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Crise no Equador: o que significa o silêncio de Alberto e Cristina

No país sul-americano já se contabilizam centenas de presos, dezenas de feridos e três mortes, no marco da repressão contra as manifestações que rechaçam o plano de ajustes de Lenín Moreno e do FMI. A direita continental apoia o presidente. A esquerda se solidariza com a mobilização popular. Os motivos do silêncio dos candidatos da Frente de Todos perante o que vem à Argentina.

quinta-feira 10 de outubro de 2019 | Edição do dia

No momento de escrever esta matéria, a situação do Equador comove a América Latina.

Há dias que uma forte manifestação social com mobilizações massivas, greves e paradas emergiu como grande resposta popular ao anúncio de um pacote de ajustes que o presidente Lenín Moreno colocou em marcha a pedido do FMI.

O estopim da revolta foi a liberação do preço dos combustíveis, que gerou aumentos de até 123 por cento, ainda que o “pacotão” inclui também planos de reforma trabalhista e tributária.

Apesar do rechaço popular, o presidente não apenas confirmou que não irá retroceder com as medidas, como decretou estado de sítio, toque de recolher, deu carta branca para uma forte repressão e transpassou a sede do governo de Quito para Guayaquil. Já se tem centenas de detidos, dezenas de feridos nas mãos das forças de segurança e três mortos no marco da repressão.

Neste contexto, distintos sujeitos da política internacional têm começado a se pronunciar sobre o tema. Estados Unidos, por suposto, não condenou os planos de ajustes do FMI, mas sim a manifestação social, através do subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Michael Kozak.

Representantes do grupo de Lima que concentra a direita regional, têm se pronunciado no mesmo sentido. Assim o têm feito, por exemplo, Sebastián Piñera, presidente do Chile, ou o golpista venezuelano Juan Guaidó que, igual a Lenin Moreno, acusou Nicolás Maduro de estar por detrás das manifestações, negando a realidade de descontentamento de milhões com os planos de ajuste.

O silêncio ensurdecedor de Alberto Fernández e Cristina Kirchner

Neste marco continental, se assinala duplamente o silêncio que, até a hora de publicar esta matéria, mantêm os candidatos a presidente e vice da Frente de Todos ante a gravidade da situação. Algo similar se havia dado meses atrás ante a intentona golpista na Venezuela.

Vale recordar que a ex-presidente Cristina Kirchner havia saudado calorosamente o triunfo de Lenín Moreno nas eleições. Na sua conta de Twitter, havia comunicado que “Acabo de felicitar por telefone o novo presidente eleito do Equador, companheiro Lenin Moreno. Em quente e afetuoso cumprimento, me transmitiu sua convicção de que esta vitória não é apenas para o Equador, mas também para toda a Pátria Grande. Meu afeto de sempre ao povo equatoriano”

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A história, por suposto, não teve nada de bom para o povo equatoriano. O presidente apoiado por Cristina Kirchner não trouxe boas notícias para a “Pátria Grande”, mas antes foi um forte repressor e aplicador dos planos do FMI.

Sem embargo, até o momento a enorme gravidade da situação não tem levado a Cristina Kirchner a denunciar seu aliado, mas antes a acompanhar em um silêncio cúmplice.

Esta localização internacional se complementa também com a função de Sergio Massa, candidato da Frente de Todos na província de Buenos Aires, durante seu giro pelos Estados Unidos. No país do Norte, Massa se submeteu às exigências imperialistas e saiu a denunciar que a Venezuela “é uma ditadura”. Mais precisamente, disse que “quando Alberto Fernández refere-se ao informe de Bachelet, que fala de violações sistemáticas dos direitos humanos, está descrevendo uma ditadura e esse é o nosso pensamento”.

Será Alberto Fernandéz um futuro Lenín Moreno?

Dado que todos os planos com o FMI terminam da mesma maneira, a Argentina começa a se ver no espelho do Equador.

Longe das promessas eleitorais, a realidade é que o enorme endividamento público condiciona o futuro próximo do país, cujas grandes maiorias já estão fortemente golpeadas por níveis de pobreza recorde (35,4%), crescimento do desemprego e diminuição salarial.

Alberto Fernández, quem com toda a probabilidade será o próximo presidente, já adiantou que não romperá com o FMI, que irá renegociar a dívida.

Dado que a “reperfilação” não será gratuita, é necessário ver também quais serão as exigências da outra parte. Esta semana, Kristalina Georgieva, a nova presidenta do FMI, adiantou quais são seus planos para os chamados países emergentes: flexibilização do trabalho, ajuste fiscal, abertura comercial, privatizações e desregulamentação financeira.

Nesse cenário, o silêncio cúmplice de Alberto Fernández ante as consequências dos planos do FMI no Equador não adianta nada de bom senão um grande aceno ao capital financeiro e seus planos. Será ele o futuro Lenín da Argentina?

Como dica, vale revisar as declarações do futuro presidente argentino, que vem pedindo reiteradamente para sair das ruas e se pronunciou contra as greves como as que haviam anunciado os pilotos da Aerolinhas Argentinas. Se o Equador adianta nosso futuro, já sabemos de que lado estará frente as manifestações o Alberto Fernandéz.

Por via de dúvidas, contra a mobilização popular, vai preparando um Pacto Social com os empresários que demitem e ajustam e com a CGT e a CTA que deixaram passar todos os ataques de Macri. Serão os seus aliados também votantes em série das leis macristas como Massa e governadores feudais, obscurantistas e “sojeiros” como Juan Manzur e Omar Perotti.




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