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LAERTE FALA SOBRE PROCESSO CONTRA AZEVEDO | Entrevista com Laerte sobre processo contra Reinaldo Azevedo

A cartunista Laerte Coutinho concedeu entrevista ao Esquerda Diário e comentou a decisão judicial favorável no processo que moveu contra Reinaldo Azevedo, que lhe dirigiu diversos insultos morais e transfóbicos com o intuito de desqualificar sua posição política. Larte também comentou as manifestações da direita, a postura do governo e da polícia frente às manifestações e a Operação Lava Jato. Confira.

sábado 17 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Foto: Divulgação/Rafael Roncato

Laerte Coutinho foi duramente atacada por Reinaldo Azevedo por conta de sua excelente charge, reproduzida abaixo:

Mas ela moveu uma ação judicial contra o colunista, que foi condenado, junto a seus empregadores (Rádio Bandeirantes e Veja, nos quais veiculou suas posições transfóbicas), a pagar uma indenização no valor de $100 mil reais. A cartunista disse que irá doar integralmente o valor para o combate à transfobia.

Na defesa apresentada pela Editora Abril e Reinaldo Azevedo, eles alegavam que, por Laerte ter postado o texto de Azevedo em seu perfil no Facebook fazendo comentários sarcásticos a seu respeito "as partes levaram o episódio na brincadeira", reproduzindo o mais lamentável argumento do senso comum, que afirma que as opressões são "brincadeiras" ou "piadas" sem nenhum potencial prejudicial para quem as sofre.

Ainda recorrem à posição política veiculada na charge de Laerte que em nada tem a ver com as ofensas feitas, dizendo que "causaram espanto na sociedade e no réu". Espanto pois Laerte, com sua sagacidade ímpar, associou em uma pequena charge a polícia aos crimes bárbaros que pratica, e os defensores do golpe à exaltação a essa instituição. Foi um golpe no nervo dos reacionários de plantão.

O juiz Sang Duk Kim considerou que a "intenção do corréu Reinaldo de Azevedo foi de ridicularizar a parte autora, visto que o sentido das palavras postas no artigo atinge à honra e à imagem do requerente."

Laerte concedeu uma entrevista sobre o episódio, bem como sobre o conteúdo da charge, para o Esquerda Diário. Veja abaixo:

Esquerda Diário: Em sua coluna, Reinaldo Azevedo incluiu diversas ofensas transfóbicas para tentar desqualificar as posições políticas expressas por seu trabalho como cartunista. Você pode dizer um pouco como entende essa atitude?

Laerte: Não sei explicar os processos de elaboração dessa pessoa.
Já li, na coluna de outro articulista “conservador”, a defesa de que ofensas pessoais são admissíveis como recurso retórico.
Não concordo com isso, claro.

Esquerda Diário: O que você responderia para os que dizem que impedir Azevedo e seus empregadores (Veja e Rádio Bandeirantes) de expressar suas posições transfóbicas é uma "censura"?

Laerte: O texto do juiz que proferiu a sentença deixa isso muito claro, quando diz que “a impossibilidade da censura não pode ser confundida com a ausência de responsabilidade por excessos na ato da sua manifestação”.

Esquerda Diário: - Você acha que posições como as de Azevedo são frequentes em nossa sociedade? Como você vê a transfobia no Brasil e no mundo hoje?

Laerte: Acho que a truculência vem sendo utilizada como versão aceitável para a agressividade normal de um debate.
Quando ela se apresenta, todas as formas de fobias e intolerâncias se manifestam como se fossem um discurso racional e não a expressão do ódio e do desejo de excluir.

Esquerda Diário: Sobre sua charge, aliás, genial, que foi o pivô da polêmica: como você vê a questão das marchas dos "verde e amarelo", tanto em favor do golpe como "contra a corrupção" exaltarem a polícia? Como você vê o papel da polícia hoje? E do judiciário e da Lava Jato nessa crise política?

Laerte: Vem sendo - ainda - ressaltado o fato de que as manifestações conservadoras não “descambam em violência” nem em “baderna”.
Acho que isso traduz muito mais a conivência de determinados poderes, como o do governo do estado de S. Paulo, sob cujas ordens atua a PM.
E também diz algo sobre a atuação de provocadores profissionais, combinados a técnicas de repressão.
Quem esteve em manifestações pró-democracia teve várias ocasiões de observar esses mecanismos.
Sobre a LavaJato, acho que há, sob a indicação de que se trata de combate à corrupção, uma intenção política e econômica muito preocupante, que a grande mídia tem feito questão de manter fora de discussão.
O golpe parlamentar que o país sofreu contou com parceria evidente dessa operação - uma parceria que não se manteve lá muito estável…

Esquerda Diário: Sobre a vitória judicial que você obteve frente a Reinaldo Azevedo e seus empregadores, como você vê isso? Acha que expressa um avanço no combate à transfobia? Você acha que o sistema judicial brasileiro é conivente ou reproduz a transfobia?

Laerte: Acho que se trata de vitória localizada, numa ação que teve a felicidade de ser apreciada com lucidez pelo juiz.
Tem significado na luta contra a transfobia, claro.
E também na luta pela dignidade profissional dos jornalistas.
Não tenho condições de apreciar, a partir deste caso, a complexidade do sistema jurídico do país.
Há aspectos criticáveis, claro - bem como episódios animadores, do ponto de vista dos direitos humanos, como a admissão do casamento igualitário, as decisões sobre identidade de gênero, sobre interrupção da gravidez etc.




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