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ATO DE ATLANTA | Del Caño: “O ato de Atlanta mostrou a FIT como a oposição consequente ao ajuste de Macri”

Após o grande ato realizado na Cidade de Buenos Aires, o ex-candidato presidencial falou com o Esquerda Diário.

quarta-feira 23 de novembro de 2016 | Edição do dia

Foto: Enfoque Rojo

La Izquierda Diario: Qual a reflexão que você faz sobre o ato que acabam de fazer no campo de Atlanta?

Nicolas Del Caño: O ato da Frente de Esquerda (Frente de Izquierda, FIT em espanhol) foi um grande feito político nacional. Foi histórica a convocatória. Há mais de três décadas que não fazíamos uma convocatória da esquerda tão forte, com tanta gente.

Creio que apresentou, de forma muito contundente, a Frente de Esquerda como uma alternativa não só ao ajuste de Macri mas também para aqueles que colaboraram com essa política, como é a Frente Renovadora na Câmara de Deputado e a Frente para a Vitória, no Senado. Confirma-se que a FIT é a única oposição consequente ao Governo de Macri.

O ato também deixou claramente demarcada a denúncia à CGT pela trégua que oferece a esse Governo, deixando passar os demitidos, a queda do salário e os tarifaços. Em março, se colocou fortemente a necessidade de uma paralisação nacional ativa e um pano de luta.

LID: O ato teve uma forte concorrência em todo o país.

NDC: Sim, fomos mais de 20 mil pessoas e houve uma grande participação de delegações de todo o país.

Me parece importante destacar a participação da juventude. No ato mesmo tivemos essa ênfase e reivindicamos a mobilização dos jovens e os fenômenos que hoje existem a nível internacional, por exemplo nos Estados Unidos. Lá a juventude já se mobiliza, após o triunfo de Donald Trump, solidarizando-se com os imigrantes.

Nesse marco, no ato apresentamos uma perspectiva de luta anticapitalista e socialista, de clara diferenciação com aqueles agrupamentos reformistas que existem a nível internacional. Por exemplo, Podemos na Espanha ou o Syriza na Grécia.

LID: Em que sentido fala de se diferenciar?

NDC: Me refiro ao que se trata de agrupamentos que não apresentam um programa de Governo dos trabalhadores, de ruptura com o capitalismo. Pelo contrário, o que sustentam é uma perspectiva de gestão do Estado capitalista.

E isso tem suas consequências. Se olhamos o que ocorre na Grécia, vamos ver como terminou o Syriza, aplicando o ajuste que tanto exigia o FMI como a União Europeia. Isso passou, mesmo pesando o massivo rechaço do povo grego a esse ajuste.

Precisamente, para forjar uma alternativa anticapitalista, é necessário levar em conta a existência de fenômenos de mobilização e luta da juventude. Por exemplo, o que ocorre na França, aonde ao longo de grande parte do ano vimos importantes mobilizações que, inclusive, foram duramente reprimidas. Os processos como o do movimento estudantil chileno, ou o do Brasil. Falando do Chile, no ato nos acompanhou nossa companheira Barbara Brito, que acaba de ser eleita para a diretiva da Federação Estudantil do Chile, a FECh.

LID: O ato teve muitos momentos emotivos. Um foi quando falou Myriam Bregman, quem te acompanhou na fórmula presidencial da FIT em 2015.

NDC: Sim. Quando Myriam falou foi especialmente emotivo. Em seu discurso reivindicou o fato de que as mulheres vêm sendo protagonistas de movimentos de luta a nível internacional. Como se viu na Polônia, como se viu na França e também com o Ni Una a Menos (Nem Uma a Menos), aqui na Argentina, que também se estendeu para a América Latina. Esse também foi um fato muito destacado no ato.

Myriam destacou toda essa mobilização e organização das mulheres. Mas também apresentou a necessidade de unir esse grande movimento à classe trabalhadora, a partir de uma perspectiva anticapitalista e socialista. Isso é central, porque se trata da única forma de conseguir, efetivamente, a emancipação definitiva das mulheres, de terminar com todo tipo de opressão. Para isso faz falta a derrota do capitalismo a nível internacional, em todo o mundo.

LID: Como analisa o impacto do ato no cenário político nacional?

NDC: O ato posiciona a Frente de Esquerda de maneira muito importante diante de uma situação a nível nacional aonde se agudizarão os problemas que tem o plano de Macri.

Por exemplo, uma questão central é que o endividamento será mais custoso para o povo trabalhador. Temos que assinalar que a nova situação que existe internacionalmente, com o triunfo de Donald Trump nos Estados Unidos, pode significar um salto no ajuste.

E quando digo ajuste não me refiro somente ao setor estatal, mas também ao privado, aonde já há anúncios como o da Volkswagen que, ao nível internacional, vai despedir 30 mil trabalhadores, 7 mil somente entre Argentina e Brasil. Isso, por exemplo, pode significar o começo de uma resistência mais dura ao ajuste de Macri.

Assim, o ano que vem, que será um ano eleitoral, podem se agudizar ou podem se apresentar novos conflitos de setores importantes de trabalhadores, diante desta maior crise. A crise além disso se aproxima na América Latina, a nível internacional e, também particularmente, na Argentina.

LID: Frente a um cenário de resistência como este que assinalar que mostra o ato de Atlanta?

NDC: Em primeiro lugar, a constatação de que há setores combativos da classe trabalhadora que se preparam para resistir. Que já o vem fazendo, para ser mais preciso. Esses setores estão centralmente identificados com a esquerda, com a Frente de Esquerda. E estiveram em Atlanta.

Mas ao mesmo tempo demonstrasse que isso tem que servir também para seguir avançando com a recuperação das comissões internas, dos corpos de delegados e de sindicatos das mãos da burocracia.

Precisamente para se apresentar como uma alternativa para organizar essa resistência. Isso já o vemos fazendo, participando em todas as lutas que se deram esse ano.

Mas, como bem expôs em seu discurso meu companheiro Claudio Dellecarbonara, os sindicatos não podem ser um fim em si mesmo, se não que tem que ser um meio para organizar a todos os trabalhadores e coloca-los a serviço de derrotar ao Governo e as patronais.

Claudio também apresentou outra questão fundamental que mostrou o ato. Milhares dos trabalhadores e trabalhadoras que estavam presentes no estádio, além de ser parte de múltiplas lutas sindicais, se consideram militantes políticos da classe operária. Esse processo profundo, que se desenvolve na Argentina, já teve sua expressão nas eleições de 2015, onde centenas desses mesmos trabalhadores foram candidatos. Desenvolver e estender essa unidade entre a luta sindical e a luta política é uma grande aposta da Frente de Esquerda.

LID: Como repercute isso no cenário eleitoral que, ao que tudo parece indicar, marcará o 2017?

NDC: Obviamente, também nos preparamos para o cenário eleitoral. O ano que vem a Frente de Esquerda vai dar uma luta por mais deputados de esquerda. Temos cumprido um papel muito importante desde que chegamos ao Congresso e às legislaturas de todo país, como ficou demostrado na participação na luta dos trabalhadores. Essa batalha também vai seguir no próximo ano. E obviamente o ato é um grande apoio para isso.




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