 32ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo




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