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ENTREVISTA | Entrevista com Nicolás Del Caño: “Cada vez mais trabalhadores e jovens se identificam com a esquerda”

Del Caño é dirigente nacional do PTS (organização irmã do MRT na Argentina) e candidato presidencial da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores

quinta-feira 17 de setembro de 2015 | Edição do dia

Esquerda Diário (ED): Nico, de onde vem essa simpatia de trabalhadores e jovens pelas propostas da esquerda classista?

A primeira novidade foram os milhares de trabalhadores que tomaram em suas mãos a campanha. Companheiros e companheiras que, sem serem militantes partidários, foram candidatos, fizeram campanha não só em seus locais de trabalho, mas também nos bairros, com familiares e amigos. A votação da Frente de Esquerda não se pode explicar apenas pela campanha televisiva, mas também por este movimento desde baixo que foi muito potente, onde é claro que os militantes foram importantes, mas que se multiplicou por milhares. E trata-se justamente dos trabalhadores que há anos vem lutando contra as patronais e a burocracia sindical. Não tenho dúvida em afirmar que todos os setores combativos da classe operária não só votaram mas fizeram campanha pela Frente de Esquerda.

ED: E a juventude?

Aí também conseguimos um importante apoio. Há um sentimento de rechaço aos políticos dos partidos tradicionais. Além disso, há um repúdio às condições de vida que estes políticos impõem. Hoje os jovens não sabem se o trabalho vai durar 3 meses, muitos andam “de fábrica em fábrica”, não podem ingressar na universidade pública, não tem moradia e ainda tem de viver com os pais. Nós colocamos este problema e sua saída: acabar com a precarização do trabalho, um salário equivalente à renda familiar exigida, direito a saúde pública e educação gratuitas de qualidade. Existe dinheiro para isso: é preciso atacar as fortunas dos grandes empresários, latifundiários e banqueiros. Por isso há novos setores da juventude que se identificam com as idéias da esquerda.

ED: Mas há outras referências que se consideram de esquerda...

Sim, mas há uma experiência em setores da juventude, dos trabalhadores e dos movimentos de mulheres. Muitos tinham ilusões sobre fenômenos que supostamente vinham enfrentar estas condições. E então vêem o que acontece na Grécia, com a capitulação brutal do Syriza. Na América Latina o governo chavista de Maduro não pode tirar a Venezuela da crise, e só aprofunda os ataques contra a população trabalhadora. Em ambos os casos fica claro o fracasso dos que falaram em “humanizar” ou reformar o capitalismo. Do lado dos explorados, falta uma perspectiva anticapitalista conseqüente, em que as conquistas eleitorais e parlamentares estejam a serviço de desenvolver a luta e organização dos trabalhadores, com um programa para que a crise seja paga pelos capitalistas.

ED: Ao mesmo tempo surgiram novas gerações de lutadores na Argentina...

Há setores que vieram fazendo uma interessante experiência, onde se unifica a juventude trabalhadora com o ativismo operário que te contava antes, os setores que recuperaram comissões internas de fábrica ou de local de trabalho, que vem dando duras batalhas como nas fábricas Kraft, Lear, MadyGraf (ex-Donnelley, agora sob controle operário) e outras lutas. Este sindicalismo combativo está composto por jovens que fazem suas primeiras experiências contra a burocracia sindical, contra as patronais, e as fazem junto à esquerda. Não se trata apenas de uma experiência “sindical”. São muitíssimos companheiros e companheiras que tomaram em suas mãos a campanha eleitoral da FIT, militando contra os grandes aparatos do peronismo e da oposição.

Viemos sendo parte da luta pelos direitos dos LGBT, das mobilizações de milhares de jovens pela descriminalização da maconha, das mulheres na campanha por “Nem uma a menos”, ao mesmo tempo em que dizemos que todos estes direitos que o sistema nos nega, só vamos conquistar definitivamente com a mobilização e através de um governo dos trabalhadores.

ED: O que você tem a dizer aos brasileiros que estão vivendo um momento de crise no país mas também de lutas dos trabalhadores?

Que confiem na força dos trabalhadores quando decidem lutar por suas demandas e fazer política em todos os terrenos, inclusive eleitoral, que é o terreno dos nossos inimigos. Isso pode fortalecer as lutas, como estamos demonstrando. Vai ser um prazer para mim ir ao Brasil em novembro no encontro nacional que será organizado pelo Esquerda Diário compartilhar nossa experiência argentina.




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