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Dez filmes no Maio Francês

Violeta Bruck

Dez filmes no Maio Francês

Violeta Bruck

Em um novo aniversário de Maio de 68, percorremos algumas experiências cinematográficas.

Em 1968, as lutas operárias e estudantis percorrem o mundo e geram um profundo impacto no âmbito do cinema. Novas práticas, novas ideias, novas imagens e debates surgem em todas as cinematografias e têm um grande pontapé no maio francês.

Na França de 68, o cinema se juntou com um grande protagonismo à luta. Importantes diretores junto a produtores, roteiristas, técnicos e estudantes participaram das assembléias e mobilizações. Durante a década anterior o movimento da Nouvelle Vague tinha semeado um questionamento ao modelo de cinema dominante e seus principais impulsores Jean Luc Godard, Claude Chabrol, Jaques Rivette, Francoise Truffaut, junto a Alain Resnais, Agnes Varda, Chris Marker se somam às iniciativas de transformação social.

Desde o início de 1968, os cineastas mobilizam-se, juntam-se ao movimento geral e apresentam também as suas próprias reivindicações. Todos os aspectos foram questionados e de conjunto desafiou-se a organização capitalista da indústria do cinema. Surgiram os "Estados Gerais do Cinema Francês", uma assembleia que integra mais de três mil pessoas, técnicos, diretores e trabalhadores da área que votaram a greve, elaboram projetos e cobrem os eventos. Em suas convocatórias proclamavam: "se quer a REVOLUÇÃO, por, para e no CINEMA, venha militar nos ESTADOS GERAIS DO CINEMA”.

No Festival de Cannes, que se realiza em Maio, a sala é ocupada para considerar a suspensão do evento como forma de manifestar a solidariedade com a luta.

Nestes dias agitados e nos anos seguintes, foram feitos grandes filmes que nos trouxeram até hoje a força e frescura dos acontecimentos. Partilhamos algumas das mais importantes:

A Chinesa, 1967

É um filme de Jean Luc Godard estreado um ano antes de maio. Relata as inquietudes por mudar o mundo de cinco jovens franceses que passam o verão em um departamento enquanto debatem teoria e política, influenciados por idéias de tendência maoísta e literatura comunista.

Longe do Vietnã, 1967

Sete diretores realizam em conjunto este documentário contra a intervenção dos EUA no Vietname. Participam Claude Lelouch, Agnès Varda, Jean-Luc Godard, Chris Marker, Alain Resnais, Joris Ivens, William Klein.

Cinetracts, 1968

São uma série de 41 curtas-metragens filmadas por cineastas franceses, como uma maneira de tomar ação direta no marco dos protestos. Duravam entre 3 a 5 minutos, filmavam-se em um dia, branco e negro, mudos, com câmeras de 16mm. Em seguida, os trabalhos eram projetados em escolas, centros vizinhos e fábricas tomadas. Eram anónimos e participaram vários autores, entre eles Godard, Resnais, Marker, Garrel, Gorin.

Grandes tardes, pequenas manhãs, 1968

É um documentário do fotógrafo e cineasta William Klein que realiza um registro direto de assembléias, debates, manifestações, barricadas e repressões. Consegue captar de maneira única o pulso diário dos acontecimentos das lutas operárias e estudantis com frescura e profundidade. Foi gravado no meio dos acontecimentos e montou-se e estreou anos depois

Um filme como qualquer outro, 1968

É um filme do coletivo Dziga Vertov que fundem Jean Luc Godard e Jean-Pierre Gorin no calor de maio francês. Recupera as imagens de arquivo das revoltas estudantis de Maio de 68, filmadas pelo grupo militante ARC em Paris, para montá-las junto às discussões entre três estudantes da universidade de Nanterre e dois operários da fábrica Renault-Flins.

Classe de luta livre, 1968

É um filme do coletivo Medvedkine, impulsionado pelo cineasta Chris Marker ao calor de maio. Ele relata a criação de uma seção sindical da CGT em uma fábrica de relógios por uma funcionária que realizou seu primeiro trabalho militante em 1968. Descreve o modo como Suzanne conseguiu mobilizar as outras mulheres da empresa, apesar da desconfiança dos dirigentes sindicais e das intimidações da patronal.

Está tudo bem, 1972

É outro filme realizado por Jean Luc Godard e Jean-Pierre Gorin no âmbito do grupo Dziga Vertov. Suzanne, uma correspondente americana em França, e seu marido Jacques, um diretor vanguardista vindo a menos, se vêem envolvidos em uma greve de trabalhadores em uma fábrica. Lutas, confrontos, ocupação e tomada de reféns. A crise que atravessa a sua relação coincide com a crise social e política, a luta de classes se faz presente em todos os cenários.

Olho por olho, 1972

Dirigida por Marin Karmitz, esta ficção se baseia em fatos reais inspirados nas lutas de maio e anos posteriores. Segue-se a luta de um grupo de operárias têxteis em França, que enfrentam condições de trabalho extenuantes, o acelerando o ritmo e os maus tratos. Quando duas colegas são despedidas, confrontam-se com o patronato e com a burocracia sindical para obterem as suas reivindicações. Ocupam a fábrica e tomam o padrão de refém, e neste processo dão-se conta da grande força que têm.

Com o sangue dos outros, 1974

É um filme de Bruno Muel e o coletivo Medvedkine, impulsionado pelo cineasta Chris Marker no calor de maio. Expõe o trabalho em cadeia na Peugeot. Som direto e imagem simples, ensurdecedor imagem. Isso é o essencial do império Peugeot: a exploração do trabalho humano. E fora da fábrica, a exploração continua. Grandes armazéns, supermercados, distrações, férias, alojamento, a própria cidade: todo o horizonte é Peugeot. A violência é diretamente percebida pelo espectador, que encontra rapidamente insuportáveis as sequências filmadas no interior da fábrica.

O fundo do ar é vermelho, 1977

O filme percorre os diferentes movimentos sociais e políticos que surgem na prévia e com a influência do maio francês. É um olhar internacional que apela a uma montagem reflexiva e ao resgate de arquivos que permitam manter viva a memória dos acontecimentos. Um ensaio cinematográfico com o inconfundível selo de seu autor Chris Marker.

Estas são apenas algumas das múltiplas produções desses anos na França, nos anos seguintes e até hoje continuam a ser feitos filmes sobre Maio que mostram a profunda influência destes acontecimentos. Entre elas se destacam Os sonhadores, Morrer aos 30, Os amantes regulares, O intenso agora, entre muitos outros.

Traduzido por Dani Alves.


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