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Enquanto milhares passam fome e temem desemprego, Ibaneis esbanja luxo e carne de primeira

Após liberar “a maioria dos funcionários” - mas não todos - de sua mansão de luxo, Ibaneis aparece sendo gravado em uma de suas humildes residências – a mansão mais cara do DF, no cinismo típico de um político com cheirinho de burguês. A proibição de demissões e garantia de remuneração, inclusive para os desempregados e subempregados, não são medidas que passam pela cabeça de Ibaneis e dos políticos do DF, cuja quarentena expõe milhares à contaminação nos serviços essenciais (nos quais a limpeza da piscina do governador parece ter sido incluída).

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

quarta-feira 25 de março de 2020 | Edição do dia

Após liberar “a maioria dos funcionários” de sua mansão de luxo, nada melhor do que um farto e caro churrasco, não é doutor Ibaneis? Em um vídeo que mistura o cinismo típico de um político de com cheirinho de burguês com a picaretagem mais absurda, Ibaneis aparece sendo gravado em uma de suas humildes residências – só a mansão mais cara do DF, em pleno Lago Sul, onde as trabalhadoras e trabalhadores só chegam se for para limpar banheiro – exibindo seu “estoque” de carne. Como ele mesmo disse, está de home-office, pois, é claro, a segurança está em primeiro lugar; o “resto” dos funcionários ainda podem limpar privada ou servir um vinho francês para o doutor.

E não é só na bela casa do governador que tem gente trabalhando sem saber se está contaminado em meio a uma crise sanitária sem precedentes em nossa história recente: trabalhadores da saúde privada e pública – desde da moça da limpeza do HRAN na Asa Norte, onde foram internados os primeiros casos de coronavírus já há algumas semanas, até o plantonista do HRC em Ceilândia – caixas de supermercados e farmácias, garis, motoristas de UBER, entregadores do iFood e Rappi. Todos compartilham de uma mesma perspectiva: precisam trabalhar, precisam ganhar o mínimo para, talvez, garantirem a vida e de suas famílias, e sem testes para todos são impedidos de saber se poderiam estar circulando.

Ibaneis foi um dos primeiros governadores a tomar medidas consideradas mais severas contra o COVID-19, como a suspensão das aulas, de atividades públicas e fechamento de estabelecimentos – e está sendo aplaudido por isso. Contudo devemos ter cautela e nos questionar: qual o sentido de adiantar o isolamento de uma parcela dos trabalhadores e não realizar testes massivos para poder rastrear, mapear, fazer projeções. Não basta estabelecer a quarentena da forma como é, sem suporte ao setor mais precário do proletariado do DF e entorno – muitos deles na linha de frente do vírus em hospitais, assistência social, mercados, expostos à angústia da contaminação, do desemprego, da morte.

Ainda que a quarentena por si só ajude a combater o vírus, só é científica quando aliada aos testes para todos que queiram. Enquanto uns trabalham e sustentam o essencial da economia, outros estão em casa com medo de perder seus empregos e direitos com novas presepadas bolsonaristas como a MP 927. Os governantes – desde Bolsonaro com sua negação dos perigos da doença, até os governadores mais radicais no controle como Ibaneis tem em comum uma profunda irracionalidade, prática comum do sistema capitalista, e todos eles, apesar de discordarem da gravidade da doença e dos métodos de controle, também tem em comum a tentativa de preservação dos lucros capitalistas, gastando recursos ínfimos e se negando a custear todo o necessário para superar essa crise. Dizem que não há recursos, quando apenas o que o SUS perdeu com o Teto dos Gastos já seria suficiente para financiar testes para todo o Brasil e mais alguns povos na América Latina. Os salários de políticos, como o do próprio Ibaneis, poderiam também ser fonte de financiamento de diversas medidas, que para ser racionais e eficientes teriam que ser organizadas e controladas pelas trabalhadoras e trabalhadores da saúde – os verdadeiros heróis da classe trabalhadora frente a esse momento de crise sanitária.

Qualquer medida séria de combate ao vírus teria que vir acompanhada da liberação do trabalho de todos os contaminados e das populações de risco, com proibição de demissões e garantia de remuneração, inclusive para os desempregados e subempregados, que não tem qualquer contrato de trabalho, como deve ser o caso das domésticas, cozinheiras, jardineiros e motoristas de Ibaneis, que talvez sequer tenham tido direito de comer a "deliciosa carne".




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