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Em NY, Temer mente sobre refugiados e reivindica tropas brasileiras no Haiti

segunda-feira 19 de setembro de 2016 | Edição do dia

Em seu primeiro discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), nesta segunda-feira, 19, o presidente Michel Temer inflou o número de refugiados aceitos pelo Brasil, ao incluir 85 mil haitianos recebidos depois do terremoto de 2010. A convenção internacional sobre o assunto, no entanto, define como refugiados apenas pessoas que deixam seus países em razão de temor de perseguição racial, religiosa, política ou social.

Os números foram apresentados durante reunião de alto nível convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para discutir a situação de refugiados e migrantes. Temer disse que, nos últimos anos, o Brasil recebeu 95 mil refugiados. Se forem retirados os haitianos que saíram de seu país em razão de desastre natural, a cifra cai para 8.800.

O próprio Comitê Nacional para Refugiados (Conare), um órgão do Ministério da Justiça, informa em seu site que o Brasil tem 8.800 refugiados de 79 países. Desses, 2.300 vieram da Síria, principal alvo de preocupação internacional na discussão do tema. O evento da ONU tinha o objetivo de aumentar o comprometimento dos países no recebimento de pessoas que deixam seus países por razões alheias à sua vontade.

Em entrevista depois do discurso, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, teve de reconhecer a mentira de Temer, já que pessoas deslocadas por desastres naturais não integram a definição da ONU para refugiados. Foi além no cinismo brutal que caracteriza o governo repressivo de Temer: "Além do desastre natural, o Haiti também vive uma situação de conflagração”, disse Moraes, que se reflete na presença de forças da ONU do país, lideradas pelo Brasil.

A suposta “missão de pacificação” em suas terras - a MINUSTAH- é chefiada pelo Brasil que já enviou mais de 30 mil militares ao país e hoje, tais tropas, cumprem o papel de disciplinar e controlar a população que se revolta contra a miséria e a profunda exploração de novas indústrias da construção civil e têxtil que encontraram um terreno fértil para lucrar com a mão de obra paga com baixíssimos salários.

Entre 2008 e 2013 houve cerca de 480 denúncias de casos de exploração sexual pelas tropas da ONU no Haiti. Este número, no entanto, é certamente muito menor do que a realidade, como as próprias autoridades ligadas a ONU assumem, visto que, com a presença intimidadora das tropas e a praticamente inexistente apuração dos casos, a população denuncia muito pouco tais agressões. Deste total de 480 casos, estima-se que um terço envolva crianças entre 11 e 15 anos, afetando mais fortemente a população rural desprovida de recursos mínimos e em todos os casos a exploração sexual consiste na troca de “sapatos, comida, remédios, dinheiro ou jóias” por sexo para soldados e funcionários ligados as missões.

A este papel vergonhoso e detestável, iniciado pelo PT e continuado "com orgulho" pelo governo golpista de Temer, Moraes trata de tirar algumas fagulhas de glória, mostrando ao sócio-maior ianque que vem cumprindo "à la lettre" o comando imperialista contra o povo negro.

Moraes disse ainda que o Brasil deverá receber mais 2.700 imigrantes da Síria até 2017. Naturalmente, Moraes não mencionou um detalhe sórdido: o governo Temer, ainda interino em junho, suspendeu negociação com a União Europeia para receber refugiados sírios, conforme confirmaram à BBC assessores e diplomatas brasileiros, que haviam iniciado as tratativas pelo Itamaraty na gestão do ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão.

Do lado econômico, buscam ajoelhar-se para vender o país aos magnatas ianques, assim como fizeram com os mandarins chineses no G20. Do lado político, a comitiva de caixeiros viajantes golpistas não perde a oportunidade de mostrar quão flexíveis são suas espinhas. De nosso lado, contra essa direita repugnante, dizemos claramente que a tarefa da esquerda internacionalista é dizer "Refugiados, bem vindos!" e "Fora as tropas brasileiras e da ONU do Haiti!"




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