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EDITORIAL DOS EDITORIAIS | Em busca da liderança para aplicar o ajuste até o final

Thiago FlaméSão Paulo

domingo 12 de julho de 2015 | 20:03

A Folha de São Paulo deste domingo intitula seu editorial de “Além do ajuste”. Parte de um diagnostico bastante pessimista da situação atual: “a crise política e econômica é das mais graves, e as incertezas quanto aos seus desdobramentos provocam desânimo adicional em investidores e consumidores. Um ciclo vicioso que asfixia o país”. Depois de passar pelo balanço do governo Dilma, assevera que no momento não há outro remédio que não o dos ajustes.

Como o próprio titulo diz, tenta levantar um programa pela positiva, que possa indicar uma “estratégia de longo prazo”. Para isso aponta dois “candidatos”, a indústria e os investimentos em infra-estrutura, através de maior abertura ao capital privado via concessões.

Na indústria, defende que o cambio desvalorizado e a “ausência de pressões salariais”, somados à redução de impostos e maior abertura comercial podem alavancar a indústria. Eliminando os eufemismos, pode-se entender que o maior desemprego, a redução do nível salarial podem trazer novos e grandiosos lucros para os empresários brasileiros. Sempre e quando avançarem os acordos que abrem as portas do país para o capital europeu e estadunidense.

Sua conclusão, no entanto, retoma o pessimismo inicial. “Não se trata de tarefa simples, sobretudo porque mobilizar forças produtivas e sociais para a nova etapa de expansão econômica depende de liderança política – um recurso escasso no mercado brasileiro”.

O Globo, com editorial intitulado “reformas adiadas forçam paliativos de emergência”, gira também em torno do mesmo tema. Fazendo um balanço mais histórico que o da Folha, localiza o suposto problema no fato de que as reformas estruturais (neoliberais) foram paralisadas já no primeiro governo Lula. Este não teria aproveitado o período de bonança econômica para fazer estas reformas e agora, num período de crise, não lhe restaria outra alternativa que a de aplicar “remendos”. Neste domingo, os editorialistas de O Globo preferiram não falar uma palavra acerca do momento político que vive o país.

Já o estadão de hoje dedica dois editoriais aos problemas nacionais, um político e outro que trata do PPE. É da combinação entre ambos, que podemos compreender melhor a orientação do conjunto dos jornais neste domingo.

O editorial “um apelo à unidade nacional” é o único que faz referencia à tese de afastamento da presidente Dilma. O faz, no entanto, interpretando de forma interessada uma afirmação do vice presidente Michel Temer, que afirmou “não devemos discutir esse tema (golpe). A oposição existe também para ajudar a governar, mesmo quando critica. Temos que fazer uma grande unidade nacional”. Para o estadão, seria “natural a hipótese de mudança de governo, uma medida extrema no regime presidencialista, mas perfeitamente legítima se observadas as normas constitucionais”. Mais adiante, defende a tese do parlamentarismo, no qual, supostamente, “a troca de governo já teria acontecido naturalmente”. Todo o movimento deste editorial é separar o PT do PMDB para tentar apresentar este segundo como uma alternativa de governo e conclui com um conselho ou alerta a este partido, de que seria necessário “neutralizar a preocupante tendência de representantes do PMDB de se alinharem no Congresso a favor de propostas legislativas retrógradas embaladas pelo radicalismo de direita e pelo fundamentalismo religioso”.

Para completar o quadro, como dissemos, é necessário incorporar também a analise do outro editorial “a proteção do emprego”. Defende a medida provisória do governo, que ataca o salário dos trabalhadores nos setores em crise, como favorável ao mesmo tempo “ao governo, aos empresários e ao trabalhador”. Como pode ser favorável uma medida que reduz salários para preservar o lucro dos empresários?
Porém, ao contrário da linha mais pró-impeachment do editorial anterior, este se coloca abertamente como conselheiro de Dilma e critico ao Congresso. “Um dos maiores desafios para o executivo, nesta altura, é conciliar o esforço de arrumação de suas contas com as iniciativas para amenizar os efeitos da crise e facilitar o retorno ao crescimento. Preocupações deste tipo têm aparecido muito raramente – e esta é uma avaliação generosa – na pauta dos parlamentares brasileiros”.

Sintetizando, os grandes jornais estão à procura de uma liderança que possa levar adiante e até o final o ajuste contra os trabalhadores e as reformas de cunho neoliberal. Pelo momento, aumentam a pressão sobre o governo petista, para que seja ele próprio a avançar neste caminho – como já está fazendo. E ameaçam com possibilidades de afastamento, caso Dilma perca a capacidade de aprovar os ajustes no congresso ou apareça uma liderança mais forte para cumprir estes objetivos.




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