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LUCRANDO COM A FÉ E A POSENTADORIA | Enquanto defendem reformas e Temer em Marcha para Jesus, Igrejas anunciam previdência privada

O apóstolo Estevam Hernandes, criador da Marcha Para Jesus, foi um dos que defendeu abertamente o governo Temer e as reformas trabalhista e da previdência no evento que ocorreu no dia 15 em São Paulo. Poucos dias antes, um grupo de pastores anunciava a criação do BemPrev: uma previdência privada voltada para os fiéis de suas Igrejas, transformando a retirada de nossos direitos em mais uma oportunidade de lucro.

segunda-feira 19 de junho de 2017 | Edição do dia

O líder da Igreja Renascer em Cristo, Estevam Hernandes, discursou para uma imensa multidão de fiéis em cima do carro de som no último dia 15: "Oramos contra a corrupção e a prostituição, baseado em um preceito bíblico. A Bíblia fala que, quando nós oramos e clamamos, mudamos situações. Como brasileiros, nós estamos sendo afetados com toda essa loucura que o Brasil tem passado, de corrupção, de miséria."

Ao defender Temer, disse: "Particularmente, sou favorável que termine esse mandato por causa de todo o trauma que a nação tem passado. Mas não que eu, ou nós, tenha um apoio explícito ao governo Temer." E, sobre as reformas, repetiu a enganosa ladainha chantagista que o governo tem usado para tentar nos convencer a abrir mão de nossos direitos: "Isso é fundamental para o Brasil, para que a economia volte a crescer e para que a gente tenha uma retomada do que é mais fudamental: o emprego."

Hernandes não foi o único a defender explicitamente os políticos que nos atacam. O bispo Leonardo Migliolo, da Renascer, disse aos participantes do evento que o objetivo da Marcha era "orar pelo País". "Orar pelo presidente, pelo governador, pelo prefeito", disse. "Para que Deus possa conduzir com sabedoria toda essa situação que o País está enfrentando."

Previdência

Enquanto isso, poucos dias antes, na última segunda-feira, 12, outro grupo de pastores anunciada a criação da previdência privada direcionada aos evangélicos, a BemPrev. O Instituto Brasileiro Evangélico de Memória Pastoral (Ibemp), foi criado por Lemim Lemos, Pastor da Igreja Batista, para gerir o fundo privado. Ele disse aos seus colegas de profissão:

"Evangélicos são fiéis aos seus comandos. Não possuem vícios que os obrigam a consumir supérfluos como cigarros, bebidas e drogas. Esforçam-se para manter seus nomes em situação confortável nos cadastrados financeiros."

E complementa com um trocadilho perverso: "Ah, sim: e já são 30% do país,o que dá mais de 60 milhões de brasileiros. Não dá para ignorar um mercado fiel com esse."

Lemim é ambicioso, disse aos pastores: "Nossa intenção é virar o maior fundo de previdência privada do Brasil". E, diante dessa incrível oportunidade de lucrar ainda mais nas costas de seus fiéis, um grito ecoa pela sala: "Amém!".

A ideia do BemPrev já passou por duas tentativas de implementação, a primeira nos anos 1950 e a segunda em 2013. Lemos afirmou que elas não foram bem sucedidas por "dificuldades de natureza técnica". Certamente, ele e os demais pastores esperam que essas "dificuldades" sejam encerradas pela reforma da previdência de Temer, que irá arrancar os direitos previdenciários dos 60 milhões de evangélicos e garantir a "fidelidade" desse público à previdência privada do pastor.

Na primeira vez que se tentou criar a BemPrev, um líder batista se juntou a acionistas para comprar um banco e colocar parte da receita de sua igreja em fundo próprio. Mas a instituição abriu falência, e o projeto foi afundou junto junto.

Lemos disse que o Ibemp distribuirá um jornal evangelizador a seus associados, e "um delta" das receitas será destinado a um fundo de amparo a pastores idosos. Ou seja, a fatia maior será em lucros, claro, e os pastores, como sempre, terão grande privilégio sobre seus fiéis, recebendo uma parte da receita. Lemos, no caso, deve estar pensando no conforto de sua própria aposentadoria com essa parcela. Ele já tem 74 anos.

Cinicamente, ele diz que o BemPrev não ter dado certo antes pode ter sido uma bênção, diz. "Achamos que o timing era exatamente esse." Sim, o timing de ver nossos direitos de aposentadoria pública arrancados pelo governo com seu apoio.

Apoios

Não é à toa que a Marcha Para Jesus contou com a presença do vice-prefeito de São Paulo, o tucano Bruno Covas, que esteve presente para apoiar oficialmente em nome de Doria. O prefeito desfrutava uma viagem ao Caribe para comemora o aniversário de 15 anos da filha, um luxo que só milionários podem se dar.

Outro notório político corrupto e apoiador dos ataques aos trabalhadores que compareceu à Marcha foi o Senador Magno Malta (PR-ES), que também é pastor. Alckmin havia confirmado presença, mas não compareceu.

Enquanto gozam de total isenção fiscal, essas Igrejas enriquecem aos milhões explorando a fé alheia. Elegem seus políticos com base nessa confiança, e, no parlamento e no executivo, eles atacam nossos direitos e defendem seus privilégios. A criação do BemPrev junto ao apoio a Temer e as reformas é só mais uma amostra disso.




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