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De Norte a Sul, golpistas querem expulsar os filhos de trabalhadores das universidades

Na UERJ, na UNICAMP e no RS encontram uma resistência que pode se alastrar

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

sexta-feira 6 de outubro de 2017 | 09:20

Comecemos pelo Rio Grande do Norte, onde a refeição no Restaurante Universitário da UFRN hoje custa R$ 7,00 e esta semana a Reitoria da UFRN anunciou que este valor sofrerá um aumento para R$ 10,00, somado à ameaça de demissão de trabalhadores terceirizados e bolsistas.

Como se não bastassem os ataques às bolsas de permanência estudantil e iniciação científica vividos diariamente, como no caso do CNPq que teve um orçamento de 1,3 bilhões de reais aprovado e poderá gastar somente 730 milhões, ou a redução do número de circulares nas linhas inversa e direta, agora a Reitoria quer também tirar a possibilidade de se alimentar decentemente dos estudantes filhos de trabalhadores e principalmente negros, ou seja, em grande parte cotistas.

É esta a educação de Temer e dos golpistas.

Passando pela UFMG, onde o MEC congelou 31 milhões da UFMG em 2014, e hoje vive um déficit de 22,8 milhões, ao extremo sul, como na UFPEL, o que se ouve é que as universidades estão falindo. E o que era o começo da possibilidade de fazer uma graduação, ter condições de vida melhores que seus pais, visivelmente vai secando.

Apenas no ano de 2015, ano com o lema “Pátria Educadora” com o governo Dilma do PT, o orçamento do Ministério da Educação (MEC) sofreu uma redução de 10% do seu orçamento, 10,5 bilhões. Os jovens trabalhadores e negros que furaram o filtro social do vestibular, hoje veem ainda mais difícil sua permanência, e muitas vezes alimentam filhos e mantêm lares com uma bolsa de R$ 400,00.

A terceirização é uma forte expressão de como o modelo de educação aplicado pelo PT está completamente submetido às demandas do capitalismo. Ao passo que forma uma camada seleta de engenheiros, advogados, cientistas sociais, dos quais os negros não podem atingir nem os 10%, o faz tendo como base o trabalho semi-escravo, composto majoritariamente por mulheres negras, que garantem o funcionamento e a manutenção das instituições públicas de ensino superior com a universidade terceirizando seus serviços e não se responsabilizando sobre nenhum aspecto das suas condições de trabalho, pagando contratos altíssimos para grandes empresas de serviços que por sua vez mantêm as trabalhadoras com salários de miséria.

As meninas dos olhos da burguesia de São Paulo, Estado que concentra quase ⅓ do PIB nacional, já estiveram melhores. USP, UNESP e UNICAMP, as chamadas universidades de “excelência”, têm seus padrões de qualidade cada vez mais atacados. No ano passado foram cortados 40 milhões da UNICAMP, na USP foram tantos cortes que alas nos hospitais foram fechadas e planos de demissão voluntária implementados. Ao mesmo tempo que as Universidades Federais são usadas como laboratórios para uma educação superior mais precária, cada vez mais privatizadas, ao mesmo tempo, quando ataques como esses querem e são implementados nas estaduais paulistas, o padrão de “excelência”, também baseado no trabalho terceirizado de mulheres negras, cai, e o precedente para esgotar as federais ainda está posto.

A UERJ, a primeira universidade a adotar a política de cotas no país, hoje vive um cenário no qual nem mesmo o salário dos professores e trabalhadores é pago (não pagaram Agosto e nem o 13º ainda), a situação é que com bolsas atrasadas, sem reabertura do bandejão e nenhuma proposta para resolver o problema da alimentação nos demais campi e sem regularização dos contratos com as empresas terceirizadas que atingem centenas de trabalhadoras em sua maioria mulheres negras, sem calendário de pagamento, a UERJ teve greve de professores e estudantes votada no último dia 27 e o restaurante universitário ocupado pelos estudantes no dia anterior.

E ao passo que escrevemos este texto, os professores no Rio Grande do Sul ganham amplo apoio da população e vêm resistindo aos ataques do governo há mais de um mês. Ao mesmo tempo, pipocam lutas e greves pelo estado, como a recém deflagrada greve dos servidores de Porto Alegre e paralisações de garis na capital gaúcha. O Rio Grande do Sul vem vivendo um estado de crise muito agudo, mas com resistência crescendo neste segundo semestre. Este é o caminho que devemos seguir para resistir aos ataques na educação - o da luta - e os ventos do sul devem servir de inspiração para todos nós.

Os estudantes e trabalhadores da UNICAMP barraram o aumento do preço em seu de restaurante universitário. Após a aprovação do Princípio de Cotas com implementação para 2018, de acordo com o Reitor Knobel sua “prova de fogo”, ficou evidente que para a Reitoria e o PSDB que já cortaram 40 milhões em 2016 e vivem de supersalários (acima do salário do Governador) não importa se os estudantes filhos de trabalhadores e negros poderão se alimentar, assim como ficou evidente o quanto eles tremem quando os estudantes e trabalhadores se colocam em movimento.

A Campanha impulsionada pela Faísca na UFMG, escancara quem são os que pagam pela crise da educação: os trabalhadores e a juventude, em especial as mulheres, LGBTs e sobretudo negros. Os ventos do Sul e da UERJ deveriam se alastrar pelo país, para dar vazão à toda raiva e frustração sentida pela juventude que tem seus sonhos pisoteados, pela defesa de um projeto de educação que realmente esteja a serviço dos trabalhadores, em vez de serem estes que carregam nas costas o resultado da crise.

Para isso a juventude e os trabalhadores precisam se organizar, superando os freios das burocracias estudantis (como a majoritária da UNE) e sindicais, para unificar estas lutas em defesa de um projeto de educação não apenas diametralmente oposto ao dos golpistas, mas também radicalmente diferente daquele implementado nos anos de governo do PT, de mais subserviência aos grandes monopólios capitalistas da educação.




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