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Eleições: fragmentação dos partidos da ordem e a censura à esquerda

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

sexta-feira 23 de setembro de 2016 | Edição do dia

Comparada aos dias quentes do impeachment, a campanha municipal é morna. Até agora diz pouco ou quase nada sobre o impacto que terá na sucessão presidencial de 2018, mas reforça a tendência à fragmentação partidária verificada nas últimas eleições. Nunca antes tantas siglas disputaram as prefeituras nos 5.568 municípios.

Os 35 partidos com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concorrem com candidato próprio nas 26 capitais – e 15 diferentes siglas lideram no momento a corrida, segundo as pesquisas de opinião. Há quatro anos, 29 partidos lançaram candidatos e 11 elegeram prefeitos de capitais. Trata-se da maior fragmentação desde 1988.

Levando-se em conta PT, PMDB e PSDB, tem-se que os três principais partidos da ordem lideram em apenas 8 de 26 capitais, sendo apenas 2 deles grandes colégios eleitorais.

Um olhar em PT, PMDB e PSDB

A profusão de siglas burguesas (a maioria de aluguel para os partidos tradicionais) embaralha a disputa nacional. Ainda não há vencedor claro, mas já há perdedor: o PT. O desgaste oriundo da aplicação de duros ajustes contra os trabalhadores por parte de Dilma, a corrupção assimilada com esmero dos governos capitalistas e o papel de contenção na luta de classes fez com que o PT lançasse menos da metade de candidaturas que em 2012.

Em 2014 o PT elegeu quatro prefeitos de capital, entre eles Fernando Haddad, em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país - uma aposta pessoal de Lula. No momento, o PT lidera apenas em Rio Branco, capital do Acre. Em São Paulo, Haddad amarga um quarto lugar nas pesquisas, perdendo para o percentual de votos brancos e nulos. Os candidatos do PT perdem mesmo nas capitais onde começaram a disputa com algum fôlego, como Recife (João Paulo, atrás de Geraldo Júlio do PSB) e Porto Alegre (Raúl Pont).

O PT no final da campanha deu um giro para nacionalizar o perfil da candidatura, buscando emplacar o candidato no sentimento “Fora Temer”, o próprio debate foi marcado pelos debates nacionais como a reforma trabalhista e o golpe institucional. Contudo mesmo com essa tentativa de um discurso mais “combativo”, os números do petista não conseguem ter uma marca positiva, pagando o preço da política petista que após abrir espaço para a direita foi incapaz de combatê-la.

Em São Paulo e Minas Gerais joga-se o futuro do PSDB, que rivaliza a cena nacional com o PT desde 1994, destituído de narrativa, dividido e com grande dificuldade de aproveitar a crise do PT (estando envolvido em distintos escândalos de corrupção). A candidatura de João Doria em SP, atualmente em primeiro lugar nas pesquisas, reforça a posição do governador Geraldo Alckmin, já em disputa aberta com o senador Aécio Neves pela indicação do PSDB à presidência. Com João Leite, candidato que lidera em Belo Horizonte, o senador tucano tenta recompor suas bases em Minas Gerais, onde em 2014 perdeu para Dilma. O PSDB é líder em cinco capitais e apenas dois grandes colégios eleitorais - Belo Horizonte e São Paulo.

Alckmin e Aécio disputam também quem vence a corrida de mais denúncias de corrupção. Alckmin está envolvido no cartel do metrô de SP e na máfia da merenda (que inclui outro candidato a prefeito na capital, Celso Russomanno), enquanto Aécio tem no prontuário o desvio de R$7,6 bilhões da saúde do estado de MG e a liderança do mensalão tucano com fraudes na Eletrobrás. Ambos têm, entretanto, a tranqüilidade de estarem desde o início blindados de qualquer denúncia do Judiciário golpista.

Já o PMDB tem jogos de interesse na eleição paulistana. O golpista Michel Temer foi quem bancou a candidatura da senadora Marta Suplicy pelo PMDB. Oriunda do PT, Marta atualmente ocupa a terceira posição, e uma eventual vitória deve engrossar o coro dos partidários de Temer favoráveis à reeleição do atual presidente. Embora o próprio Temer diga que não será candidato à reeleição, essa é uma possibilidade real no leque de alternativas consideradas pelo grupo mais próximo do presidente. O chanceler José Serra, atualmente no PSDB, é uma hipótese remota, espremido entre Alckmin e Aécio. O PMDB lidera em três capitais, mas nenhum grande colégio.

A Rede, partido da ex-senadora Marina Silva, outro nome considerado certo na cédula presidencial de 2018, lançou candidatos em 10 capitais. Até agora, lidera apenas em Macapá.

Grande vitorioso das eleições municipais de 2012, quando elegeu os prefeitos de cinco capitais, o PSB desponta como favorito em duas, entre as quais Recife, cidade a partir da qual se expandiu sob a liderança de Eduardo Campos.

O espaço conquistado pelo PSOL nas eleições – que no início das pesquisas tinha boas chances de disputar a prefeitura em quatro grandes capitais – expressa a existência de um amplo espaço de esquerda independente do PT. Como sabemos, em meio aos elementos de crise orgânica no regime, nova formas de pensar surgem também à esquerda. É para impedir o crescimento deste espaço político que o judiciário e o Congresso determinam a enorme censura à esquerda (principalmente à esquerda anticapitalista).

Entretanto, o PSOL não soube ocupar audazmente esta localização. Luiza Erundina em São Paulo oscilou para baixo, de 7% para 5%. Ela consegue angariar parte voto dos setores a esquerda que não confiam mais no PT, contudo seu discurso também não empolga como uma alternativa contra o sistema, e ao manter-se neste espectro político da gestão municipal responsável, estando muito longe de uma posição de esquerda anticapitalista, abre espaço para perder votos para Haddad e Marta como "votos úteis". O Valor Econômico, que há alguns meses chamava a candidatura de Luciana Genro em Porto Alegre como “forte”, agora diz que pode “disputar com dignidade”.

O regime político se debate para recompor-se nas eleições; e a esquerda?

Os candidatos da burguesia tentam como podem escapar da crise de representatividade; e nessas tentativas, o tucano Dória se destaca pela desfaçatez. Jura em todos os debates que “não é político, é um empresário gestor”, para escapar à desgraçada senda dos bandidos políticos da patronal. Está começando a ter sucesso na maquiagem; todavia, é um político do tucanato paulista, envolvido no esquema de sonegação de impostos com empresas fantasma, os Panama Papers, tendo recebido dinheiro de empreiteiras ligadas à Lava Jato e possuidor de um terreno público ilegalmente anexado a sua propriedade em São José dos Campos.

Por ora isso não parece enfermar sua campanha. Mas como será um prefeito empresário em meio ao clima político nacional?

Entre um neoliberalismo contestado no mundo e aqui no Brasil, e uma impossível conciliação de interesses com o empresariado e a direita, nem os projetos tucanos nem os petistas parecem ter alguma viabilidade como “grandes discursos” hegemônicos.

À fragmentação se soma uma percepção generalizada que todo o regime está podre, porém sem a classe trabalhadora vislumbrar uma saída estratégica anti-sistêmica. Repressão e censura à esquerda é a trama do regime político-judiciário para calar a turbulência nesse período sensível do golpe institucional, que envolve privar Lula da possibilidade de eleger-se em 2018 e abrir o cardápio dos recursos estratégicos do país ao capital estrangeiro, oferecendo a reforma trabalhista e previdenciária como tributo àqueles monopólios que procurarão novas fontes de valorização do capital.

Para a esquerda, é fundamental entender que o combate aos golpistas, à reforma trabalhista e à reforma política restritiva, exige a mais irrestrita independência política do PT e o combate à burocracia sindical.

A partir das candidaturas anticapitalistas do MRT, como a de Diana Assunção em SP, defendemos que um plano de luta sério encabeçado pelas centrais contra os ataques é a base para impor, através da mobilização, uma nova Assembléia Constituinte, desde uma perspectiva anticapitalista, que questione todo o podre Regime de 1988 e que comece a combater os privilégios e a corrupção, impondo o fim da dívida pública e que todo juiz e alto político seja eleito e revogável e que recebam o mesmo salário de uma professora. Uma constituinte que coloque em discussão os grandes problemas da população trabalhadora, preparando as condições de sua derrota e substituição por um governo dos trabalhadores em seu aspecto anticapitalista e antiburguês.




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