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CRISE DO GOVERNO | Delação de Delcídio atinge Mercadante e aumenta crise do governo

Poucas horas após a homologação da delação premiada de Delcídio as suspeitas de que suasdenúncias atingiram mais políticos confirmaram-se rapidamente. Nos próximos dias o Esquerda Diário irá ler todas as 254 páginas desta delação que é uma das poucas publicadas na íntegra no extenso processo da Lava Jato que vai sendo vazado de pouco a pouco à mídia e tem a maioria das delações secretas, ou de conhecimento somente dos editorialistas dos grandes jornais.

Evandro NogueiraSão José dos Campos

quarta-feira 16 de março de 2016 | 02:07

A primeira vítima das denúncias de Delcídio atingiu em cheio o governo Dilma, mostrando que o ministro da Educação Aloízio Mercadante tentou calar Delcidio, seja pressionando-o a moderar suas ações ou até mesmo oferecendo dinheiro, fato que ele nega.

Homologação de uma bomba-relógio de um grande operador para os tucanos e depois para o PT

Após as manifestações de domingo, 13, ficou claro que a crise de legitimidade que atinge a política brasileira não terá solução fácil. Enquanto os cantos contra Dilma, Lula e o PT eram ponto comum dos manifestantes, tão pouco Alckmin e Aécio foram pacificamente recebidos. Esse quadro se completa com a publicação da tão aguarda delação premiada de Delcídio do Amaral, senador pelo Mato Grosso do Sul, ex-PT, antes ex-PSDB, preso em novembro passado, acusado de atrapalhar as investigações da Lava Jato, oferecendo suborno ao ex-diretor da Petrobras Cerveró em troca de seu silêncio;

Nesta terça, 15, Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou essa esperada delação e não serão poucos os desdobramentos. Logo de início, forneceu munição para ambos os lados da disputa pelo planalto central, pois enquanto golpeia fortemente o núcleo central do governo, por outro lado, também compromete o principal nome da oposição, Aécio Neves. Como resposta, o governo logo se concentrou nas negociações sobre Lula se tornar superministro de Dilma, mas a reunião entre Lula e a presidente não terminou com nenhum anúncio ainda de sua assunção.

Segundo Delcídio, Aloísio Mercadante o procurou buscando incentivar que não fizesse a delação, oferecendo ajuda para os gastos que estava tendo com advogados e dizendo que poderia interceder junto a Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e junto a Renan Calheiros, presidente do senado. Com isso, Mercadante, que é tido como político de confiança de Dilma, poderia ser investigado pelo mesmo crime que levou Delcídio à cadeia, a obstrução das investigações.

O próprio Delcídio tinha sido preso em situação muito similar, em flagrante, oferecendo ajuda para buscar Lewandoski e outros ministros do Supremo, além de farta mesada para a família de quem tinha sido seu gerente geral quando ele era diretor da Petrobras (quando ele ainda era tucano).

Outros trechos já divulgados pela mídia da delação de Delcídio atingem Dilma, Aécio e Cunha

Em outro trecho da delação, o ex-senador diz que Dilma teria nomeado Marcelo Navarro como ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) em 2015 também com o objetivo de frear as investigações da Lava Jato, impedindo que chegassem em Nestor Cerveró (ex-diretor da Petrobrás), preso ano passado por essas mesmas investigações. O mesmo Cerveró teria sido indicado por Lula para o cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora, empresa envolvida no esquema investigado pela Lava Jato, em 2008. Ainda de acordo com a delação de Delcídio, Lula teria pedido que ele atuasse para libertar o pecuarista José Carlos Bumlai, preso ano passado, assim como o empresário Fernando Soares (Fernando Baiano).

Sobre Aécio Neves, Delcídio mencionou o esquema de corrupção na hidrelétrica de Furnas, além de ter atuado para evitar que informações comprometedoras chegassem à CPI dos Correios, que investigava o Mensalão, em 2005. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também é citado, aparece ligado à aquisição ilícita da BR Distribuidora, entre 1997 e 2001. Outros pontos da delação mencionam Eduardo Cunha, que seria aliado do banqueiro André Esteves, também preso (e depois liberado) pela Lava Jato, além de esquemas de desvio de verbas na usina hidrelétrica de Belo Monte, favorecendo diretamente as campanhas eleitorais do PT e PMDB em 2010 e 2014, e ainda facilidades para empréstimos do BNDES para os frigoríficos JBS-Friboi, Marffrig e Bertim.

Essa breve passagem pelos principais pontos destacados pela mídia nas 254 páginas da delação de Delcídio passa pelos principais nomes da política atual, governo e oposição, e mostra como é generalizada a corrupção no sistema político, inclusive com menções ao senado e ao STF. A situação econômica nacional só tem se complicado, com recentes dados que mostram crescimento expressivo do desemprego, além do que o mero indício de que Lula assumiria um ministério no governo fez o dólar disparar. Essa situação, combinada à dificuldade que as principais figuras da oposição tucana tem tido de capitalizar o descontentamento popular aponta para um cenário de difícil solução como analisamos aqui.

Todos os trabalhadores e jovens que estão descontentes com o governo Dilma, todos que querem combater a impunidade de políticos e empresários, o que nós dizemos é que não poderá ocorrer de mãos de uma justiça ligada ao imperialismo, a políticos e empresários por mil laços, e que não tem ilusões de que figuras como Aécio, Alckmin ou mesmo Lula podem dar uma solução para o crescimento da inflação, do desemprego, a dificuldade de fechar as contas em casa, a retirada de direitos, como o seguro desemprego ou a dificuldade em se aposentar, todos esses trabalhadores estão certos.

Contra isso tudo, nós do MRT, Movimento Revolucionário de Trabalhadores, apostamos na possibilidade de que todo esse descontentamento disseminado entre os trabalhadores possa se converter em força política independente e tomar as ruas de fato, apontando uma saída contra essa democracia degradada, controlada por bandos corruptos e mercenários. Um movimento de trabalhadores que se inicie a partir das greves que tem enfrentado retiradas de direitos em todo o país, mas que também questione os privilégios de um Sérgio Moro, que recebeu um super salário de mais de R$ 80 mil e que nunca foi eleito por ninguém, assim como tantos outros que foram eleitos mas que deveriam ser substituídos imediatamente, tendo mandatos revogáveis.

Lutamos na CSP-Conlutas para que esta exija da CUT e demais centrais que rompam com o governo e impulsionem um movimento amplo de trabalhadores que lutasse contra os ajustes do governo e também o impeachment da direita teria forças de para impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, acabando com todos os privilégios dos políticos, que deveriam receber salário equivalente ao de um professor de escola pública, além da necessidade de redirecionar o orçamento, com o não pagamento da dívida pública para favorecer a saúde e a educação, entre outras medidas necessárias para que os trabalhadores e a juventude tomem em suas mãos o combate à impunidade bem como a luta contra os ajustes.




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