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REPRESSÃO À MANIFESTAÇÃO NO RIO | Crônica de uma brutal repressão: PM é trabalhador?

Apesar de a mídia burguesa tentar camuflar a luta dos trabalhadores e da juventude contra o capitalismo e o avanço neoliberal, o dia 09 de fevereiro de 2017 já está marcado na história como um grande ato de resistência dos trabalhadores na defesa de seus direitos.

Valdemar SilvaMestre em Serviço Social - UERJ

sexta-feira 10 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Os trabalhadores da CEDAE iniciaram uma greve no dia 7 de fevereiro para lutar contra a proposta de privatização da empresa. Essa proposta começou a ser discutida na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Alerj, na quinta-feira, 09.

A Alerj, conhecida como a casa do povo, no entanto, está cercada por grades desde o final de 2016, quando iniciaram-se as investidas da contra-partida para a saída da crise: o famoso pacote de maldades, que dentre outros ataques, conta com plano de demissão voluntária dos servidores, arrocho salarial, aumento da contribuição previdenciária e, mais recentemente com o acordo fechado entre Pezão e Temer, a privatização da CEDAE.

A luta dos servidores contra o pacote de maldades fez nascer um campo de guerra no Centro da cidade do Rio de Janeiro, onde, a mando do Governador Pezão, o Batalhão de Choque da Polícia Militar tem reprimido intensamente os trabalhadores e a juventude. A luta dos trabalhadores da CEDAE, em especial, ou “Cedaianos”, como se intitulam nos seus gritos de guerra, vem ganhando proporções gigantescas contra a privatização da empresa.

O dia 9 de fevereiro foi um exemplo de luta que deve ser seguido pelos sindicatos e pela juventude. Mesmo após três grandes repressões na manifestação em frente à Alerj, centenas de trabalhadores da CEDAE retornaram gritando em coro “O Cedaiano voltou, o Cedaiano voltou”.

E aqui, peço licença para relatar em primeira pessoa os fatos mais marcantes desse grande campo de batalha contra os trabalhadores:

Enquanto eu cobria a brutal repressão para o Esquerda Diário, vi trabalhadores com a emoção à flor da pele dizendo que não queriam sua empresa privatizada e que queriam controlar eles próprios a empresa.

Vi um trabalhador da CEDAE gritar aos policiais que ele não era inimigo, mas o PM o ignorou, o xingou e ainda largou uma bomba em seus pés.

Encontrei diversos trabalhadores atingidos por balas de borracha no rosto, nas pernas e nas costas dizendo “nós só queremos trabalhar e alimentar nossas famílias”, “vocês podem tacar quantas bombas quiserem, mas não sairemos daqui de frente da Alerj enquanto não barrarmos essa privatização... a CEDAE é do povo”.

Dentre os milhares de manifestantes, encontrei alunos e professores da UERJ também lutando contra a precarização das universidades estaduais... mas vi também esses mesmos alunos e professores sendo brutalmente reprimidos pela PM.

Ouvi uma mulher questionar um policial se ele não tinha vergonha de defender o PMDB e, a única resposta do PM foi soltar “cala boca vagabunda”, seguido de um jato de spray de pimenta.

Ao escutar as falas emocionadas dos trabalhadores em meio à chuva de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, a pele encharcada de leite de magnésio arrepiava, mas o sangue esquentava de ódio aos policiais que não paravam de reprimir.

Vi a munição acabar e um bloco de policiais fingir que estavam recuando enquanto faziam sinal de calma com as mãos para os manifestantes que, retornavam em peso para frente da Alerj.

Porém, quando chegou uma viatura abarrotada de munição, a calma acabou e a repressão prosseguiu contra os trabalhadores.

As balas de plástico duro e perfurante não atingiram ninguém sozinhas... os policiais fizeram questão de atirar à queima roupa em secundaristas, jornalistas, cedaianos, professores e qualquer um que se atrevesse a voltar para os arredores da Assembleia Legislativa.

Duas mulheres manifestantes foram perseguidas até o Centro Cultural do Banco do Brasil, CCBB e, uma delas teve a arma de um PM do Choque apontada na cara enquanto o mesmo a xingava e mandava correr. Quando ela correu o PM atirou um bomba.

Na rua ao lado, enquanto um jornalista do Esquerda Diário ajudava um amigo que caiu no chão, o Choque os encurralou e disparou vários tiros. Um deles se alojou no braço do jornalista, que precisou passar por uma cirurgia.

Em outro ponto, um PM atirou num estudante de 18 anos que teve o abdome perfurado, atingindo o fígado e o estômago...

Enquanto isso, no ar condicionado dentro da Alerj, os parlamentares começavam a discussão da proposta de privatização da CEDAE.

Do lado de fora, como se diz nas quebradas da baixada fluminense e nos morros do Rio de Janeiro, a bala comia solta... a diferença é que nos morros e na baixada, as balas são letais e, o nome que se dá não é repressão, mas sim chacina.

Em meio a um cenário de guerra num Estado incapaz de dialogar com trabalhadores, as tropas enviadas para defender os interesses da burguesia não paravam de disparar bombas e balas de borracha... cansados de tanto apanhar, diversos trabalhadores aos berros questionavam: PM é trabalhador? PM É TRABALHADOR? AONDE?




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