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ECONOMIA-UNICAMP | Enterrar as manifestações de junho para passar o ajuste fiscal

O blog Terraço Econômico vem defendendo o ajuste fiscal como única medida possível para a economia brasileira. Em defesa do neoliberalismo e das políticas que atacam os trabalhadores e a juventude, como o PPE que reduz a jornada com redução nos salários, aumento no tempo de contribuição das aposentadorias e redução dos gastos em saúde e educação. O grupo de jovens economistas formados na FGV e UNICAMP busca deslegitimar os levantes de junho de 2013 e colocar as “leis econômicas” acima de qualquer ação humana sem discutir em nenhum momento os lucros advindos do transporte

terça-feira 11 de agosto de 2015 | 00:03

O liberalismo como tragédia

A defesa intransigente do mercado, a busca pela maximização da eficiência e do lucro nos fazem retomar o início do que Marx chamou de Economia Política. Essa escola nascente no coração da Revolução Industrial legitimou a ascensão da burguesia no mundo e tecia elogios ao trabalho e ao assalariamento, escondendo a exploração que a burguesia iria impor mundialmente.

O blog, em nossa visão, quer apresentar uma “cara de juventude”, renovando velhas ideias, as mesmas que, o “velho barbudo” tanto desmascarou. A ideia falsificada nas entrelinhas, e que o blog procura esconder, é a de que as relações da produção de mercadorias no sistema de economia de mercado são relações entre pessoas e não entre objetos, são relações sociais de produção e que envolvem necessariamente a exploração por aqueles que detém o controle dos meios de produção do sobre trabalho de uma maioria que foi desapropriada de suas terras, de seu meio de produção.

O liberalismo como farsa

Após a queda do regime soviético nos anos 90, depois de décadas passadas sob a direção de uma burocracia degenerada, embora não houvesse ingerência dos capitalistas, finalmente o lucro podia se expandir para todo o globo. A partir de um novo regime de acumulação que prospera após a crise do petróleo, volta a cena aqueles que pareciam enterrados.

Esse período no Brasil foi marcado pelo surgimento e domínio do Partido dos Trabalhadores, que a partir de 2002 passa a agir como “via à esquerda” da burguesia em seu discurso, mas aprofundou o neoliberalismo e deu voz aos setores “a direita” no proprio governo. A despeito dos conflitos extensos entre essas duas alas, protagonizados principalmente nas câmaras do legislativo e, mais recentemente, nas redes sociais, o controle da burguesia sob a juventude e os trabalhadores era estável.
Mesmo sendo uma cidade governada pelo PT, havia muita insatisfação em São Paulo que podia explodir: a precarização do trabalho, a violência policial contra os oprimidos, a cidade-metrópole que só é acessível para poucos e os ataques aos LGBTs que vem, no caso das trans, sua expectativa de vida reduzida a 35 anos. Nem PT nem PSDB puderam segurar junho de 2013, e os desdobramentos dessas manifestações são vistos cotidianamente nas diversas greves que explodiram desde então, com todos os trabalhadores reivindicando o que foram essas manifestações.

Por que um blog iria querer calar Junho?

Em recente artigo denominado “O Gigante Acordou. Foi ao Banheiro e Voltou a Dormir!” afirma-se sacarsticamente que “os manifestantes esqueceram de revogar algumas leis econômicas!”, como se a ganância dos empresários e dos políticos com os transportes fosse revogada com um decreto. A argumentação é baseada numa visão estreita de que a inflação e os reajustes nas passagens são elementos “naturais” da economia, quando na verdade estão sujeitos a máfia dos transportes e aos políticos burgueses.

O blog também argumento que os reajustes nos preços das passagens são inevitáveis devido ao aumento nos salários dos trabalhadores do setor, mas a média salarial desses trabalhadores estava entre 1800 e 2000 reais no ano passado na cidade de São Paulo, segundo dados da Globo¹, um salário que mal consegue suprir as necessidades de uma família e dar condições para os motoristas, cobradores e mecânicos que diariamente tem a vida de milhões em suas mãos!

Enquanto isso, não é falado da média de lucro com o serviço de transporte, que segundo a Folha de São Paulo gira em torno de 20% para a maioria das empresas mas pode chegar a 50% em casos extremos. Será que os aumentos no preço da passagem também não cobrem a ganância dos empresários no setor? Vejam notícias aqui e aqui.

A campanha contra junho encontra nesses porta-vozes do que há de mais atrasado no pensamento burguês mais um apoio. Como a mídia burguesa e os setores mais reacionários que tentavam calar a juventude indignada elogiando as ações policiais contra os manifestantes. Esses setores confluem cada vez mais com o PT na política nacional em defesa dos ajustes contra os trabalhadores e a juventude, mesmo sem podermos aprofundar aqui o que significa essa unificação tão instável, é fato que eles desejam que a crise caia sob os trabalhadores e a juventude.

As manifestações de junho de 2013 terminaram, mas a indignação continua nas greves dos professores do Paraná, no protagonismo dos estudantes cariocas apoiando as terceirizadas em greve nas universidades e na queda do nível de popularidade do governo dos ajustes. Para a burguesia e suas alas “à esquerda” (PT) e “à direita” (PSDB) cabe depositar nas costas dos trabalhadores e da juventude o peso da crise econômica criada por ela.

Mais uma vez como porta-vozes dessa ala “à direita”, os economistas do Terraço Econômico tem medo de junho de 2013 e querem calar a juventude e os trabalhadores, cumprindo o papel historicamente reacionário dos liberais, não medirão esforços para criticar e deslegitimar qualquer movimento contra o mercado, seus capitalistas e seus lucros. Em tempos de ajuste fiscal, cumprem um papel aliado aos petistas e keynesianos que tentarão salvar a burguesia, somente o marxismo e as experiências históricas dos trabalhadores e da juventude darão uma saída de fato para o abismo econômico e a indignação.

O debate de nossa época é de qual lado a juventude estará: dos trabalhadores, oprimidxs e do povo pobre ou do lado dos ricos e dos empresários. Buscando seguir a carreira dos grandes defensores dos endinheirados, um setor de juventude bem sucedido no mercado e nas finanças tenta reproduzir as ideias de Miriam Leitão e Reinaldo Azevedo com um diálogo mais jovem. Os diagnósticos realizados em torno das empresas públicas, das políticas de ajuste e do desemprego carregam uma suposta neutralidade que está em sintonia com a minoria que governa o país para os empresários. A parte de refletir os problemas históricos do Brasil, como a desigualdade, a pobreza e a exploração capitalista que toma uma face mais cruel com a herança da escravidão e das opressões em nossa sociedade, aspectos que a juventude de Junho quer responder e não descansará enquanto existirem.




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