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TRIBUNA ABERTA | Crítica aos fundamentos filosóficos mal disfarçados da ação petista: “pragmática”

terça-feira 16 de maio de 2017 | Edição do dia

O conceito de "práxis" é largamente conhecido.

De forma reduzida e simplificada podemos entender que o conceito de "práxis" é teleológico e diz respeito à capacidade cognitiva humana de agir orientada a fins. Ou seja, o homem cria uma ideação, um plano de ação, criando assim o que servirá de bases para a própria construção subjetiva e objetiva.

"Práxis" é um conceito marxista e, como todos sabemos, Marx defende uma práxis revolucionária.

Quando observada a prática petista fica evidente que ela não é, nem de longe, uma prática revolucionária. Não é revolucionária nem sua prática palaciana e muito menos suas práticas de base, sindicais e de movimentos sociais.

O petismo claramente não tem a ambição "de mudar o mundo", de revolucionar as estruturas que estão estabelecidas. Tal evidência afasta o petismo de forma abissal do marxismo cuja "práxis" em essência compreende, sabemos, um caráter revolucionário.

Mas, certamente, a ação petista é orientada por alguma determinada ideação e, por certo, compreende e atende a um plano de ação que suporta humanamente um caráter cognitivo teleológico, ou seja, que tem fins.

Cabe identificar algum fundamento da ideação petista que lhe justifique suas ações, que lhes remeta em determinada direção e não outra.

Considero, mais do que em qualquer formulação discursiva, que a própria prática fala claramente e por si mesma; a prática revela uma ideação determinada que se faz evidente nela mesma, digo na própria ação.

Tomo como exemplo de que a ação fala por si mesma o que fez demonstrado por sua prática um determinado personagem histórico: Che Guevara.

Mais do que em qualquer discurso que Che tenha proferido algum dia, sua ação foi sem disfarces uma ação revolucionária e, nesta própria ação, seu caráter teleológico, seus fins, se fizeram revelar de forma explícita, inocultável, tanto quanto sua ideação norteadora.

Faço, então, uma pergunta: na ação objetiva do petismo qual ideação teleológica se faz revelar de forma explícita?

Qualquer teórico de bar, leitor das mais variadas orelhas de livros, consegue com pouco esforço, observar que a prática petista, longe de ser revolucionária, sempre foi reformadora das estruturas tais quais são, consequentemente, conservadora das estruturas que ela reforma, portanto não revolucionária.

Em outros termos, por mais que o petista desfile de cima para baixo com uma bandeira vermelha, este desfile não lhes altera o caráter de sua ação, que não lhes confere ideação própria de uma práxis revolucionária, evidentemente.

Observada a prática palaciana intrinsecamente petista, mas principalmente se observada a prática petista voltada para as bases, tanto sindicais quanto em movimentos sociais, parece evidente que sua ideação teleológica é "pragmática".

Ao que sua prática indica, portanto, o petismo parece se identificar longínquo de uma ação revolucionária e insidiosamente próximo do pragmatismo.

Como se não bastasse a ação petista se revelar pragmática, ocorre com muita frequência de os próprios petistas se declararem pragmáticos, já vi tal declaração incontáveis vezes, tanto nos movimentos sindicais como nos sociais.

Dizem: ­ Sejamos pragmáticos !

O partido do "cara" do Obama, se assim é, deveria devolver a bandeira vermelha para quem lhe é de direito erguer, e deveria assumir este seu caráter pragmático. Mas é também devido explicitar o que é o pragmatismo e quem são os pensadores pragmáticos, além daquilo que defendem.

O pragmatismo é uma escola de pensamento que onde melhor se viu bem acolhida foi nos Estados Unidos da América, sim, no país de Obama para quem o Lula é "o cara".

Sāo pensadores pragmáticos aqueles de um clube metafísico, como o lógico Charles Sanders Peirce, o psicólogo William James e o jurista Oliver Wendell Holmes, congregando depois outros acadêmicos importantes dos Estados Unidos.

Segundo essa doutrina metafísica, o sentido de uma ideia corresponde ao conjunto dos seus desdobramentos práticos, o que nāo se opōe ao utilitarismo.

Não farei uma crítica ao pragmatismo, bem melhor já fizeram tal crítica figuras do calibre de Bertrand Russell e Max Horkheimer, nada menos.

Bertrand Russell foi implacável contra o pensamento pragmatista, identifica nele inconsistências lógicas como jogos de palavras e afirmações tautológicas. Para Russell o pragmatismo adota a utilidade como critério de verdade sem apresentar nenhuma razão para que a verdade e a utilidade andem juntas. Ainda acrescenta que adotar a utilidade como critério de verdade nem mesmo é útil, porque é muito difícil descobrir se uma crença é útil, menos difícil desvelar se ela é verdadeira.

Horkheimer, por sua vez, critica o pragmatismo ao afirmar que quando ele define todo o meio pelo fim que pretende atingir cria uma sociedade que não dá valor à reflexão e, por isso mesmo, segundo Horkheimer, é que foi fundado e se tornou tão popular nos Estados Unidos.

O representante maior do pragmatismo, Charles Pierce, em sua obra Escritos Coligidos, sem acanhamento e com fundamentos parcos, ataca frontalmente a Friedrich Hegel, a ponto de escrever sobre Hegel em tom de deslavado deboche.

Pergunto aos petistas:

Como conciliam sua prática teleológica pragmática com a aparente consideração que exibem por pensadores que elevam a dialética hegeliana em uma das maiores considerações possíveis?

É sem dúvida bastante improvável uma conciliação entre Pierce e Hegel, mas fazer “conciliações” surpreendentes nunca foi um problema para o petismo. Afinal, conciliar o inconciliável se tornou uma marca da prática petista, talvez porque lhes seja útil. Pragmático.

. Pierce, Charles. Escritos Coligidos

. Horkeimer, Max. O Eclipse da razão

. Russell, Bertrand. Philosophical Essays


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