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CRISE POLÍTICA | Cresce a rejeição a todos políticos e até mesmo ao STF e à Lava Jato

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sábado 26 de agosto de 2017 | Edição do dia

Pesquisas mostram o aumento da rejeição a políticos e um recorde de desaprovação das instituições. Como essa constatação, empiricamente comprovável nas ruas, pode trazer estabilidade (burguesa) ao país? Podem as reformas de Temer garantir não só o sorriso do pato da FIESP mas a aceitação dos “escravos modernos”, os assalariados, com cada vez menos direitos e mais descrentes das figuras políticas e das instituições, até mesmo do judiciário?

De Dallagnol a FHC passando por Lula e Temer a avaliação negativa cresce. Até mesmo um filho do marketing empresarial como Doria tem sua rejeição em crescimento.

Temer se aguentou depois de reiteradas investidas do consórcio Globo-Fachin-Janot, conseguiu não só sobreviver como emplacar ataques. Aproveita a traição das centrais sindicais à greve geral de 30 de junho e o absoluto silêncio atual para tentar emplacar privatizações que sirvam ou para abrir o caminho para a reforma da Previdência ou ao menos para oferecer algo para agradar ao sempre sedento "mercado".

Estas conquistas burguesas não se traduzem, entretanto, em maior popularidade dos políticos patronais e nem mesmo das instituições.

Aumenta rejeição às instituições

Diz o relatório de pesquisa do IBOPE: “A confiança na instituição presidente foi a que apresentou a variação mais expressiva: de 30 pontos em 2016 para 14 neste ano. A segunda queda mais acentuada foi na instituição governo federal: de 36 para 26. (...) Assim, o Índice de Confiança Social em 2017 fica em 52 pontos, mesmo patamar do ano passado (51). A média permanece estável, apesar da queda das instituições políticas, que foram compensadas pelo crescimento na confiança das Igrejas, polícia, bancos, meios de comunicação e escolas públicas”.

A conclusão do IBGE é um tanto apressada no que se mostra de "fortalecimento" das instituições da "sociedade civil" pois as igrejas caíram de 76% em 2009 para 72% em 2017, mas mesmo assim a disparidade nos índices e a nula credibilidade da política salta aos olhos. Uma grande novidade em país presidencialista foi o feito do que Temer conseguiu produzir à Presidência da República.

Temer está conseguindo a proeza não só de ter uma rejeição maior a de Dilma como está arrastando a Presidência da República junto a seus abissais níveis de aprovação, derrubando a credibilidade da instituição mesmo se tomarmos por comparação o recorde negativo de julho do ano passado em meio a todos trâmites do impeachment.

Mas a "façanha" de Temer acontece ao mesmo tempo que continuam sem credibilidade outras instituições como o Congresso, os partidos e crescentemente até mesmo o judiciário. Veja abaixo um gráfico feito a partir dos dados da pesquisa do IBOPE:

Se as instituições estão mal nem dizer os políticos

A perspectiva de substituição de Temer não parece conferir novas balizas seguras para o regime.

Todos políticos mensurados pelo instituto IPSOS têm maior rejeição que aceitação. As únicas exceções mensuradas foram Luciano Huck, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro.

Ou seja, todos políticos, incluindo o procurador Dallagnol, o procurador geral Janot, ministros do STF, todos tem maior rejeição que aceitação. Mesmo Sérgio Moro que ainda goza de aprovação maior do que rejeição viu sua rejeição aumentar 9% em só um mês, alcançando níveis nada unânimes de 37% de rejeição (resultado maior que a que a intenção de voto em Lula por exemplo).

Vejamos o resultado de aceitação versus rejeição em ordem do mais rejeitado ao menos:

(número negativos indicam rejeição maior que aceitação)

Temer: - 90%
Eduardo Cunha: -90%
Aécio: -88%
Renan: -83%
Serra: -71%
FHC: -69%
Rodrigo Maia: -69%
Gilmar Mendes: -64%
Dilma: -61%
Alckmin: -59%
Meirelles: -59%
Ciro: -52%
Crivella: -52%
Tasso Jereissati: -51%
Nelson Jobim: -50%
Skaf: -48%
Marina: -41%
Edson Fachin: -40%
Bolsonaro: -35%
Lula: -34%
Doria: -33%
Dallagnol: -32%
Janot: -30%
Carmen Lucia: -25%

Luciano Huck: + 2%
Joaquim Barbosa: +11%
Moro: +18%

Na política não há vazio. O fortalecimento de instituições não democráticas como o exército, a polícia, a mídia, as igrejas como aponta a pesquisa do IBOPE mostram que esse descrédito geral pode dar lugar a “novidades” com décadas ou mesmo séculos de velhice.

Está claro que as conquistas da burguesia para aumentar a exploração dos trabalhadores e destruição de direitos sociais, como a PEC 55 faz com a saúde e educação, gera tapinhas nas costas nos convescotes da high society e possivelmente uns cheques para financiar campanhas futuras, mas disso a garantir e formar uma nova hegemonia parece faltar “feijão” ao regime político e suas frações. Conseguir reformas e conseguir legitimidade são coisas muito diferentes. Não à toa tanto especulação em tentar criar um sistema político eleitoral mais blindado do sufrágio, como as discussões de "distritão", "distrital" e até mesmo sobre "parlamentarismo".

Essa instabilidade na política e não aprovação das medidas de ataque (mensurável em diversas pesquisas de opinião) não é garantia de que as coisas rumem a esquerda e favoravelmente aos trabalhadores. Nunca uma pesquisa irá impor o fim das demissões, a rejeição de uma proposta defendida pela FIESP. Isso é arrancado, conquistado.

As centrais e o PT, atuam para deixar passar todos ataques, em primeiro lugar a nefasta reforma trabalhista. O silêncio frente à reforma deu ânimo a Temer e Meirelles começarem uma onda de anúncios de privatizações.

Toda essa crise de representatividade que se soma à crise econômica e social do país, traços marcantes da situação política, podem ser aproveitadas pela esquerda anticapitalista e revolucionária superando a velha conciliação lulista, vaiada por lulista no seu bastião nordestino. Do contrário, os ataques de Temer se consolidarão e com o tempo haverá a mídia e os empresários com seus Dorias ou Luciano Hucks, as igrejas com seus Crivellas, o judiciário com Moro, ou mesmo um Bolsonaro aí à espreita, mesmo que com crescente rejeição. As oportunidades existem, mas precisam ser aproveitadas.




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