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PERU EM CHAMAS | Crise política: Parlamento nomeia Mercedes Aráoz como presidente do Peru, Forças Armadas apoiam Vizcarra

Depois que o fujimorismo e as outras forças parlamentares de direita decidiram juramentar a Mercedes Aráoz como "nova presidente da república", as forças armadas e policiais reconheceram Martín Vizcarra como o verdadeiro presidente peruano, o que significa que a maioria parlamentar perde todo o apoio.

José RojasMilitante da Corriente Socialista de las y los Trabajadores "CST" do Peru

quarta-feira 2 de outubro de 2019 | Edição do dia

A crise política precipitou-se na segunda-feira, quando, em uma medida desesperada e para neutralizar a dissolução parlamentar anunciada pelo presidente Vizcarra, parlamentares fujimoristas e outras forças como a APRA aceitaram o questionamento de confiança solicitada pelo executivo (que anteriormente tinham rejeitado) e impôs uma medida de vacância ao presidente, que, com 86 votos a favor, acabou se tornando uma sanção e desqualificação por um ano do presidente. Isso levou a maioria parlamentar a acabar nomeando e juramentando a vice-presidente Mercedes Aráoz como nova presidente que, muito solicita ao pedido dos fujimoristas e da APRA, aceitou durante a noite ensaiando um discurso conciliatório com seus oponentes.

O congresso ignorou a decisão presidencial o que gerou muita ansiedade em meio a população e aumentou a raiva contra o fujimorismo e seus aliados, pois mostrava suas intenções de manter o poder parlamentar.

Martín Vizcarra convocou uma reunião urgente no palácio do governo para representantes da polícia nacional e depois para o alto comando das forças armadas peruanas, com quem ele realizou uma reunião que durou mais de quatro horas. No final da mesma e depois da meia-noite, oficiais do exército e assessores presidenciais tornaram público seu total apoio a Martín Vizcarra, que horas antes passara a nomear Vicente Zevallos como novo premier, pois, de acordo com a lei atual, se o terceiro questionamento de confiança for rejeitado, o gabinete presidido por Salvador del Solar imediatamente cai e exige mudança, como fez o presidente em exercício.

Da mesma forma, à noite, o anúncio da dissolução do Congresso apareceu no jornal oficial El Peruano e também anunciou o chamado às eleições parlamentares para 26 de janeiro de 2020. O presidente formalizou sua postura e mostrou que não haveria como voltar atrás. Se as coisas assim acontecerem, Vizcarra continuará assumindo as funções de presidente da República e a maior parte do parlamento será substituída pela comissão permanente do congresso, composta por representantes das diversas bancadas, até as novas eleições parlamentares serem realizadas em 26 de janeiro do ano que vem.

Os congressistas Fujimoristas e seus aliados tentaram entrincheirar-se no parlamento para lutar contra o executivo assim, à noite eles enviaram uma comissão parlamentar acompanhada por um funcionário público para entregar a notificação de sanção ao presidente, que não foi aceito pelos policiais que guardavam o complexo presidencial. Isso e a rejeição popular do fujimorismo e da maioria parlamentar mostram o crescente isolamento dessa força política que concentra em si as consequências da profunda crise que está ocorrendo hoje no Peru.

Dessa maneira, e resolvendo esta crise em favor de Vizcarra, como vem ocorrendo até agora, o terreno será pavimentado para o presidente manter e expandir suas posições de poder sobre o executivo e o parlamento, o que facilitará a implementação de várias iniciativas políticas.

Embora exista uma grande rejeição popular ao fujimorismo, que foi expressa ontem e hoje até altas horas da manhã em marchas e comemorações em várias regiões do país, não podemos esquecer que entre fujimorismo e o executivo - presidido por Martín Vizcarra – só existem diferenças de forma, uma vez que, em essência, ambos os setores representam os interesses dos empresários e seu atual confronto, que levou à dissolução do parlamento, é na verdade uma disputa por quem controla o aparato e os fios do poder do Estado, que é regulamentado pela atual constituição de 1993, que foi imposta por Alberto Fujimori para regulamentar os saques neoliberais. Por esse motivo, e para além dessas mudanças no nível do parlamento, não esperamos nada do governo de Martín Vizcarra nem lhe damos a menor parcela de confiança, chamamos a população e os trabalhadores a se organizarem e continuarem lutando contra as medidas de ajuste que certamente virão das mãos deste governo, como vem ocorrendo até agora.




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