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sexta-feira 3 de abril de 2015 | 00:01

Elizabeth Gurley Flynn tinha quinze anos na primeira vez em que esteve em um julgamento. O julgamento era contra ela. Depois de ser presa, o juiz lhe perguntou: “Espera converter as pessoas para o socialismo falando na Broadway?”. “Na verdade, sim”, lhe respondeu a garota que tinha que subir em caixas de feira para que sua voz fosse ouvida nas ruas nova-iorquinas.

Elizabeth nasceu em New Hampshire (Estados Unidos) em 1890, em uma família irlandesa de militantes socialistas. Aos dez anos se mudou com sua família para Nova Iorque. Aos dezesseis fez um discurso no Clube Socialista de Harlem, intitulado “O que o socialismo fará pelas mulheres?”.

Era militante da juventude socialista que queria transformar o partido e queria que este fosse uma ferramenta para potencializar as lutas operárias que povoavam o país: “Nós, a geração mais jovem, éramos impacientes. Sentíamos que [o partido] era antiquado. Seus dirigentes eram (...) professores, advogados, doutores, ministros, todos de meia idade e idosos, e a gente desejava algo mais militante, mais progressivo e mais jovial, então fomos para uma nova organização, a IWW”.

A Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo) era impulsionada por militantes de esquerda para organizar a classe trabalhadora norte americana. Esta organização, diferente da central sindical oficial (AFL), permitia e incentivava a filiação de mulheres, imigrantes e negros. Em oposição à AFL, a IWW queria organizar os setores mais explorados do movimento operário.

Desde que decidiu se unir a IWW, Elizabeth militou entre as trabalhadoras de vestuário da Pennsylvania, as trabalhadoras da seda de Nova Jersey, os gastronômicos de Nova Iorque, os mineiros de Minnesota e as trabalhadoras têxteis de Massachusetts. Além da militância sindical, Elizabeth era partidária dos direitos reprodutivos das mulheres e do sufrágio feminino.

Em sua participação na campanha contra o julgamento dos anarquistas Sacco e Vanzetti, se fez famosa pela sua grande habilidade no que chamavam de “política de defesa operária”, quer dizer, nas lutas pela liberdade de presos políticos, na organização de atos e fundos de greve.

Suas participações mais destacadas como dirigente sindical foram durante a greve das operárias têxteis de Lawrence em 1912, conhecida como a greve Pão e Rosas, e na greve da seda de Paterson em 1913. Sua personalidade lhe tornou conhecida como “Chama Vermelha”, “Joana D’Arc da classe trabalhadora” ou, o mais conhecido, Garota Rebelde.
Em 1912, aos vinte e um anos Elizabeth foi uma das dirigentes e organizadoras da greve de operárias têxteis que ficou conhecida como a luta de Pão e Rosas.
Chegou em Lawrence, junto com Joe Hill e Carlo Tresca para substituir a direção da greve, que havia sido detida quase em sua totalidade. Lá, desenvolveu muitas formas para permitir que a energia das jovens operárias se expressassem com força e determinação.
Para isto, além da organização sindical, baseada em assembleias e o comando de greve, se colocaram em pé restaurantes e creches públicas, para que as mulheres pudessem participar da luta, enquanto se enfrentava o machismo dentro das próprias fileiras, fortalecendo o movimento de greve.

Elizabeth explicava que “as mulheres trabalhavam nas fábricas por um salário menor e, além disso, tinham que fazer todo o trabalho em casa e cuidar dos filhos.
As velhas atitudes dos homens de ‘amo e senhor’ eram fortes e ao final do dia de trabalho... ou agora, das tarefas da greve... o homem chegava em casa e se sentava, enquanto sua esposa fazia todo o trabalho, preparava a comida, limpava a casa, etc.
Houve uma oposição masculina considerável para que as mulheres fossem às reuniões e participassem dos piquetes. Combatemos decididamente estas noções. As mulheres queriam lutar”.

As divisões de gênero não eram as únicas. Em muitos outros sindicatos a maioria das pessoas era de imigrantes e não falava inglês.
Isto não foi um obstáculo e as assembleias eram realizadas em vários idiomas, assim como as reuniões sindicais.

Além de discutir questões sindicais, a IWW fazia reuniões para discutir sobre política, cultura, e também organizava reuniões de crianças para somá-las à luta e evitar assim o isolamento das famílias durante as greves.

Elizabeth sempre teve a convicção de que a luta pelos direitos das mulheres e, em particular, das trabalhadoras, estava intimamente ligada à luta contra a exploração: “Posso dizer honestamente que em cada batalha que estive... como comunista, como membro do grupo de mulheres, lutei pela libertação das mulheres junto com a minha batalha pelo socialismo”.

Um de seus companheiros, Joe Hill, lhe dedicou uma canção chamada Garota Rebelde, que é parte do cancioneiro popular estadunidense, um feito que ilustra o impacto da figura de Flynn. Em suas estrofes diz que “houveram outras garotas, mas necessitamos de mais na Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo). Porque é maravilhoso lutar pela liberdade com uma Garota Rebelde”.

A luta de Elizabeth Gurley Flynn pinta de corpo inteiro milhares de mulheres que, no início do século XX saíram às ruas, não sempre nas melhores condições, para exigir os direitos que lhes eram negados. Para elas não existiam contradições nem conflitos de prioridades entre enfrentar o capitalismo e lutar contra o patriarcado. Suas lutas eram motorizadas por múltiplas causas, e não existiam divisões artificiais entre lutas mais ou menos urgentes, era tudo parte da mesma luta, e segue sendo.




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