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SEPARAÇÃO DA IGREJA DO ESTADO! | Em meio à pandemia, Bolsonaro acusa OMS de incentivo à homossexualidade e masturbação infantil

Na noite desta quarta-feira (29), Bolsonaro que vem demonstrando todo seu descaso e desrespeito com as vítimas de Covid-19 dando declarações de que "não é coveiro" ou um simples "e daí?" quando perguntado sobre o crescimento de vítimas fatais, publicou nas suas redes sociais (e em seguida apagou) um novo ataque a Organização Mundial da Saúde (OMS) questionando se deveria seguir suas recomendações, afirmando que a mesma defende o incentivo a homossexualidade e a masturbação para crianças.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

quinta-feira 30 de abril de 2020 | Edição do dia

Mais uma vez buscando dialogar com sua base dura, concentrada em setores evangélicos e conservadores, Bolsonaro fez um post, e logo depois apagou, afirmando que as recomendações da OMS seriam de incentivo a homossexualidade e a masturbação de crianças e por isso, não corresponderia seguir suas orientações na educação, como já vem negando as orientações do isolamento social.

Utilizando seu método favorito de Fake News, Bolsonaro mais uma vez destilou todos seus preconceitos homofobicos e utilizou a "guerra cultural" contra a suposta Ideologia de Gênero, para se esquivar de sua responsabilidade sobre o crescente número de vítimas fatais pela Covid-19. 

Sem citar fontes, Bolsonaro então detalha supostas recomendações da OMS para crianças de 0 a 4 anos: "Satisfação e prazer ao tocar o próprio corpo (masturbação); expressar suas necessidades e desejos por exemplo, no contexto de ’brincar de médico’; as crianças têm sentimento sexuais mesmo na primeira infância", descreve o texto.

Depois, para crianças entre 4 a 6 anos: "Uma identidade de gênero positiva; gozo e prazer ao tocar o próprio corpo, masturbação na primeira infância; relações entre pessoas do mesmo sexo". E, por fim, Bolsonaro cita orientações para jovens entre 9 e 12 anos: "Primeira experiência sexual". O assessor especial da presidência da República Arthur Weintraub, irmão de Abraham Weintraub, compartilhou conteúdo semelhante mais cedo, através de seu perfil no Twitter. "OMS com diretrizes recomendando que crianças de 0 a 4 anos sejam ensinadas sobre ’masturbação’, ’prazer e diversão’, ’tocar o corpo’ e ’ideologia de gênero’. Isso é correto?", questionou.

Os fatos

O guia citado por Bolsonaro foi publicado em 2010 pelo Centro Federal de Educação em Saúde da Alemanha, em conjunto com o escritório europeu da OMS. Todavia, o texto não é dirigido às crianças, e sim aos pais, com o objetivo de ajudá-los na educação de seus filhos, não tratando-se de incentivo algum.

Segundo o guia da OMS, crianças de 2 e 3 anos são curiosas em relação aos seus próprios corpos. Elas começam a perceber que são diferentes de outras crianças e dos adultos e a ter noção da divisão binária de gênero estabelecida. Por isso, é mais ou menos nesta fase que também desenvolvem sua identidade de gênero e neste sentido é importante que os pais estimulem uma "identidade de gênero positiva", isto é, que seja respeitada e promovida de forma saudável a construção desta identidade para cada criança. O que significa respeito às identidades, e sua pluralidade, é para Bolsonaro e seus aliados fundamentalistas, um "incentivo" a homossexualidade.

A recomendação aparece em uma tabela voltada a crianças de 0 a 4 anos. Na coluna "give information about" ("dê informação sobre", em tradução livre), na linha sobre sexualidade, o órgão aconselha pais e tutores a conversar com as crianças sobre, entre outros temas, "o fato de que gostar do contato físico é algo comum à vida de todas as pessoas". Mas como sabemos Bolsonaro e os setores conservadores que o acompanham utilizam do silêncio e 

Na semana passada, Bolsonaro voltou seus ataques diretamente ao diretor-presidente da OMS, dizendo que seguiria suas recomendações pelo fato de ele não ser médico. "O pessoal fala tanto em seguir a OMS, né? O diretor da OMS é médico? Não é médico. É a mesma coisa se o presidente da Caixa não fosse da economia. Não tem cabimento. Então, o diretor da OMS não é médico", afirmou ele.

Pela Separação da Igreja do Estado

Neste contexto de uma pandemia mundial que agravou ainda mais a crise econômica internacional e fazendo saltar as desigualdades sociais já pré-existentes, Bolsonaro se mostra cada vez mais inimigo das mulheres, do povo negro e LGBT. Não atoa, na semana passada fez questão de encontrar com setores religiosos para voltar a defender a continuidade da morte na clandestinidade para milhares de mulheres que abortam no Brasil, assim como esta declaração contra a OMS.

Na última segunda-feira, 27, Bolsonaro promoveu uma reunião entre o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho do empresário R. R. Soares, dono da Igreja Internacional da Graça de Deus e o secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto. No encontro, Bolsonaro pressionou o secretário da Receita para que a Receita cancele a dívida tributária de R$ 144 milhões da igreja.

Isso se soma a nomeação de André Mendonça para substituir Sergio Moro no Ministério da Justiça, um pastor evangélico na Igreja Presbiteriana Esperança, em Brasília e tem interlocução com ministros do STF. Mais uma clara demonstração do aprofundamento da relação entre o Estado e as igrejas, que tem Damares Alves como a principal figura do governo no combate as demandas das mulheres e LGBT.

Por isso, é fundamental seguir a luta pela Separação da Igreja do Estado, em defesa da laicidade e dos direitos elementares das mulheres e LGBT. Uma luta que precisa se ligar ao sentimento crescente de Fora Bolsonaro, também estendendo a Fora Mourão e os Militares que são inimigos da classe trabalhadora e todos os oprimidos. Através da organização dos trabalhadores, com setores oprimidos na linha de frente, podemos enfrentar todo o autoritarismo destes setores fundamentalistas que utilizam de antigos preconceitos patriarcais para descarregar a crise econômica nas costas do povo trabalhador.




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