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De proatividade à colaboração: desmascarando 5 expressões cínicas da exploração capitalista

O Esquerda Diário listou alguns dos termos e expressões mais infames que buscam cinicamente disfarçar a exploração e a precarização do trabalho. Colabore você leitor(a) nos comentários com as últimas novidades do seu local de trabalho em matéria de cinismo capitalista.

quarta-feira 29 de novembro de 2017 | Edição do dia

A linguagem também é um campo de batalha. Em plena ofensiva burguesa, os propagadores dos interesses desta classe fazem um verdadeiro jogo de palavras, produzindo criativas expressões e também novos significados para tentar adoçar e promover situações de precarização do trabalho que se multiplicam no calor da crise capitalista.

Assim como a máxima da identificação do trabalhador com a figura do empreendedor. O que se mostra muito funcional à doutrina neoliberal, pois ao atribuir essa caracterização de “empreendedor” ao trabalhador o responsabiliza individualmente por todas as circunstâncias que determinam sua vida. Assim, o capitalismo mostra sua enorme capacidade de se “vestir de seda” para encobrir a exploração e precarização com tintas progressistas. Vamos ao ranking:

Proatividade
Para o capitalismo, a proatividade é a capacidade do trabalhador em tomar mais iniciativas para ser mais explorado, ou seja, se refere aos sacrifícios que o trabalhador faz para canalizar suas energias e criatividade para melhorar a empresa para... o empresário.

Porém, só é proatividade na medida em que beneficia os interesses patronais pois caso a iniciativa do trabalhador for, por exemplo, se organizar com os demais na mesma situação e exigir melhores condições de trabalho, aí deixa de ser proatividade e vira mais um caso de “se não está feliz, pede pra sair”. Caso o trabalhador não entenda o recado, o próprio empresário estará de prontidão para mandá-lo embora com a justificativa dele “não se encaixar no perfil da empresa”.

Mentalidade de dono (também conhecido como “vestir a camisa”)
É uma das expressões máximas da proatividade capitalista e “empreendedora” e figura como competência requerida em 10 entre 10 entrevistas de emprego e avaliações de desempenho de funcionários. Trata-se de uma outra forma de atribuir e exigir do trabalhador as responsabilidades de dono da empresa sem, obviamente, o que seria a principal contrapartida: o valor no contracheque igual ao do dono.

Oportunidade para fazer networking e/ou currículo
Recorrente nos anúncios de estágio (uma das máscaras do trabalho precário), geralmente é acompanhado do discurso “agradeça a oportunidade que estamos te dando e a visibilidade e currículo que você ganha trabalhando para nós”. Costuma significar trabalhar de graça ou por um valor miserável de ajuda de custo.

“Vontade de aprender” ou trabalhador(a) com múltiplas competências
No contexto capitalista, uma característica que deveria ser expressão do desenvolvimento humano pleno se torna uma “cobertura” para mais exploração. Quando a linguagem empresarial apresenta como requisito e critério para avaliação de desempenho, é pra exigir do trabalhador que se desdobre em 2, 3 ou mais, para exercer diferentes funções. A empresa leva um funcionário que faz o trabalho de vários pagando um salário só.

Colaborador

Palavras como “trabalhador”, “funcionário”, “empregado”, foram simplesmente excluídas do vocabulário das empresas. Do estagiário ao funcionário efetivo, passando pelos terceirizados, são todos “colaboradores” na empresa. Essa substituição de termos, longe de ser um detalhe, é uma das tentativas mais cínicas de alimentar um discurso de que no capitalismo não existe exploração mas sim colaboração entre as pessoas. Segundo a definição no dicionário, colaborar pressupõe trabalhar em comum, pressupõe condições de igualdade ou equiparáveis entre patrões e empregados para alcançar um fim em comum. A ficção cai por terra quando fica claro que só uma das partes em “colaboração” é a que se beneficia de algo que é fruto do trabalho de todos. A diferença gritante entre o que cada trabalhador produz e/ou circula de riqueza com o seu trabalho e o que recebe em seu contracheque é uma prova disso.

Com a Reforma Trabalhista, por exemplo, os limites do cinismo são sistematicamente ultrapassados quando o discurso de “modernização das leis trabalhistas” significa nada mais do que retrocessos históricos e análogos à escravidão. Que o campo de batalha não se resuma somente aos termos e às palavras. Para isso, os próprios trabalhadores precisam reconhecer que está em suas mãos o poder e o controle de tudo que é produzido neste mundo. Logo, está em sua força consciente a capacidade de arrancar pela raíz esse mundo construído na base do sangue e suor de bilhões para benefícios de alguns poucos.




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