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HIGIENISMO E CONTROLE EM SP | Doria condiciona adesão a programa para dependentes a teste antidoping

Pode parecer inacreditável, mas Doria fará uma exigência aos dependentes em crack para participarem do seu programa contra o vício: que passem no teste antidoping. Quem tiver qualquer tipo de recaída, será imediatamente eliminado do programa. A medida contraria todo tipo de opinião séria de especialistas em dependência química.

sexta-feira 13 de janeiro de 2017 | Edição do dia

O projeto "Redenção" de Doria (o nome é todo um espetáculo à parte) irá substituir o "Braços Abertos" de Haddad para atender dependentes químicos em crack que moram nas ruas do centro de São Paulo, na região conhecida como crackolândia.

O programa de Haddad tinha inúmeros problemas, e por diversas vezes a Polícia Militar reprimiu os dependentes, em ações comandadas por Alckmin, mas também a Guarda Civil Metropolitana de controle municipal era responsável por diversos abusos cometidos contra moradores de rua e viciados.

Contudo, o programa costumava ser atacado pelo que ele tinha de positivo, que eram as medidas fundadas nas opiniões de especialistas e a relativa autonomia que fornecia para os dependentes químicos, dando-lhes um salário (muito baixo para atender qualquer necessidade) e uma moradia. As críticas vinham de setores da direita, que viam o programa como um alento a que os usuários continuassem nas drogas com o "apoio" da prefeitura.

Doria resolveu acabar com a "mamata" e adotar um programa "linha dura" para os dependentes em crack. A ideia é exigir que para se manter vinculado ao programa, os seus aderentes tenham que fazer exames periódicos de urina, comprovando que não estão utilizando nenhum tipo de droga. Caso falhem no teste, serão eliminados.

A medida é contrária a qualquer conhecimento de alguém que lide com programas de reabilitação de usuários de drogas, que sabem que não se acaba com um vício tão profundo e cheio de questões fisiológicas e psíquicas entrelaçadas como é a questão do crack, particularmente quando se trata de pessoas em situação de rua, com pouco ou nenhum apoio e estrutura de amigos e família para conseguir largar o vício.

O psiquiatra Dartiu Xavier, ex-coordenador do Braços Abertos comentou a questão: “A pessoa vai acabar se desligando do programa. É preciso entender que as recaídas fazem parte do tratamento. Cerca de 90% dos dependentes passam por isso, o que não significa que estão voltando à estaca zero, apenas que derraparam na curva”.

A ideia de Doria de submeter os participantes do programa a testes antidoping não é nova, e faz parte também do programa de seu padrinho político, Alckmin, o Recomeço. Seu responsável, Floriano Pesaro, defende inclusive a repressão policial aos usuários como parte do "tratamento": "Não se gastou pouco nesta região nos últimos anos, não faltaram tentativas de ações conjuntas, mas, desta vez, temos convicção de que obteremos sucesso e sem intervenção policial no fluxo”.

O plano de Doria inclui até mesmo a atuação da Polícia Federal, provavelmente para reprimir o tráfico e os usuários. A política de reabilitação baseada na vigilância e repressão é a cara do PSDB, e contraria todas as medidas bem sucedidas e progressistas que já foram adotadas e, obviamente, destruídas pelo Estado, como o extinto "Consultório na rua", que previa uma abordagem em que os usuários decidiam se queriam ou não a ajuda, e que tinha como objetivo levar à população de rua o acesso aos serviços de saúde.

A visão de Doria e Alckmin faz parte de uma concepção em que as drogas e seus usuários devem ser criminalizados e combatidos, parte da política de guerra às drogas que há décadas mata a juventude pobre e negra nas periferias, enquanto continua trazendo enormes lucros para os capitalistas e a polícia.




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