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COLONIZAÇÃO DA PALESTINA | Diante da provocação de Israel a Autoridade Palestina ameaça romper acordos

Abbas afirmou isso em uma reunião de líderes palestinos. Desconsideraram todos os acordos firmados com Israel e os Estados Unidos se o novo governo, com Netanyahu no comando, cumprir sua promessa e avançar o plano de anexação.

sábado 23 de maio de 2020 | Edição do dia

O novo governo do Estado Nacional Judaico de Israel, a coalizão de direita e de centro-direita, onde Benjamin Netanyahu e Benny Gantz rodarão na posição de primeiro-ministro, tem como um de seus principais pontos de acordo o plano de anexação de 30% das terras palestina na Cisjordânia – o que inclui o Vale do Jordão, uma das áreas mais férteis da região.

Esse acordo é praticamente uma cópia do cinicamente chamado "Plano de Paz" que Donald Trump, na companhia de Netanyahu, apresentou em janeiro deste ano no Capitólio dos Estados Unidos. O anúncio desse plano, que não é mais que a superação do roubo descarado de terra dos palestinos, foi a principal razão da visita do israelense.

Antes do mundo entrar em crise devido à pandemia de Covid-19, essa era uma das cartas de Trump para agradar sua própria base reacionária pró-Israel.

Carta que foi mostrada novamente por seu Secretário de Estado, Mike Pompeo, no início deste mês, em sua viagem a Israel, onde, além do plano de anexação uma parte importante da Cisjordânia, também tentou limitar os negócios e investimentos da China na região.

Benny Gantz se curvando na frente de Mike Pompeo. Uma completa alegoria.

Nesta última terça-feira, em uma reunião de líderes da Organização de Libertação da Palestina (OLP), realizada na cidade de Ramallah, presidente da Autoridade Palestina, Mahmmoud Abbas – dirigente do Al Fatah, partido que comanda a OLP – afirmou que a Cisjordânia romperá os acordos, incluindo os de segurança, e sobre tudo estes, que a liderança palestina firmou com Israel e também com os Estados Unidos desde o acordo de Oslo para cá.

Lembremos que esse acordo foi assinado em 1993 pelo líder histórico da OLP, agora falecido, Yasser Arafat, e pelo então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, com a supervisão do sócio maior de Israel: os Estados Unidos. Bill Clinton era o presidente.

Nesses acordos, onde Abbas já era a mão direita de Arafat, surgiu a divisão da Cisjordânia nas áreas A, B e C, onde apenas a menor parte do território estava completamente nas mãos dos palestinos (a área A que representava 18 % do território, sob controle administrativo e policial da Autoridade Palestina).

Mas o direito ao retorno dos milhares de refugiados palestinos e a questão da soberania sobre Jerusalém não foram incluídos, mas sim ficou estabelecida a separação territorial entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e o exército israelense entre as duas zonas.

Essas ausências e ambiguidades do acordo deram origem, anos depois, à segunda grande intifada anos depois, no ano 2000.

Embora Abbas tenha sido enfático em suas declarações, outros líderes palestinos (como Ashraf al Ajrami, ex-ministro de prisioneiros palestinos, da Autoridade Palestina) em declarações para distintos meios de comunicação, como o jornal israelense Haaretz, esclareceram que o que eles afirmam é que a comunidade internacional, leia-se a ONU e os presidentes de outros países imperialistas – especialmente os europeus –, “exerçam uma intensa pressão sobre o governo hebraico para que detenha a anexação”.

Não parece fácil para o novo governo “de duas cabeças” avançar suas intenções colonialistas e continuar a roubar território palestino. O rei jordaniano Abdala II já alertou que, se avançar com a anexação, Israel também estaria avançando em um “conflito massivo com a Jordânia”.

Isto não é pouca coisa, considerando que a Jordânia é um dos únicos dois países árabes, junto com o Egito, que mantém relações diplomáticas com Israel.
O problema é que, avançando com o plano de anexação, todos os líderes árabes temem que o povo palestino, tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza (e inclusive os árabes israelenses, que são cidadãos de segunda categoria), volte a protagonizar manifestações, que possam superar a Autoridade Palestina.

Uma onda de lutas que provoque uma reação em cadeia que alcance os trabalhadores de seus próprios países. Temor que é compartilhado pelas principais potências imperialistas europeias.

Do outro lado do oceano, nos Estados Unidos - o aliado estratégico do país hebreu -, o candidato democrata à presidência: Joe Biden fez declarações também contra o plano de anexação, que Trump, seu oponente republicano, festeja. Não foi por acaso que, em uma reunião de liberais judeus, eleitores democratas, o ex-vice-presidente de Obama, declarou que qualquer “plano de paz” no Oriente Médio deveria ser resultado de um acordo bilateral.

Dia 1º de julho é a data agitada para Netanyahu e seu novo governo para iniciarem a anexação. Muitos perigos estão colocados nesse roteiro. Para o primeiro-ministro, por enquanto, é um bom cavalinho de batalha para que sua base de direita e o colonos estreitem fileiras atrás de sua liderança.

Em princípio, esse apoio político permite chegar com bom respaldo ao julgamento que começa dia 24 de maio, onde é acusado de fraude, corrupção e abuso de confiança.

Os perigos colocados por esse possível salto na colonização, que pode causar um tremor na geopolítica e um despertar da luta de classes, como uma reação dos povos daquela região, são muito profundos e com consequências imprevisíveis.

Algo que parece ser bem compreendido pelo representante do establishment democrata, candidato a presidente. Um firme defensor da existência do Estado de Israel.

Artigo publicado originalmente no La Izquierda Diário Argentina.




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