×

ANÁLISE | Dória x PSDB: Na disputa tucana quem paga a conta são os trabalhadores

Diante a crise do tucanato sem nome definido para as eleições de 2018, aumenta a tensão entre Dória e Alckmin em SP, onde quem paga a fatura da conta bilionária do pacote das privatizações são os trabalhadores.

Felipe GuarnieriDiretor do Sindicato dos Metroviarios de SP

sexta-feira 12 de maio de 2017 | Edição do dia

A instabilidade é uma tônica permanente no cenário político brasileiro. Só aumenta a impopularidade do governo Temer, encurralado por diversos setores da burguesia a cumprir o que foi designado com o golpe institucional: a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária. Uma missão que se mostra cada vez mais complicada para a relação do governo em manter sua base no congresso, mas principalmente pela entrada em cena da classe trabalhadora nos últimos dias 15/03 e 28/04, que elevou a mais de 80% a rejeição popular sobre as reformas.

Paralelamente a isso, a corrida presidencial para 2018 está aberta. O “paladino da justiça” Moro ao mesmo tempo que aparece com uma grande popularidade nas pesquisas eleitorais, tem que lidar com as contradições da operação Lava Jato, revelando ainda mais seu caráter reacionário como visto na semana do depoimento de Lula ao Juiz e os promotores do Ministério Público. Além das teses e métodos do “domínio do fato” ou das “conduções coercitivas”, soma-se a investida repressiva na reintegração de posse ao MST, o impedimento dos manifestantes chegarem a Curitiba e o fechamento sem nenhuma prova do Instituto Lula. Lula e o PT se aproveitam dessas contradições, e com a ajuda das principais direções sindicais, fortalecem sua candidatura de 2018 para salvar o regime político e aplicar as reformas a sua maneira.

É nesse marco que o PSDB enfrenta uma crise entre as suas alas. Amarrados com o futuro incerto do governo golpista, o partido por meio do seu principal interlocutor, Fernando Henrique Cardoso, diz querer voltar as suas “origens”, porém seu principal nome para o planalto nas pesquisas, é o “ prefeito gestor, não político” João Dória, causando descontentamento crescente da cúpula tucana.

Qual é o dilema tucano?

O triunvirato do partido, Aécio, Serra e Alckmin, despencaram na última pesquisa feita pelo DataFolha fruto de estarem presentes nas delações e oficialmente suspeitos nos escândalos de corrupção e caixa 2. Por outro lado, precisam lidar com a nacionalização do discurso político de Dória que vem lhe dando uma evolução nos números. A rejeição de Aécio e Alckmin, foram respectivamente de 30% a 44% (comparativo dezembro do ano passado) e de 17% a 28% (mesmo período). As intenções de votos dos dois presidenciáveis tucanos também diminuíram, Aécio oscilou de 11% a 8% (sendo que no final de 2015 era de 26%), e Alckmin foi de 8% a 6% após ser citado nas delações da Odebrecht. Enquanto isso, Dória aproveita o fato de não ser um nome nacionalmente conhecido com uma rejeição baixa de 16% e chegou ultrapassar seu padrinho político Alckmin na corrida presidencial, sendo a partir dos números o nome mais forte para disputar com Lula no segundo turno.

O crescimento de Dória tem relação direta com o “fenômeno Trump” nos Estados Unidos. Frente a crise de representatividade do regime, coloca o marketing no carro chefe em vender a imagem de um empresário milionário, como se fosse um “trabalhador”, de um gestor “apolítico”, e que através de um populismo de direita polariza os debates nacionais como recentemente na greve geral do dia 28/04, chamando os grevistas de “vagabundo” e assumindo o enfretamento para si, mais do que o próprio Temer. Essa condição leva o atual prefeito de SP ser o presidenciável do PSDB a disputar o atual espaço de extrema-direita, retirando votos de Bolsonaro, que atualmente aparece em segundo lugar nas pesquisas. Essa semana o próprio FHC citou Dória, junto com o apresentador Luciano Huck como algo novo na política brasileira “porque não estão sendo propelidos pelas forças de sempre”.

Entretanto, se Dória tem o próprio capital como empresário para investir em marketing, holofotes, programas de Youtube, e promover um duelo consciente com Lula nas suas declarações para alavancar sua imagem, não pode dizer que a máquina eleitoral tucana (determinante em períodos eleitorais) está a seu favor. A própria declaração de FHC é ambígua. Muitos analistas interpretam as palavras do ex-presidente não como um sinal de aproximação de FHC a Dória, mas sim uma tentativa de tirar o protagonismo do atual prefeito ao compara-lo com uma pessoa sem nenhuma expressão política. Como já havia inisinuado no mês passado ao dizer que “Se você for gestor, não vai inspirar nada. Tem que ser um líder”. Não a toa, Alckmin que não esconde seu projeto a presidência de ninguém também declarou “concordar plenamente com FHC”.

A tensão entre a cúpula tucana e Dória não vem de agora. Trata-se de uma crise que se arrasta desde as prévias a prefeitura municipal. Dória foi apadrinhado por Alckmin em SP, com o objetivo naquele momento de fortalecer sua ala interna no partido, entretanto a direção nacional, incluindo FHC, apoiavam o empresário Andrea Matarazzo (nome mais orgânico do tucanato paulista que deixou o partido). Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, disse que “Dória era uma desgraça para o Partido”, não apoiou a sua campanha municipal e junto com o atual senador Jose Anibal, protocolaram uma denúncia no MP acusando o atual prefeito em comprar votos nas previas partidárias.

Alckmin venceu aquela disputa, mas se depara agora com o feitiço virando contra o feiticeiro. O dilema tucano navega para uma rota de incertezas até 2018 onde o “apadrinhado” pode virar “padrinho”.

Na disputa tucana, ganha quem privatiza mais!

Para além do marketing pessoal, assim como a ofensiva contra os artistas apagando as obras nos muros da cidade e também fechando as brinquedotecas e espaços de lazer nas escolas municipais, a plataforma de Dória na prefeitura se resume na gestão das privatizações. Nem o Parque do Ibirapuera e mais 13 parques da cidade escapam das parcerias com a iniciativa privada, que Dória conduz como forma de agradar o empresariado. Recentemente, o alvo foram as marginais. Se Alckmin não ficou contente com o aumento da velocidade das marginais, que segundo pesquisa divulgada pela PM aumentou em 56% o índice de acidentes, junto com Dória especularam em reunião com o Grupo CCR (consórcio que administra estradas, rodovias e a Linha 4 do Metro privatizada) a possibilidade de conceder as marginais Tiete e Pinheiros.

Com a repercussão negativa pela ameaça da implementação de pedágio nessas vias expressas, aparentemente recuaram afirmando que se tratou apenas de uma reunião para debater uma “possibilidade”, porém que foi descartada. Mesmo assim, a sede de lucro para contentar o empresariado paulista concedendo a administração de serviços públicos continua a todo o vapor. Alckmin viajará para os Estados Unidos com o objetivo de oferecer um pacote que ultrapassa os 45 bilhões para concessões através de PPPs (Parceria Público Privada). Ou seja, na prática se trata vender SP para o capital internacional. O governo aposta na queda da taxa de juros a longo prazo para atrair os investimentos na infra-estrutura, áreas estratégicas no Plano de Desestatização, que abrange principalmente transportes e habitação. Aeroportos, hidrovias, estradas, estão no montante, mas o que vale destacar são as obras de expansão e as atuais estações do Metrô de SP. Além, dos editais abertos para a concessão das Linhas 05- Lilás e 17-ouro, com o valor mínimo no leilão fixado em 189,6 milhões, a previsão é que até 2018 também seja entregue a Linha 15 para administração privada, assim como já se iniciou estudos para a concessão das linhas 08 e 09.

Vale lembrar, que esse regime de concessões através das PPPs tem como mentor Fernando Haddad quando então era Ministro do Governo Lula do PT. A privatização, portanto, não está apenas dentro dos projetos tucanos, esse sistema que em síntese oferece “a um preço de banana” a construção e administração de serviços públicos para a iniciativa privada, garantindo a manutenção subsidiada através dos impostos pago pela população, e gera praticamente só lucro sem despesas as empreiteiras e consórcios, é a base de apoio estrutural aos escândalos de corrupção e caixa 2, seja nas delações da Odebrecht, seja no Trensalão Tucano arquivado em SP.

Reforça-se assim, nesse momento que a classe trabalhadora começa a assumir o protagonismo da cena política do país, com seus métodos de luta e mobilização, apesar dos freios colocados pelas suas principais direções como a CUT/CTB e Força Sindical, a necessidade de construir uma alternativa independente que derrote o plano de privatização tucano e desmascare a oposição parlamentar petista. Lutando por um plano de obras públicas, e pela reestatização das empresas e serviços públicos sob controle dos trabalhadores e da população, atacando assim o lucro das empreiteiras e consórcios, que com esse dinheiro controlam o congresso nacional a partir dos seus interesses, financiando as campanhas eleitorais e decidindo sobre as reformas para que os trabalhadores paguem a conta da crise.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias