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PALESTINA | Em novo ’Dia da Ira’, palestinos incendeiam templo judaico na Cisjordânia

Nesta sexta-feira, dezenas de palestinos atearam fogo a um templo judaico na cidade de Nablus, na Cisjordânia ocupada pelos israelenses e sob controle da Autoridade Palestina, dirigida por Mahmoud Abbas. A região enfrenta distúrbios há duas semanas, que não dão sinais de diminuir.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

sexta-feira 16 de outubro de 2015 | 17:21

O incêndio ocorreu como parte do novo “Dia da Ira” convocado por grupos políticos palestinos e manifestantes sem filiação política, furiosos com a escalada de violência do Exército sionista, que causou a morte de 33 palestinos e sete israelenses somente no mês de outubro.

Essa espiral de violência se iniciou na Cidade Velha de Jerusalém oriental, o epicentro dos enfrentamentos, em que a FDI (Força de Defesa Israelense, que tem como “protocolo” atirar em qualquer “suspeito”) lançaram uma infinidade de provocações e batidas sobre a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar santo dos muçulmanos, onde se encontra a mesquita Al Aqsa.

Nesta sexta, os manifestantes usaram bombas caseiras no local, reverenciado por alguns judeus como o túmulo do patriarca bíblico José.

As forças de segurança palestinas, controladas pelo arqui-corrupto Abbas, dispararam para o ar para dispersar o local. O governador de Nablus, Akram Rajoub, não quis comentar a situação de segurança no local do ataque, mas garantiu que a Autoridade Nacional Palestina impediria novos incidentes similares.

Dezenas de jovens se aproximaram da vala de separação em distintos pontos da Faixa de Gaza, e lançaram pedras nos soldados que responderam com munição real. As ocorrências do Dia da Ira começaram depois da difusão televisionada de uma mensagem do chefe de facto do Governo de Gaza e segundo na hierarquia do Hamas, Ismail Haniye, que afirmou que a nova Intifada palestina “começou e deve continuar”.

A tumba de José, situada no monte Gerizim de Nablús, deixou de ser um enclave judeu na Cisjordânia desde a Segunda Intifada (2000-2005), quando Israel retirou suas forças do santuário ante as dificuldades de defendê-lo, não sem antes lançar a sangrenta operação “Escudo Defensivo”, que deixou 5000 palestinos mortos. Desde então se produziram diversos choques.

Israel impõe bloqueios em Jerusalém

A polícia israelense começou a instalar postos de controle nos acessos aos bairros árabes de Jerusalém em uma clara medida de “castigo coletivo” que bloqueia entrada e saída de moradores sem prévia revista de tropas. Os “terroristas árabes identificados” perderão a permissão de residência em Jerusalém, o que implica uma deportação de fato.

Nesta semana, o primeiro ministro direitista de Israel, Benjamin Netanyahu, mobilizou seis companhias da FDI e autorizou o recrutamento de centenas de guardas de segurança para ajudar o destacamento de unidades do Comando Central do Exército em Jerusalém. Além disso, aumentou as penas de prisão para oito anos para os “lançadores de pedras” e habilitou a demolição das moradias relacionadas com os suspeitos de “terrorismo”.

Também, o governo israelense anunciou que não devolverá ás famílias árabes os corpos dos agressores, para que “seus rituais fúnebres não se tornem zonas de protesto”.

Vários analistas da imprensa hebraica consideram que as medidas adotadas podem significar a separação de facto entre a Jerusalém ocidental (majoritariamente de israelenses) e Jerusalém oriental, onde vivem cerca de 300 mil palestinos. Cerca de 200 mil israelenses vivem em assentamentos colonos ilegais na parte leste, que se disseminaram depois dos Acordos de Oslo em 1993. Estas provocações são parte dos planos do Estado terrorista de Israel de consumar a “judaização” da Jerusalém oriental, uma região historicamente árabe, ocupada depois da Guerra dos Seis Dias de 1967 (junto à Gaza, Cisjordânia, a península do Sinai e as Colinas de Golã) e anexada ao Estado judeu em 1980, mesmo sem aval da ONU.

Assim como fez durante a Primeira Intifada (1987) e a Segunda Intifada (2000), o Exército israelense militarizará o transporte público em Jerusalém, o que promete originar ainda mais assassinatos e repressão contra os árabes.

Todas as pesquisas de opinião mostraram que 50% dos palestinos é propenso à luta armada e apenas 30% está a favor de reiniciar negociações diplomáticas com o governo israelense.

A luta palestina pela retomada de seu território e a destruição do Estado de Israel

Como viemos discutindo no Esquerda Diário, a juventude que hoje protagoniza a resistência contra a violência sionista foi educada nas “detenções administrativas” nas prisões israelenses, a demarcação do Muro do Apartheid e os operativos de guerra contra Gaza (Chumbo Fundido em 2009, Pilar Defensivo em 2012 e Margem Protetora em 2014), com dezenas de milhares de mortos, que transformaram essa Faixa de 360 km² em um campo de concentração a céu aberto, com 1,8 milhões de párias que suportam um bloqueio por terra, ar e mar desde 2007.

A fúria contra o cerco israelense nos bairros árabes de Jerusalém, como Issawiya, depois das provocações às mesquitas árabes, se estende aos políticos da Autoridade Palestina, completamente domesticados a serviço da manutenção do Estado de Israel, um estado racista baseado na limpeza étnica do povo palestino.

O grande risco para Israel é que o chefe da AP, Abbas, se encontra completamente desprestigiado pela perseguição de desempregados palestinos nos bairros pobres a mando de Israel na Cisjordânia, depois que a resistência armada do Hamas à ofensiva israelense de 2014 permitiu recuperar seu prestígio.

Entretanto, o discurso reacionário de “guerra contra os infiéis” usado pelo Hamas não encanta essa juventude que hoje está nas ruas, que também é filha das experiências da primavera árabe.

Já está claro que Israel não aceita nem sequer a “ficção de Estado palestino” e que as tendências fascistoides que surgem no seu interior são o produto de seu projeto colonial.

Frente à política racista do sionismo de defender um “Estado exclusivamente judeu”, surgem cada vez mais vozes dissonantes que chegam à conclusão de que a alternativa a uma nova limpeza étnica e à guerra permanente é desmantelar esse aparato estatal racista e colonialista e substituí-lo por um Estado palestino único, não racista, que respeite os direitos nacionais de árabes e judeus.

Do nosso ponto de vista, esse resultado não é uma utopia, senão a única saída progressista a essa crise. Mas isso só poderá ser conseguido como subproduto de uma luta revolucionária dos trabalhadores árabes palestinos e judeus contra as classes dominantes locais, terminando com este enclave imperialista e todo resquício de xenofobia e racismo das potências imperialistas a quem servem estas classes, um governo dos trabalhadores que abra caminho para o socialismo em toda a região através de uma Federação dos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio.




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