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PROFESSORES SÃO PAULO | DENÚNCIA: Reprovação nas perícias e adiamento das posses dos professores ingressantes em São Paulo

Vários professores relatam abaixo o que tem passado para ingressar na rede estadual de São Paulo.

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

domingo 22 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Depois de três longos anos de espera, os professores aprovados no concurso público para lecionar no Estado de São Paulo começaram a ser convocados. A lista de exames para apresentar na perícia é enorme e não dizem respeito à competência e nem mesmo à possibilidade para lecionar, no caso das mulheres a lista inclui até mesmo exame de papa Nicolau. Para além de desnecessários para a carreira docente, o governo do Estado de São Paulo deixa claro que não arcará com os custos dos exames e professores e professoras são obrigados a pagar do seu bolso para poder concorrer a essas vagas nas escolas públicas.

A situação já é bastante complicada, mas se agrava com as reprovações nas perícias. São centenas de professores que terão que fazer exames complementares para atestar que podem trabalhar, os novos exames também devem ser pagos por nós mesmos que em muitos casos teremos que esperar ainda mais alguns meses para passar por uma nova perícia. São 30 páginas com letras pequenas no Diário Oficial que carregam nomes e sobrenomes de professores que ainda não foram aprovados, em algumas escolas como em São Caetano, dos 16 novos ingressantes, 14 ainda estão passando por esse processo.

Isso se combina com o fechamento de salas em muitas escolas e atribuição compulsória para os professores que já estão na rede. Com menos salas de aula, os professores terão que complementar sua jornada em outras escolas que muitas vezes esperam os ingressantes que estão parados nos processos de perícia. Quando finalizado esse processo em meados de maio, os professores ingressantes podem se deparar com suas aulas já atribuídas para efetivos em busca de completar carga e terão que assumir, ao menos temporariamente, as aulas antes atribuídas aos categoria O.

Nesse artigo compartilharemos alguns relatos que expressam a revolta e a incerteza sobre o futuro de muitos de nós que já trabalhamos há anos no estado e que, em alguns casos adquirimos muitas doenças fruto do trabalho. Para o estado, os professores com contrato precário podem estar doentes, mas para assumir seu cargo não, por isso adiam as posses e reprovam uma parte de docentes que já comprovou há anos que sabe fazer o seu trabalho.

Eu mesma, que assino esse artigo, trabalho há 7 anos na rede pública e fui temporariamente reprovada na perícia por estar no dia do exame com a pressão arterial alterada. Já escolhi minha escola e agora terei que passar por mais três novas perícias, sendo que a última será em 13 de março. Com essa nova leva de exames que inclui M.A.P.A, ecocardiograma e teste ergométrico já gastei R$494,00 e sigo na incerteza se poderei tomar posse. Nenhum desses exames atesta sobre minha capacidade e possibilidade de poder lecionar.

Alguns relatos estão somente com as iniciais, pois além as humilhação e insegurança a categoria também sofre perseguição por parte do governo.

V.A. professora de São Bernardo do Campo – “Quero dar meu testemunho também. Moro em SBC e sou categoria O, enviei todos os meus exames para a perícia dentro do prazo estipulado, só consegui passar na perícia depois de quase 3 semanas, e quando passei o médico pediu pra refazer o exame de urina, que estava com uma alteração mínima e disse que por eu ter perda auditiva unilateral teria que passar com um especialista (otorrino), levei um laudo do otorrino sobre a alteração, o perito simplesmente disse que não entendeu o que estava escrito. Total descaso e falta de respeito. E pra piorar ainda marcaram a outra perícia complementar somente para o dia 13/03/17. Tô me sentindo muito prejudicada, a gente perde meio período pra escolher uma escola, gasta dinheiro para fazer os exames correndo, pedi demissão da outra empresa por causa desse concurso e ainda por cima corro o risco de perder a escola e as aulas por causa deste descaso e desrespeito. Gastei mais de 400,00.”

Márcia Regina – “Eu fui classificada inapta direto. Na verdade ate hoje não tive uma resposta concreta. Eu trabalho na esfera municipal, mas já dei aulas eventuais no Estado.”

Jones Assunção – “Nunca tive problemas de saúde que impedissem a atuação em trabalhar! Nem teste para ser Polícia (que exigem aptidão física!) é assim! Já estou indo para segunda perícia, até tomografia tive que fazer, e estou com medo de ser barrado nessa pois querem barrar geral.O meu caso deu uma "alteração" no Raio-X do tórax, é a primeira vez que encontram algo assim, aí me pediram para fazer tomografia de tórax e espirometria, pois acho que tenho bronquite, nunca vi isso! Querer barra por causa de problemas respiratórios (nem tenho certeza se tenho isso, pois nunca tive problemas de saúde!), ainda mais em uma metrópole tão poluída igual SP. Sem contar a demora para publicar no D.O o resultado da primeira (11 dias, e tive que ir novamente lá na Itupeva saber o motivo, pois saí da sala do médico só para aguardar o Apto). Sou da D.E de Taboão da Serra, mas leciono na cidade de Embu das Artes! As vezes desconfio de perseguição política, pois participava ativamente de manifestações, não duvido disso!”

Daris Souza – “Passei na primeira perícia em 23/12 e em 14/12 fiu publicada a suspensão de 120 dias para posse e nova perícia para 01/02/2017. Meus exames estão todos ok, acredito que isso seja por eu estar na rede como categoria F e ter ficado de licença de depressão depois da morte do meu pai em 2011. Enfim, já estou na rede há 18 anos e não sou a rainha das licenças, muito pelo contrário, entrei em 98 e até 2010 nunca tinha tirado uma licença. Abuso!”

Márcia R. “Fui barrada por não conseguir ler as letrinhas minúsculas, isso porque já tenho 17 anos de estado”

Maria Helena – “Eu não fui barrada mas fui enviada para o neurologista com relatório do neuro cirurgião que me operou há 20 anos atrás e não deu nada até hoje nunca tive nada como uso um cateter numa válvula que foi colocada no cérebro, isto foi detectado no raio X tórax ele desprezou o relatório do neuro cirurgião e pediu uma tomo e um eletroencéfalo sendo que o relatório do médico que foi solicitado pela própria perícia me considerou como apta porque já tenho este procedimento há 18 anos sem nenhum problema e foi tudo explicado no relatório. Estou fazendo os exames já fiz 1 hoje e amanhã farei o eletro gastando novamente 500,00 reais. E vou perder a atribuição segunda feira. Estou muito magoada mas no momento não sei o que fazer. Este país é tudo muito complicado. Até então estava fazendo os procedimentos normalmente mas eficiência e bom senso estão faltando a esses peritos e eu preciso trabalhar não posso ficar esperando a boa vontade de pessoas que parecem não estarem nem aí com a nossa classe já tão sofrida haja vista o gasto com exames.”

Durante toda essa semana o Esquerda Diário acompanhará as atribuições de aula e os problemas que aparecerão nas escolas. Mande sua denúncia e ajude a fortalecer o combate dos professores aos desmandos do governo do Estado de São Paulo.




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