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SAÚDE DA MULHER | Debate sobre saúde da mulher e aborto reuniu dezenas de estudantes na Unesp de Marília

terça-feira 13 de outubro de 2015 | 00:00

Militantes do Pão e Rosas haviam realizado um conjunto de reflexões sobre a questão do aborto no Dia Latino-Americano e Caribenho Pela Legalização do Aborto e publicado no Esquerda Diário um dossiê especial sobre o tema [1]. Na Unesp, em Marília e Araraquara, intervenções estéticas marcaram este dia. O debate ocorrido no dia 7/10 foi mais uma importante iniciativa, junto ao Centro Acadêmico de Terapia Ocupacional (CATO), reunindo por volta de 90 estudantes, contou com as falas das convidadas: Babi Zária, trabalhadora do Hospital Universitário da USP, que compõe a Secretaria de Mulheres do Sintusp e milita no Pão e Rosas, e Ingrid Woerle de Souza, estudante de medicina da FAMEMA e integrante do Coletivo Ana Montenegro de Marília.

Sobre a atividade, Rosiane Martinez, estudante de Terapia Ocupacional e integrante do CATO apontou que “O debate a respeito do aborto é uma questão de saúde pública, no entanto, pouquíssimas vezes o tema é abordado com seriedade nos cursos da área da saúde, por isso a iniciativa de organização deste debate pelo CATO e pelo Pão e Rosas foi um passo importante que contribui tanto à formação dos estudantes da área, quanto cumpre um papel em fomentar a luta por esta pauta tão importante às mulheres”.

Ana Carolina Fulfaro do Pão e Rosas, estudante de Ciências Sociais da Unesp, comentou a importância de uma atividade reunir estudantes de humanas e saúde: “Nós do Pão e Rosas há anos fomentamos esta discussão e damos um combate à criminalização do aborto internacionalmente, defendendo “educação sexual para decidir, contraceptivos legais para não abortar, e aborto legal, seguro e gratuito para não morrer”. Na Unesp de Marília nos mantemos também neste combate permanente, e até então havíamos feito diversos debates e ações com trabalhadoras e estudantes, mas raras vezes houve tanta abrangência e participação entre as estudantes da área da saúde, o que foi algo muito especial nesta atividade da última quinta-feira, esse intercâmbio”.

A luta pela descriminalização e legalização do aborto exige um debate no interior da área de saúde da mulher. Segundo Iaci Maria do grupo Pão e Rosas de Belo Horizonte: “Estatísticas apontam que são realizados cerca de 46 milhões de abortos anualmente em todo o mundo, aproximadamente 160 mil por dia. Entre esses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 19 milhões são feitos de maneira clandestina e insegura, resultando na morte de 70 mil mulheres por ano e mais 5 milhões que enfrentam sequelas do procedimento mal realizado. As leis restritivas são a causa fundamental dessas mortes”. [2]

No Brasil, mais de 1 milhão de mulheres abortam por ano, sendo esta uma das principais causas de morte materna [3]. As mulheres negras da classe trabalhadora são as mais afetadas. Como aponta Natalha Roberto, estudante de Obstetrícia da USP e militante do Pão e Rosas: “Segundo dados oficiais da Fundação SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados) do estado de São Paulo, a taxa de morte materna nos anos de 2002 a 2004 foi de quase 2200 mulheres entre 25 e 39 anos. Nesse total, mulheres negras morreram quatro vezes mais se comparado à morte de mulheres brancas. Ou seja, mais de 1700 negras morreram em consequência de causas maternas no estado de São Paulo nesse período” [4].

Mariana Galletti, estudante de Relações Internacionais da Unesp, e militante do Pão e Rosas, esteve presente na atividade, e apontou que: “A fala de Babi Zária foi muito importante para dar um panorama sobre a luta das mulheres a respeito do tema. Sendo contra ou a favor da legalização, os dados estatísticos mostram que os números estrondosos de mortes de mulheres por abortos clandestinos são um fato incontestável, colocando como um problema de saúde pública, sendo o aborto legalizado ou não. Babi apontou que a problemática do aborto é uma questão de classe, pois poucas mulheres possuem meios para um aborto mais seguro em clínicas clandestinas especializadas, que em geral o procedimento custa caro, mas as mulheres da classe trabalhadora pobre recorrem em geral a métodos inseguros, e não raramente recebem maus tratos quando por complicações são levadas ao atendimento no SUS, muitas vezes chegando ao óbito. Foi importante também a denúncia que Babi fez sobre o papel dos grupos feministas ligados ao governo no silenciamento da questão, e conivência com os pactos de Dilma com os setores mais conservadores da sociedade, responsáveis, por exemplo, por barrar materiais de educação sexual nas escolas, tão importantes para prevenir a gravidez indesejada. Com certeza a atividade ajudou na conscientização da problemática, reivindicamos e disputamos que as entidades estudantis e sindicais cada vez mais tomem para si esta luta. Um grande exemplo é o Sindicato dos Trabalhadores da USP, onde milita Babi, com a Secretaria de Mulheres, e com a militância no Hospital Universitário. Foi importante também a solidariedade de ao final da atividade termos tirado uma foto de apoio à luta protagonizada pelos trabalhadores da prefeitura da USP”.

1 - É possível acessar mais artigo na seção “Gênero e Sexualidade”.
2 - http://www.esquerdadiario.com.br/Aborto-legal-x-aborto-ilegal-a-realidade-pelo-mundo-afora
3 - Os dados estatísticos sobre o assunto são limitados, uma vez a prática seja proibida, mas é possível ter acesso parcial por aqui: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v37n98/a14v37n98.pdf
Para ler sobre aborto e saúde da mulher negra leia o texto de Natalha Roberto: http://www.esquerdadiario.com.br/Nos-mulheres-negras-precisamos-lutar-contra-a-criminalizacao-do-aborto
4 - http://www.esquerdadiario.com.br/Saude-e-mulher-negra-Quando-a-cor-da-pele-determina-o-atendimento.




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